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publicado dia 5 de maio de 2023

Caminhada São Paulo Negra resgata memória da diáspora africana no centro da cidade

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Potencializar o aprendizado da memória africana e afrobrasileira presente nos territórios e incluir essa dimensão em roteiros turísticos é a proposta da Caminhada São Paulo Negra.

Realizada todos os meses pela plataforma de afroturismo Guia Negro, a caminhada percorre, em grupos, 12 pontos no centro de São Paulo (SP) relacionados com a história da população negra na cidade. 

Nela, é possível descobrir o passado negro do bairro da Liberdade, hoje mais associado com a imigração japonesa, bem como conhecer histórias de figuras negras marginalizadas, como a de Joaquim Pinto de Oliveira (1721-1811). Escravizado e mais conhecido pelo apelido de Tebas, o arquiteto deixou um legado importante, porém invisibilizado, para a urbanização e modernização da capital paulista. 

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Criado em 2018, o Guia Negro tem como proposta visibilizar histórias de lugares, pessoas e da cultura negra. Além disso, a plataforma de afroturismo realiza experiências turísticas em diferentes cidades brasileiras e realiza consultorias e produção de conteúdo sobre o tema. 

O que é afroturismo?  

Afroturismo é uma forma de turismo que busca valorizar e promover a cultura, história e patrimônio afrodescendente nas cidades ao redor do mundo. É um meio de fugir da história única de negros como povos escravizados e mostrar a rica herança cultural afro, incluindo tradições religiosas, gastronomia, arquitetura, música, dança, arte e literatura.  

“O projeto nasceu de uma inquietação ao perceber que as nossas histórias não estavam sendo contadas. E esse desejo começou quando fui morar em São Pedro do Atacama e comecei a fazer um tour contando as histórias indígenas daquele lugar”, divide Guilherme Soares Dias, jornalista e fundador do Guia Negro. 

Em parceria com o  produtor cultural e fotógrafo Heitor Salatiel, o projeto cresceu e, hoje, realiza tours por oito cidades, além de pacotes de viagens nacionais e internacionais. O Guia Negro ainda conta com parcerias corporativas e educacionais, e com uma rede de “anfitriões de experiência”, que conduzem os passeios em outras cidades.

Como é a Caminhada São Paulo Negra 

Realizada mensalmente, a Caminhada São Paulo Negra é um dos roteiros turísticos do Guia Negro na cidade de São Paulo – que conta com mais três passeios, a Caminhada Barra Funda Negra, Bixiga Negra e Luiz Gama.  

Caminhada São Paulo Negra Capela dos Aflitos e bairro da Liberdade
Hoje mais conhecido pela imigração japonesa, Liberdade, bairro do centro de São Paulo teve parte de sua história negra apagada. Na foto, à esquerda, a Capela dos Aflitos. Foto: Ana Júlia Paiva

Guilherme pontua que, em geral, caminhadas abertas ao público tendem a ter um pouco mais de pessoas negras, cerca de 60%, mas uma quantidade bem significativa a mais de mulheres, com 80%. No entanto, ele explica que isso depende muito do tipo do passeio, uma vez que eles realizam projetos fechados só para empresas e escolas.    

O roteiro realizado no dia 29 de abril, acompanhado pela reportagem do Educação & Território, saiu do bairro da Liberdade e foi até o Largo do Paissandú. O trajeto, de cerca de três horas, foi percorrido por 15 pessoas, em sua maioria, mulheres negras.

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O grupo partiu da Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados e passou também pela Capela dos Aflitos, bem como pelo Largo da Forca (hoje Praça da Liberdade) e o Pelourinho (Largo Sete de Setembro). Monumentos como a Estátua de Tebas e de Zumbi dos Palmares também fazem parte da Caminhada, bem como locais culturais, como a Galeria do Reagge e Centro Cultural Ouvidor. 

A Caminhada São Paulo Negra acontece em uma região precarizada e que, nos últimos anos, se tornou ainda mais hostil à ocupação do espaço público. Para escolher e mapear os pontos históricos das cidades, Guilherme conta que a conversa com os mais velhos é essencial.

“Eles são nossas referências para entender quais histórias são importantes de contar e como contá-las. Além disso, a pesquisa sobre as vivências da rua, sobre os lugares que as pessoas frequentam e sobre os personagens marcantes de cada espaço nos norteiam no desenho dos trajetos. Criamos os tours pensando em: passado, presente e futuro”, explica o jornalista. 

Caminhada São Paulo Negra Educafro e Igreja da Sé
Locais e conquistas conquistas contemporâneas dos movimentos negros, como o cursinho popular Educafro (à esquerda) também são parte do roteiro. Foto: Ana Júlia Paiva

Ao longo das três horas do trajeto, os guias, Guilherme e Heitor, ressignificam a história tradicional da cidade e desvelam as histórias negras, por vezes manchadas de sangue, que estão por trás de ruas, estátuas e espaços do centro paulistano. Além disso, de acordo com os guias, a proposta é “destravar” o olhar para a história negra no Brasil e fazer conexões com o presente. 

Histórias de figuras negras marginalizadas ou esquecidas também são contadas durante o roteiro. É o caso de Chaguinhas, soldado negro alforriado que liderou uma revolta pelo não-recebimento de salários, cuja história foi compartilhada durante a passagem pela Capela dos Aflitos. Pontos da história contemporânea e das conquistas movimentos negros, como a rede de cursinhos populares Educafro, também são parte do roteiro turístico.  

Caminhadas Negras: “13 de maio e os dias depois”

No dia 13 de maio, o Guia Negro irá promover um evento em articulação com parceiros de 22 cidades brasileiras, a fim de recontar narrativas sob um olhar afrocentrado, revelando novos lugares, personagens e culturas negras. Para se inscrever, acesse o site.

 

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