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Projeto aproxima crianças da natureza por meio da dança em Salvador (BA)

Publicado dia 5 de março de 2021

A educadora Drica Rocha foi uma das muitas professoras que viu sua rotina mudar radicalmente durante a pandemia. Professora de dança e teatro de uma escola de Educação Infantil em Salvador (BA), ela teve que adaptar para o ambiente digital atividades que sempre dependeram de presença e contato. 

“Era sempre o mesmo cenário: encontrar as crianças por vídeo chamada, sentadas depois de um dia de atividades nessa posição, e tentar abrir espaço, fazer atividades em que os movimentos reverberassem por suas casas e chegassem em mim também”, relembra a educadora. 

Educadora mas também educanda, Drica participa de um curso de extensão da Universidade Federal da Bahia (UFBA) chamado Corpo Natureza. Nele, os estudantes são convidados a experimentar como diversos ambientes, como praias, matas ou espaços urbanos, influenciam possibilidades de movimento corpóreo. 

Quando a educadora soube de um edital da FUNCEB (Fundação Cultural do Estado da Bahia) para pesquisas sobre dança nas infâncias, ela resolveu aliar as duas experiências na criação do projeto Corpo criança, corpo que dança: a natureza no brincar. De janeiro a março deste ano, Adriane e mais três educadores parceiros convidaram crianças entre 7 e 11 anos para encontros digitais que incentivavam o uso de elementos da natureza para experimentações de dança. 

“Telas têm seus benefícios, mas também causam cansaço e desgaste no corpo, afastando adultos e crianças da natureza”, complementa a educadora. “Me vi tentando então encontrar esse outro jeito de brincar, incentivando crianças a encontrar a natureza dentro da casa e também reconhecer-se como natureza.”

Algumas das crianças participantes do projeto Corpo criança, corpo que dança / Crédito: Divulgação

A dança como possibilidade de aproximação com o mundo natural

Nas primeiras aulas, os educadores se encontravam com as crianças durante 40 minutos por vídeochamada: “A partir da leitura do conto indígena A Dança do Arco-Íris*, propúnhamos atividades e investigações de encontro entre as crianças e os quatro elementos: no calor do brincar e na batida do pé no chão, elas podiam encontrar o fogo; o ar estava dentro delas, mas também fora.”

*O conto indígena recontado pelo escritor João Anzanello Carrascoza pode ser encontrado no site da Nova Escola

Nas oficinas iniciais, as crianças estavam rijas, ainda se acostumando com o formato das atividades. Aos poucos, meninos e meninas que antes ficavam sentados durante a atividade começaram a se movimentar pela casa, acessar ambientes externos, brincar no chão e utilizar plantas e outros elementos naturais para se expressar. 

Não demorou muito para que problemas de conexão e outros entraves digitais atrapalhassem as oficinas. O corpo docente do projeto resolveu então convidar as crianças para experimentações mais livres, a partir de pílulas de provocações enviadas por áudio e vídeo no Whatsapp. 

Crianças utilizavam elementos como conchas para suas rotinas de dança / Crédito: Divulgação

“Enviamos perguntas como: ‘Como você está se sentindo hoje?’, ‘que líquidos tem na sua casa, quais líquidos tem dentro do seu corpo?’ e ‘que sons você está escutando?’. As crianças começaram a responder por áudio e vídeo. Isso transformou a experiência, porque elas enfim puderam criar com autonomia, sem estar diante de nós”, explica a educadora. 

Em entrevista para o Centro de Referências em Educação Integral, o pesquisador Ghandy Piorski conta como os quatro elementos da natureza – fogo, terra, água e ar – têm papel crucial nas brincadeiras da infância e no desenvolvimento integral. Acesse a metodologia criada pelo pesquisador. 

O resultado foram experimentações diversas: crianças que começaram o projeto se movimentando com plantas que tinham em casa de repente faziam rotinas de dança inspiradas na observação de como o vento incidia sobre as árvores. Outras utilizavam elementos como pedras e conchas em suas apresentações, combinando os elementos com movimentos do próprio corpo.  

“Ao contrário dos adultos, as crianças fazem menos diferenciação entre ‘estar na natureza’ e ‘ser natureza’. Assim, elas têm mais facilidade para criação artística”, explica Drica. “O corpo só reage na dança se estiver dialogando com o ambiente em que se encontra, troca ou alimenta. A dança existe porque nós somos natureza, porque o movimento é natureza, e essa é uma sensibilidade que as crianças conhecem muito bem.”

Depois de um mês de oficinas e agora com sessões individuais para cada uma das crianças, o resultado da pesquisa será transformado em um vídeo-dança sobre a relação da criança e da natureza por meio da dança. Ele será disponibilizado e pode servir para que outros educadores também experimentem a metodologia. 

Trilhas de engajamento do programa Criança e Natureza

Esta matéria é a última de uma série que traz experiências e projetos que estimulam a relação entre criança e natureza, em parceria com o programa Criança e Natureza, do Instituto Alana.

É possível acompanhar uma série de conteúdos que inspiram a estreitar a relação entre crianças e mundo natural se inscrevendo no site do filme “O Começo da Vida 2: Lá Fora”. Famílias, educadores, gestores e conservacionistas ambientais recebem uma série de três a quatro e-mails com dicas e práticas sobre o tema. 

Acesse o site do filme O Começo da Vida 2: Lá Fora e se inscreva em uma das trilhas de engajamento

Conheça outras experiências mapeadas pelo projeto Criança e Natureza: 

Projeto Arbo refloresta espaços públicos e escolas para democratizar o acesso à alimentação

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Práticas

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