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publicado dia 29 de setembro de 2022

Curso explora a história do Bixiga, bairro que foi de trilha indígena a reduto multicultural em São Paulo

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Muitas vezes associado à imigração italiana, que deixou suas marcas na identidade do bairro a partir do século 19, a região do Bixiga teve uma presença indígena fundadora e uma participação importante das populações negras e das classes populares que ainda reverberam pelas ruas do bairro paulistano. “O Bixiga é chão de muitos povos”, resume a historiadora Danielle Franco da Rocha, pesquisadora do Instituto Bixiga e uma das responsáveis pelo curso online Bixiga: de trilha indígena a reduto multicultural em São Paulo, que será realizado neste sábado 01 de outubro, das 10h às 13h. 

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O curso, ministrado por uma equipe multidisciplinar, está em sua sétima edição e traça um percurso histórico do local, buscando visibilizar e resgatar, em especial, seus capítulos menos conhecidos da história do bairro. 

Bixiga, rota indígena e quilombo urbano 

Antes da colonização europeia, o Bixiga era parte de um “peabiru” – uma rota ou caminho utilizado pelos povos indígenas para se deslocarem entre suas comunidades pelo território. Em São Paulo, seu traçado iniciava-se no Campo do Guarê, atual região da Luz, e ia até o aldeamento indígena de Jeribatiba, às margens do rio Pinheiros. Em seu trajeto, cruzava o Bixiga, ao longo do Vale da Saracura, nome dado ao local pelos indígenas por conta da grande presença da árvore às margens dos rios na região. A influência indígena, embora muito apagada ao longo do tempo, permanece, por exemplo, nos nomes dados às ruas do bairro, como Itapeva ou Japurá. 

A região era considerada quase rural até o início do século 19, explica Danielle, e habitada principalmente pelos chamados “povos da floresta” – indígenas, quilombolas e caipiras – e conhecida pela presença de trabalhadores, como lavadeiras ou vendedoras. 

Além disso, o Bixiga foi também um importante território negro em São Paulo. O rio Saracura, canalizado e soterrado posteriormente, emprestou o nome ao quilombo urbano do Saracura, um dos mais antigos e importantes da capital paulistana. Lá viviam  lavadeiras, quituteiras, vendedores de ervas e pequenos comerciantes. O local também abrigava escravizados que fugiam das feiras onde eram comercializados, uma delas localizada justamente no encontro dos rios Anhangabaú e Saracura. 

Mais recentemente, parte dessa história veio à tona com a realização de obras para a implantação do metrô na praça 14 Bis, que revelou importantes vestígios e descobertas arqueológicas relacionadas à ocupação negra na região. “A imprensa conservadora na virada do século chamava o Bixiga de ‘pedaço da África’, de forma pejorativa”, conta Danielle, que é doutora em História Social pela PUC-SP. 

No contexto de expansão da economia cafeeira paulista, da emergência da industrialização na cidade e do crescimento da população subsidiada pelo estado da imigração, a região começa a se modificar profundamente. 

O bairro inclusive foi renomeado: passou a se chamar Bela Vista em 1910. Alguns anos antes, em 1878, a região foi loteada e oficializada, inclusive com a presença de D. Pedro II, que à época visitava a cidade. A data, 1 de outubro, marca o aniversário oficial do Bixiga. “Começa ali um processo de especulação imobiliária extraordinária e o loteamento de chácaras”, explica. 

Além da presença de imigrantes europeus – italianos, mas também portugueses e de outros países – a história mais recente do bairro também foi construída por nordestinos, que a partir da década de 1950 passaram também a viver na região. “A cidade de São Paulo é um imenso acervo histórico, cultural, social, arquitetônico e artístico e esse território está cheio de memórias e marcado pelo passado, mesmo com as tentativas de um apagamento ou invisibilidade da história popular”, conclui a historiadora. 

Para saber mais sobre o Bixiga 

Além de acompanhar o curso online no sábado, a professora Danielle Franco da Rocha separou outros materiais para quem quiser se aprofundar e saber mais sobre a história do Bixiga

Webdocumentário – Bixiga Existe (2020)

Produzido coletivamente, o documentário registra a memória dos moradores do bairro e resgatam parte dessa história. O documentário, disponível no Youtube, foi realizado pelo Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo, idealizado e produzido pelo Estúdio CRUA com apoio do Instituto Bixiga.

Webdocumentário – Belo Bixiga (2017) 

O curta apresenta um resumo da história da ocupação do território do Bixiga, mesclando memórias dos moradores com cenas que mostram a diversidade que o bairro carrega até hoje.

Artigo – O visível que oculta e o invisível que revela (2020) 

Publicado na Memoricidade – Revista do Museu da Cidade de São Paulo em 2020, o artigo O visível que oculta e o invisível que revela – Tensões e disputas na construção da história de um território aborda a história e as tentativas de apagamento no bairro. Assinado por Danielle Franco da Rocha, Edimilsom Peres Castilho e Eribelto Peres Castilho, o texto é acompanhado por documentos históricos e imagens da época.

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