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publicado dia 1 de outubro de 2024

5 livros para discutir branquitude e racismo no Brasil 

Reportagem:

🗒️Resumo: Entenda o conceito de branquitude e confira uma seleção de obras clássicas e contemporâneas para se aprofundar nas questões raciais no Brasil. 

Você sabe o que significa o termo branquitude? Em linhas gerais, o conceito nomeia uma série de vantagens sociais, econômicas, materiais e simbólicas que as pessoas identificadas como brancas têm em uma sociedade racista, como é o caso da brasileira. 

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No Brasil, embora as pessoas negras (pretas e pardas) componham 56% da população, o racismo é estrutural e permeia todas as dimensões, tornando a discriminação racial um obstáculo cotidiano para as pessoas não-brancas. 

No Brasil, embora as pessoas negras (pretas e pardas) componham 56% da população, o racismo é estrutural e permeia todas as dimensões

Poder fazer compras sem ser perseguida ou incomodada ou ligar a televisão e se ver representada racialmente são alguns exemplos de privilégios da branquitude no dia a dia, elencados pela pesquisadora americana antirracista Peggy McIntosh em uma lista publicada na década de 1980. 

No Brasil, o termo foi disseminado nas discussões sobre relações étnico-raciais a partir de reflexões de pensadoras como a intelectual e ativista do movimento negro Cida Bento e da psicóloga e pesquisadora Lia Vainer Schucman

“A falta de reflexão sobre o papel do branco nas desigualdades raciais é uma forma de reiterar persistentemente que as desigualdades raciais no Brasil constituem um problema exclusivamente do negro, pois só ele é estudado, dissecado, problematizado”, analisa Cida Bento, que é cofundadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT), no artigo Branqueamento e branquitude no Brasil. 

5 livros para discutir branquitude e racismo no Brasil
Quadro “A Redenção de Cam” (1895), pintado por Modesto Brocos (1852-1936). Analisado no livro “Imagens da Branquitude”, pintura com viés racista ilustra a valorização do branqueamento nas relações sociais no país.

Além disso, é importante que a branquitude seja pensada dentro de uma lógica antirracista, que visa combater a ideia de supremacia branca, visibilizar privilégios e enfrentar o racismo estrutural.

Para Lia Vainer Schucman, as pessoas brancas precisam entender que há uma dívida impagável com as populações negras e indígenas no Brasil, que aumenta todos os dias. 

É importante que a branquitude seja pensada na lógica antirracista

“Só há uma forma para isso: se a branquitude se caracteriza como um benefício que todos os brancos têm em uma sociedade racista, a questão central é na distribuição desses benefícios. É preciso democratizá-los de forma equânime. É necessário haver redistribuição de recurso radical, principalmente, por quem tem na mão a caneta, para ver aonde vão os recursos. Outro ponto central é reconhecer a construção deste país pela população negra”, defende Lia em entrevista. 

Para aprofundar as discussões sobre branquitude e relações raciais no país, confira abaixo uma seleção de cinco obras clássicas e contemporâneas sobre o tema: 

1) O Pacto da Branquitude, de Cida Bento. Editora Cia das Letras (2022)

Livro O pacto da branquitude, de Cida bento

Fundamental para entender a questão da branquitude e seu “pacto narcísico” na sociedade brasileira, o clássico de Cida Bento denuncia e questiona o caráter universal dado à branquitude no país. Uma das mais relevantes intelectuais e ativistas do movimento negro brasileiro na atualidade, Cida Bento é doutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e cofundadora do Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades (CEERT). 

Leia um trecho do livro: 

“Não temos um problema negro no Brasil, temos um problema nas relações entre negros e brancos. É a supremacia branca incrustada na branquitude, uma relação de dominação de um grupo sobre outro, como tantas que observamos cotidianamente ao nosso redor, na política, na cultura, na economia e que assegura privilégios para um dos grupos e relega péssimas condições de trabalho, de vida, ou até a morte, para o outro.

Acredito que é preciso reconhecer e debater essas e outras relações de dominação para criar condições de avanço para outro tipo de sociedade e outros pactos civilizatórios. Relações de dominação de gênero, raça, classe, origem , entre outras guardam muita similaridade na forma como são construídas e perpetuadas através de pactos, quase sempre não explicitados. Nesse sentido, concentrei minha atenção na branquitude e nos pactos narcísicos que a mantêm.” 

2) Imagens da Branquitude: a presença da ausência, de Lilia Moritz Schwarcz. Editora Cia das Letras (2024) 

Livro Imagens da Branquitude, de Lilia Moritz Schwarcz

Recém-lançado em 2024, o livro mergulha na análise de pinturas, mapas, fotografias e peças publicitárias produzidas ao longo da História do Brasil. O objetivo é entender o fenômeno social e cultural da branquitude, bem como analisar como o racismo se disseminou também por meio da imagem. 

Escrito por uma “mulher branca, paulistana e judia”, a historiadora e antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, Imagens da Branquitude  coloca as representações visuais em primeiro plano, tirando-as do lugar de neutralidade.

Leia um trecho do livro: 

“Imagens da branquitude trata da temporalidade das imagens e de seus muitos sentidos — no tempo passado e neste que nos foi dado viver. Mas procura realizar mais: inquirir como uma série de documentos visuais que lemos de maneira inocente são atravessados por práticas do racismo — que foi, no limite, um projeto da modernidade europeia. Não se trata de apostar numa visão moralista, tampouco na lógica binária e simplista que opõe um grande “nós” a um imenso “eles”. Melhor é inquirir essa que é uma espécie de “pacto das imagens”.

