publicado dia 23 de outubro de 2024
Museu Afro Brasil completa 20 anos: 3 exposições para conhecer
Reportagem: Redação
publicado dia 23 de outubro de 2024
Reportagem: Redação
🗒️Resumo: O Museu Afro Brasil Emanoel Araujo completa 20 anos em 2024. Localizado no Parque do Ibirapuera, em São Paulo (SP), o espaço reúne 8 mil obras relacionadas à história, religiosidade, memória e arte negra e afro-diaspórica no país. Para comemorar o marco, três exposições estão abertas para o público.
Em São Paulo (SP), o Museu Afro Brasil Emanoel Araújo – que agora carrega o nome de seu fundador – completa 20 anos de história e resistência da memória afro-brasileira, africana e diaspórica em outubro.
Leia + Museu Afro Brasil: uma perspectiva sobre a história e cultura afro-brasileira
Para celebrar o marco, o espaço cultural, que ocupa 12 mil m² nas dependências do Parque do Ibirapuera, inaugura três exposições para o público. O museu funciona de terça a domingo, das 10h às 17h. A entrada é gratuita às quartas.
Além do museu, o espaço abriga um teatro e a Biblioteca Maria Carolina de Jesus. Nela, há 5 mil livros, revistas, publicações científicas e materiais multimidia na biblioteca que homenageia a escritora, com especialização nos temas da escravidão e abolição na América Latina, Caribe e Estados Unidos.
Inaugurado em 2004, o Museu Afro Brasil nasceu da coleção particular do idealizador Emanoel Araújo (1940-2022).
O museólogo, que também era escultor, desenhista, ilustrador, pintor e figurinista, teve como tema central da sua obra a presença da herança africana na cultura brasileira, de acordo com verbete da Enciclopédia do Itaú Cultural.
Leia + 5 livros para discutir branquitude e racismo no Brasil
Inaugurado em 20 de novembro de 2004, o espaço foi criado por Emanoel Araújo. Grande colecionador de arte africana e afro-brasileira, o artista baiano foi diretor cultural da instituição até sua morte, em 2022.
Em 2017, em entrevista ao Roda Viva, Emanoel Araújo lembrou a importância de colocar as pessoas negras e africanas “em primeira pessoa”.
“O museu trata afrodescendentes, africanos e negros na primeira pessoa”, declarou o idealizador Emanoel Araújo em 2017.
“O museu trata afrodescendentes, africanos e negros na primeira pessoa. O museu foi todo armado pensando na arte, na história e na memória, que não está em lugar nenhum, porque o Brasil tem essa falta de memória mesmo”, disse na ocasião.
“O que nós queremos é mostrar uma história que envolve africano e afrodescendentes, mas que envolvem muito mais aqueles personagens que devem ser importantes para que o público sinta uma certa autoestima. Que aquilo seja um espelho, porque ali tem a nossa história, que não é contada’, ressaltou durante a entrevista.
Desde 2009, o Museu Afro Brasil, é uma instituição pública, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, que administrado pela Associação Museu Afro Brasil – Organização Social de Cultura, é subordinado ao Governo do Estado de São Paulo.
Ver essa foto no Instagram
Atualmente, a direção artística do Museu Afro Brasil está a cargo do curador e pesquisador Hélio Menezes, que é mestre e doutorando em antropologia social pela Universidade de São Paulo (USP).
Leia + 6 livros para discutir o racismo no Brasil
Em entrevista à Veja São Paulo em junho de 2024, Hélio explica que o museu busca estratégias para falar do histórico de violência contra a população negra sem reencená-la.
“Sempre me incomodou, pessoalmente e intelectualmente, a exibição ostensiva de uma série de objetos de tortura do período de escravidão e das chamadas imagens de controle, de reprodução da violência contra corpos negros. Vivemos em uma sociedade que vê arte negra ou negritude como signo da dor. Para mim, é fundamental que essa relação se dê pelo signo do valor”, detalhou à revista.
