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publicado dia 1 de fevereiro de 2023

Mobilidade urbana: como tornar as cidades mais seguras para as crianças?

Reportagem:

Como tornar os espaços das cidades mais acolhedores e seguros para as crianças? Questões como mobilidade urbana, planejamento de políticas públicas e cidadania entram em cena quando o assunto é ocupação das cidades e infância. O período de retorno às aulas, em especial, nos ajuda a refletir sobre os deslocamentos realizados pelos estudantes e suas famílias nos territórios. 

Realizado entre 2019 e 2020, o estudo Primeiros Passos: mobilidade urbana na primeira infância confirmou que o transporte público e o deslocamento à pé são centrais nessa discussão: juntos, são responsáveis por 80% das viagens de crianças e acompanhantes até as escolas. Em muitos centros urbanos, porém, ainda há ênfase no transporte particular no desenho de ruas e políticas públicas. 

Arquiteta e urbanista especializada em mobilidade ativa, Meli Malatesta acredita que ações de incentivo do direito à cidade pelas crianças são positivas e viáveis. 

“Essas iniciativas são didáticas e ajudam a preparar o cidadão de amanhã. É uma maneira de mostrar que o espaço público não é feito só para o automóvel”, afirma a doutora pela USP. Além disso, a volta às aulas é um bom momento para discutir sobre mobilidade ativa e iniciativas como a restrição do trânsito nos arredores de escolas. 

A medida já existe em cidades como Paris, na França, e Barcelona, na Espanha. Em ambas, o trânsito fica restrito nas imediações das escolas. Desde 2020, a capital francesa já fechou 168 ruas para os carros, impactando 204 escolas em diferentes bairros. 

Para a especialista, independente da localização da unidade escolar ou da classe social dos estudantes, reduzir ou impedir o trânsito de automóveis no perímetro escolar é uma medida importante. “A restrição aumenta não só a segurança do trânsito, mas também a segurança de maneira geral”, explica ela. 

Mobilidade ativa escolar 

Em Belo Horizonte (MG), oito escolas da rede municipal transformaram a relação com o deslocamento por meio do projeto Carona a Pé, iniciado em 2018.  Organizada pela Empresa de Transporte e Trânsito de Belo Horizonte (BHTrans) em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (SMED), a iniciativa busca revitalizar a circulação pelo espaço urbano. O principal objetivo, de acordo com o site do projeto, é incentivar que grupos de crianças e seus cuidadores caminhem juntos até a escola, usufruam de outros espaços urbanos e construam uma nova relação com a cidade onde vivem.

Para Meli, a ação ajuda a tirar as crianças da “redoma de vidro”: “É iniciativa edificante, porque ensina a criança a usar o espaço público, observar e vivenciar a cidade”, afirma a autora de livros como A Rede da Mobilidade a Pé (Editora Annablume) e Pé de Igualdade (Editora Prisma). É também um exemplo prático de mobilidade ativa escolar. 

Caminhar, correr ou pedalar são exemplos de mobilidade ativa, isto é, aquela diretamente relacionada ao corpo como meio de transporte ou deslocamento. Na América Latina, cidades como Bogotá e Medellín, na Colômbia, também são referência em mobilidade ativa escolar. 

A urbanista lembra que, em outros países, muitas crianças já têm a oportunidade de vivenciar o espaço urbano com mais liberdade e segurança por meio do uso da bicicleta, por exemplo. “Na Holanda, Suíça e Dinamarca há boa infraestrutura cicloviária”, cita ela, lembrando que tais transformações dependem também de vontade política. “Aqui, muitas vezes, o pensamento dos tomadores de decisão está distante desse tipo de política bem-sucedida”, lamenta. 

Intersetorialidade em prol da mobilidade ativa e das infâncias 

A articulação entre diferentes setores do poder público e da sociedade civil também são fundamentais para o avanço da mobilidade ativa e da discussão sobre o direito à cidade na infância.

Afinal, imaginar e construir uma cidade mais inclusiva e segura não é só tarefa da área de transportes: envolve também aspectos como segurança pública, meio ambiente, saúde e educação.

“É preciso medidas que vão desde reduzir a velocidade nas vias até redesenhar a cidade com mais justiça, com redistribuição dos espaços públicos em prol da mobilidade ativa”, explica Meli. 

“Se você tiver uma cidade na qual as pessoas sejam estimuladas a ocupar os espaços públicos, a se exercitarem e desenvolverem relacionamentos, teremos uma cidade mais saudável, sustentável e segura, com pessoas felizes”, conclui.  

 

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