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publicado dia 17 de maio de 2024

Em São Paulo (SP), cresce a percepção de que há mais crianças e adolescentes em situação de rua

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🗒️Resumo: Mais crianças e adolescentes estão em situação de rua nos últimos 12 meses. A percepção foi captada pela pesquisa Viver em São Paulo: Pobreza e Renda, realizada pela Rede Nossa São Paulo e apresentada em 16/05. 

As crianças e adolescentes em situação de rua são cada vez mais visíveis para os demais moradores de São Paulo (SP): 34% relataram terem visto a cena no ano passado, ante a taxa de 28% registrada na pesquisa anterior. 

O retrato é da pesquisa Viver em São Paulo: Pobreza e Renda, levantamento periódico feito pela Rede Nossa São Paulo, programa do Instituto Cidades Sustentáveis.

Apresentada em 16/05, a pesquisa ouviu 800 moradores da capital paulistana sobre o aumento da população em situação de rua, as causas da pobreza e as soluções para combatê-la.  

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Um reflexo da desigualdade, 53 mil pessoas vivem em situação de rua na cidade mais rica do país, de acordo com informações do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico). Muitas delas, famílias com adolescentes e crianças pequenas. 

“Se a população de rua está em invisibilidade, as crianças que vivem nessa condição estão ainda mais”, explica Fernanda Almeida, que é assistente social e psicanalista. “Não tem que existir crianças vivendo nas ruas. Isso é grave e interfere diretamente no futuro delas”, defende a especialista, destacando que a sociedade, o Estado e as famílias são responsáveis pela proteção integral das infâncias e adolescências, de acordo com o  Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam crescimento exponencial da população no Brasil: entre 2013 e 2023, o número de pessoas vivendo em situação de rua passou de 21.934 para 227.087. O perfil também se alterou na última década, com mais mulheres, adolescentes e crianças. 

Crianças e adolescentes em situação de rua em São Paulo
População em situação de rua: perfil alterou-se na última década, com maior registro de famílias, adolescentes e crianças nesta situação.

As crianças e adolescentes em situação de rua também estão mais expostos à violências como o trabalho infantil e exploração sexual. Censo realizado pela Prefeitura de São Paulo (SP) em 2023, contabilizou 3,7 mil crianças e adolescentes vivendo nas ruas da capital, com 66% delas envolvidas com trabalho infantil. 

A pesquisa também aponta que 75% dos moradores de São Paulo percebem aumento do número de pessoas em situação de rua no último ano. Outros 16% dizem que a quantidade de pessoas nessa situação está igual e, para 5%, diminuiu. 

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Além disso, a pesquisa captou a percepção de encontrar mais famílias vivendo nas ruas (56%). A percepção dos moradores de São Paulo sobre mulheres em situação de rua é de 22%, ao passo que a de idosos é de 20% e a de pessoas trans e travestis e pessoas com deficiência é de, respectivamente, 14% e 11%.

As percepções sobre a pobreza em São Paulo

Pesquisa Viver em São Paulo: Pobreza e Renda aponta percepções dos paulistanos sobre crianças e adolescentes em situação de rua
Viver em São Paulo: 34% relataram perceber mais crianças e adolescentes em situação de rua.

A pesquisa também sondou os principais motivos apontados para o aumento da população em situação de rua. Para 67%, há mais pessoas vivendo nas ruas devido ao crescimento do desemprego e a perda de renda. 

Apesar dos patamares seguirem altos, houve um recuo com relação ao levantamento realizado no ciclo anterior, quando o desemprego era citado por 84%.  Para 52%, o aumento da população em situação de rua está associado ao maior custo de vida da cidade. O aumento do  preço dos aluguéis é citado por 48% da população e a ausência de uma política de proteção social para os mais pobres, por 28%.

A pesquisa também sondou as opiniões dos paulistanos sobre como mitigar a situação. As mais mencionadas são políticas de moradia como aluguel social (50%), seguida pela oferta de cursos de capacitação profissional (40%) e pela ampliação da rede de atendimento socioassistencial (37%).

Para a assistente social Fernanda Almeida, que participou do debate e do lançamento da pesquisa, políticas públicas de moradia são porta de saída da situação de rua. No caso das crianças, o desafio é mais complexo. 

“A moradia é central. Para cuidar da pessoa, ela precisa estar em condição de ser cuidada. Na rua, o que fazemos é mitigar as formas mais cruéis a qual uma pessoa pode ser submetida. É importante também a geração de trabalho e renda a partir de políticas de integração dessa população”, defende a especialista. 

A assistente social Fernanda Almeida
Para Fernanda Almeida, é fundamental considerar raça, classe e gênero para buscar soluções para a população em situação de rua. (Foto: Fernando Martins/Rede Nossa São Paulo)

“No caso da criança e do adolescente, ainda passa pela Educação, proteção, violência e trabalho infantil.  A questão é muito grave  e passa também pelo recorte racial, pois a maioria da população em situação de rua é negra. Convergir na discussão de classe, raça e gênero é fundamental para pensar na população em situação de rua”, explica Fernanda. 

Para o sociólogo Moyses Ribeiro, coordenador de uma das mais de 50 cozinhas solidárias do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), a pesquisa reforçou como a população de São Paulo compreende o papel das políticas públicas para as pessoas em situação de rua. 

No caso das crianças e adolescentes em situação de pobreza, ele chama atenção para a importância da alimentação de qualidade.

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“A alimentação na escola é fundamental e a merenda precisa ser de qualidade. Durante o período de férias, por exemplo, a gente vê o impacto nas cozinhas solidárias com o aumento do fluxo de crianças”, relata Moyses. 

Para o diretor-presidente do Instituto Cidades Sustentáveis, os dados coletados pela pesquisa podem nortear as escolhas dos paulistanos neste ano de eleições municipais para o Legislativo e o Executivo. 

“Os dados da pesquisa mostram a sensibilidade das pessoas e a gravidade do problema a ser enfrentado para que a gente consiga pedir aos candidatos soluções completas.  É muito importante escutar as pessoas para entender o que elas precisam”, defende Jorge Abrahão.

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