“A partir da escuta, descobri que esse incômodo não era apenas meu, era generalizado. Tudo isso me levou a pensar na necessidade de retirar de circulação esses objetos de tortura. Afinal de contas, este é o Museu Afro Brasil e não o Museu da Escravidão”, afirmou.
Além das visitas presenciais ao espaço, é possível observar digitalmente parte do acervo por meio do projeto Google Arts & Culture.
Conheça, a seguir, três exposições preparadas para celebrar os 20 anos do Museu Afro-Brasil:
1) Uma História do Poder na África: um olhar profundo sobre a centralidade africana
Inspirada nas ideias do pensador senegalês Cheikh Anta Diop (1923 -1983), a exposição coloca em primeiro plano a relevância da África na formação das civilizações mundiais, reconhecendo o Egito antigo como parte integrante do continente africano.
Ver essa foto no Instagram
As obras expostas exploram a intersecção entre passado e presente, com destaque para relíquias egípcias que reforçam a importância cultural e histórica do Egito para a África subsaariana.
Dois nomes contemporâneos ganham destaque: a angolana Damara Inglês e a guineense Gisela Casimiro, artistas com obras especialmente comissionadas para essa exposição. Ambas trazem perspectivas atuais que dialogam com o conceito de poder e ancestralidade africana, contribuindo para uma releitura crítica da arte africana em suas diversas manifestações.
Entre os artefatos e obras mais marcantes, estão o Trono do Reino Daomé, o Banco Luba e a Cabeça de bronze de Yoba, além de peças raras da antiga civilização egípcia. As conexões culturais entre o Egito e o resto da África, tão defendidas por Diop, são evidenciadas ao longo da mostra, que se divide em cinco núcleos temáticos.
Em cartaz até fevereiro de 2025, a exposição tem como curadora Vanicleia Silva Santos.
2) Popular, Populares – A pluralidade do ‘popular’ nas artes
A exposição “Popular, Populares” focaliza questionamentos sobre o que é definido como ‘popular’ nas artes, desafiando as categorizações que rotulam muitas vezes esses artistas como ‘ingênuos’ ou com pouca formação acadêmica.
Ver essa foto no Instagram
A mostra apresenta obras de mestres como Cândido Santos Xavier, Luiz Antônio da Silva, Ciça – Cícera Fonseca da Silva, M. L. C. – Maria de Lurdes Cândido, Jadir João Egidio, M. C. M. – Maria Cândido Monteiro, Mestre Noza, Manuel Graciano Cardoso, Mestre Vitalino (e família), Véio e Dedé.
A pluralidade da arte popular é explorada em várias dimensões, desde as peças multicoloridas e antropo-zoomorfas até o minimalismo das formas. As obras são expostas em diálogo, permitindo ao visitante uma experiência imersiva. A viagem começa com os barcos de Exu de Cândido Santos Xavier, atravessa as memórias e retratos esculpidos da “Família quilombola” de Mauro Firmino e se encerra no realismo fantástico de sereias e seres míticos brasileiros, com esculturas de Resêndio e Manuel Graciano Cardoso.
O questionamento sobre o que é ‘popular’ atravessa toda a exposição, com o museu desafiando visões estereotipadas sobre o lugar dessas produções na história da arte brasileira. A arte popular, sempre plural, revela a resistência e a sobrevivência cotidiana de seus criadores.
3) Pensar e Repensar, Fazer e Refazer – Reflexões sobre o legado do Museu, uma linha do tempo da resistência
Ver essa foto no Instagram
Ao longo de duas décadas, o Museu Afro Brasil abrigou e promoveu exposições que celebram a história e a cultura afro-brasileira, e também desafiam narrativas que limitam o papel dos negros no Brasil e no mundo.
Exposições como “Brasileiro, Brasileiros” (2004), “Benin está vivo ainda lá” (2007) e “Isso é coisa de preto – 130 anos da abolição da escravidão: arte, história e memória” (2018) mostram o esforço do museu em se posicionar como um espaço de luta coletiva.