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publicado dia 18 de janeiro de 2021

Para diminuir violência em Almirante Tamandaré (PR), escola e equipamentos formam rede de proteção integral

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O município de Almirante Tamandaré (PR) já esteve entre as 10 cidades mais violentas do Brasil entre as que possuem mais de 100 mil habitantes, de acordo com o Atlas da Violência 2016, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). As escolas, enquanto parte viva da comunidade, também tinham seus espaços permeados por essa violência, que se manifestava de diferentes formas: nas agressões e conflitos, na baixa aprendizagem e nos olhares e corpos de crianças e adolescentes vítimas desse contexto.

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Diante desse cenário, em 2017 a Secretaria de Educação da cidade convocou as escolas para refletirem sobre seu papel enquanto equipamento público que acessa, diariamente, quase a totalidade de crianças e adolescentes do território.

“Precisamos endereçar essas questões, não no sentido de ocultar a violência, mas de trazer isso como pauta e propor soluções. E isso é função da escola, porque não adianta pensar em aprendizagem sem considerar os sujeitos e o território. Não adianta ter o melhor professor, alimentação adequada, infraestrutura, se a criança sofreu violência antes da aula”, explica Jucie Parreira, Secretário de Educação do município.

Das reuniões iniciais com as escolas, as equipes concluíram que, isoladamente, nenhum equipamento público daria conta de resolver esses problemas, e que seria necessária uma articulação intersetorial, que envolvesse também a comunidade. É assim que nascem os Times da Defesa.

Assim, tiveram início uma série de formações em direitos da infância e da adolescência e debates sobre a importância de fortalecer as políticas públicas nessa área. Depois, cada Time olhou para as demandas e realidades de seu bairro e escola, contando com indicadores próprios, e criou um planejamento para organizar ações que fizessem sentido para aquele contexto. O projeto tornou-se permanente, com o grupo sempre atento às demandas e pronto para pensar em soluções.Cada escola começou a compor grupos de pessoas que estariam dispostas a chamar atenção para a violência no entorno e no próprio espaço escolar, e a pensar alternativas. Familiares de estudantes, professores, comerciantes locais, líderes religiosos e outros membros da comunidade foram rapidamente mobilizados, e os Times, formados.

Algumas escolas, por exemplo, decidiram discutir a depressão na adolescência, para trazer à tona temas como automutilação, suicídio e a importância da saúde mental. Outras fecharam a rua e promoveram tardes de lazer, a fim de fortalecer os laços comunitários e dar visibilidade às crianças nos espaços públicos. Outra, ainda, planejou rodas de conversa com estudantes e profissionais da região para estimular os jovens a continuar estudando.

“Nosso plano era mostrar que eles podem fazer o que desejarem, como trabalhar com a família na área rural, algo que aparece bastante aqui, mas podem fazer uma faculdade de Agronomia, Biologia, algo relacionado que pode contribuir para terem uma vida melhor”, conta Gabriely da Silva Bugalski, que é mãe de uma estudante da rede e membro dos Times da Defesa. Mas essa roda de conversas, por enquanto, foi postergada para o pós-pandemia.

“Com esses debates e ações, ganhamos mais atores e tivemos um aumento nas denúncias de violação de direitos. A mãe, a avó, a tia, a própria criança faz a denúncia. Ou a criança é identificada quando passa por isso. E nós nos organizamos enquanto rede para fazer esse escoamento da denúncia”, conta Jucie. É aí que entram em cena representantes da Saúde e da Assistência Social, para trabalhar em conjunto com a Educação e membros da comunidade.

“A rede de proteção faz a primeira identificação, a partir de alunos ou de atendimentos no posto de Saúde, e depois vamos averiguar a situação da família, para identificar e tratar a causa dos problemas”, explica Nozete Aparecida dos Santos, assistente social do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e membro dos Times da Defesa.

Um dos casos, por exemplo, começou com uma jovem que estava faltando muito às aulas, e a escola levou para discussão no grupo. Nozete foi fazer uma visita domiciliar para conversar com a família e descobriu um caso de violência doméstica. A assistente social encaminhou a ocorrência para a Justiça e as devidas medidas começaram a ser tomadas.

“O pai, perpetrador das violências, foi obrigado a deixar a casa. Uma das filhas adolescentes se automutilava, e foi encaminhada para atendimento psicológico. E conseguimos um emprego para um dos filhos mais velhos. Depois disso, eles voltaram para a escola”, conta Nozete, frisando a importância do trabalho em rede para proteger toda uma família.

A proteção integral em Almirante Tamandaré durante a pandemia

Durante o isolamento social, o trabalho dos Times da Defesa não parou, mas foi adaptado com reuniões virtuais e visitas domiciliares que se restringem ao portão das casas. “Temos recebido casos de evasão escolar e trabalho infantil”, diz Nozete.

Os Times também apoiaram a arrecadação e distribuição de cestas básicas pelo município e as entregas dos materiais pedagógicos para ensino remoto, por meio das Casas Sementeiras.

Nesses breves contatos, mesmo que distantes, os membros dos Times também são orientados a conversar com as famílias sobre suas demandas, a ficarem atentos a sinais de violências e vulnerabilidades, e reportar de volta à rede quando necessário.

“Eu participo desde o começo, e acho importante porque mais pessoas precisam cuidar das nossas crianças, e (mostrar) que elas também podem confiar na comunidade. Assim, aos poucos, vamos formando um mundo menos egoísta”, diz Andressa Ferreira da Cruz, membro dos Times da Defesa.

A violência como estratégia de inibição da participação social

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