Na maioria das vezes, essas obras não foram tomadas como depreciativas, ao menos no contexto em que foram produzidas. Afinal, inseriam-se em momentos nos quais a escravidão era legitimada pelo Estado. Sendo assim, trabalhar numa sociedade racista nem sempre significou compactuar com ela. A questão não é, portanto, normativa, e não se trata de simplesmente destronar personagens do passado e colocar outros no lugar. Mais relevante será ler tais documentos na contramão, a partir do que, com frequência, o artista não pretendia expor ou destacar; ou mesmo pensar na difusão mais recente dessas obras. Afinal, documentos visuais estão sempre em disputa no interior das lógicas simbólicas operantes, seja em sua própria época, seja em outros tempos que as ressignificam”. 

3) Entre o encardido, o branco e o branquíssimo: branquitude, hierarquia e poder na cidade de São Paulo, de Lia Schucman. Editora Veneta (2020) 

Livro Entre o encardido, o branco e o branquissimo, de Lia Schucman

Publicada pela primeira vez em 2014, a obra joga luz em como o privilégio social branco opera e foi construído no país. O livro é da doutora em Psicologia Social pela USP e professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Lia Schucman. 

Leia um trecho do livro: 

“O fato de o preconceito racial recair sobre a população não branca está diretamente relacionado ao fato de os privilégios raciais estarem associados aos brancos. O branco não é apenas favorecido nessa estrutura racializada, mas é também produtor ativo dessa estrutura, por meio dos mecanismos mais diretos de discriminação e da produção de um discurso que propaga a democracia racial e o branqueamento.

Esses mecanismos de produção de desigualdades raciais foram construídos de tal forma que asseguram aos brancos a ocupação de posições mais altas na hierarquia social, sem que isso fosse encarado como um privilégio de raça.

Isso porque a crença na democracia racial isenta a sociedade brasileira do preconceito e permite que o ideal liberal de igualdade de oportunidades seja apregoado como realidade. Desse modo, a ideologia racial oficial produz um senso de alívio entre os brancos, que podem se isentar de qualquer responsabilidade pelos problemas sociais dos negros, mestiços e indígenas.” 

4) Branquitude: estudos sobre a identidade branca no Brasil, de Tânia Muller e Lourenço Cardoso (organização). Editora Appris (2017) 

Organizada por Tânia Muller e Lourenço Cardoso, a obra reúne 17 artigos de pesquisadores de diferentes universidades e tem apresentação do intelectual, antropólogo e professor congolês-brasileiro Kabengele Munanga. O foco é analisar, por diferentes prismas, a identidade branca e seus privilégios raciais na realidade brasileira.

Leia um trecho do prefácio do livro, escrito por Kabengele Munanga: 

“No entanto, paralelamente a negritude, pouco se escreveu sobre a Branquitude na literatura brasileira. É como se a consciência de ser branco existisse no Brasil por causa da mestiçagem (sorriso!). Um silêncio sobre a Branquitude e suas vantagens foi mantido por muito tempo diante do discurso sobre a negritude e a identidade negra.

Os negros conscientes e politicamente mobilizados lutavam contra as práticas de discriminação racial e desigualdades dela decorrentes e precisavam por isso se mobilizar através do conceito da Negritude como plataforma política, mas os brancos como todos os vitoriosos estavam no topo e talvez não precisassem dessa mobilização.

Eles não precisavam gritar e proclamar sua Branquitude, pois o tigre não precisa proclamar sua “trigitude”; sendo o “rei” da selva ele simplesmente ataca silenciosamente quando sua sobrevivência o exige. São os outros, oprimidos negros, mulheres e homossexuais que precisam gritar e proclamar sua identidade. Talvez isso pudesse explicar a estratégia do silêncio e a não proclamação da identidade branca, apesar da consciência das vantagens que ela oferece no universo racial brasileiro.”

5) Branquitude na Educação Infantil, de Cintia Cardoso. Editora Appris (2021) 

Livro Branquitude na Educação Infantil, de Cintia Cardoso

Com foco no campo da Educação Infantil, a obra de Cintia Cardoso investiga o tema do racismo, da branquitude e da busca por equidade racial no âmbito da primeira infância. Com base em entrevistas com profissionais da Educação, observações e escuta de crianças brancas e negras, o livro nasceu da pesquisa de mestrado da autora e apresenta um panorama das relações étnico-raciais em uma escola de Educação Infantil em Florianópolis (SC). 

Leia um trecho do livro: 

Quando o núcleo de Educação Infantil apresenta majoritariamente imagens positivas com pessoas brancas compartilha-se a construção de um imaginário em que brancos são a regra para o que é bom. Um espaço que perpetua um padrão de normalidade com base no branco como representante universal de humanidade que privilegia aqueles herdeiros da brancura, nesse caso, a exclusão é posta em prática pela preterição capturada na diferença de tratamento destinado às crianças brancas e às crianças negras. 

As crianças brancas contam com a vantagem de  serem elogiadas, são tocadas com demonstração de afeto, diferente das crianças negras. 

Mesmo as secretarias e as instituições de Educação Infantil que possuem gestoras e professoras sensíveis a trabalho em prol da igualdade racial na promoção de equidade não se veem como parte do processo, como aquelas que podem contribuir de maneira incisiva sobre a abolição de privilégios, custa-lhe reconhecer que no processo, a população branca é privilegiada em detrimento da negra, indígena, entre outras, falta reconhecimento acerca das reações raciais brasileiras. Sendo assim, professoras estando conscientes ou não das suas ações afetam as crianças. 

6 livros para discutir racismo no Brasil hoje

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