publicado dia 30 de junho de 2023
Caminhada pela Paz: mobilização, pertencimento e cultura de paz em Heliópolis
Reportagem: Ana Júlia Paiva
publicado dia 30 de junho de 2023
Reportagem: Ana Júlia Paiva
“Cidade do Sol”: esse é o significado da palavra que nomeia o Bairro Educador Heliópolis, na zona sul de São Paulo (SP). Não à toa, depois de dias nublados e chuvosos na capital paulistana, o sol abriu para receber a 25ª Caminhada Pela Paz de Heliópolis, que ocorreu na sexta-feira, 16 de junho.
Mobilizando moradores, estudantes e educadores em prol da cultura de paz, a passeata percorreu, ao longo de duas horas, as ruas e vielas do bairro. O ponto de partida foi a EMEF Campos Salles, escola cuja proposta é marcada pela ausência de muros, currículo transformador e pela relação próxima com a comunidade em que está inserida.
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Organizada por escolas públicas da região e pelo Movimento Sol da Paz, que é parte dos movimentos de base da União de Núcleos, Associações dos Moradores de Heliópolis e Região (UNAS), a Caminhada pela Paz começou há 25 anos e foi uma reação da população e do Bairro Educador Heliópolis ao feminicídio de Leonarda, estudante na Campos Salles, ocorrido em 1996.
Hoje, o movimento ampliou-se e busca fortalecer políticas públicas e a garantia de direitos. “Nos inspiramos no significado da palavra Heliópolis para adotar o girassol como símbolo [do Movimento Sol Pela Paz]. Porque é uma flor que se vira em direção ao sol, e é isso que nós fazemos com as políticas públicas por aqui: se elas não estão presentes, lutamos e vamos em busca dos nossos direitos”, explica Orlando Jerônimo, professor aposentado de Língua Portuguesa e um dos precursores da Caminhada.
Todos os anos, um tema específico é escolhido para nortear a Caminhada pela Paz e trabalhado nos currículos escolares, projetos educacionais e coletivos do bairro nos meses que a antecedem. Em 2023, a mobilização centrou-se em falar sobre “Políticas Públicas + Consciência Comunitária = Sociedade Educadora”, um tema já utilizado pela caminhada anteriormente.
No dia da Caminhada pela Paz, o pátio da EMEF virou palco durante a concentração para apresentações e discursos acalorados e emocionados de lideranças comunitárias, como a presidente da UNAS, Cleide Alves.
“Nós precisamos abarcar todos os tipos de violência, porque não teremos de fato paz enquanto ainda tivermos fome, falta de emprego e falta de estrutura na educação, por exemplo”, pontua Cleide Alves.
Ao todo, 10 instituições de ensino da Educação Infantil ao Ensino Médio participaram com cartazes, instrumentos musicais e gritos contra os mais diversos tipos de violência.
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Ao longo do percurso, foram colados cartazes com explicações sobre o conceito de racismo e LGBTfobia, bem como indicações de como pedir ajuda em caso de violência doméstica. Em sinergia com os grupos de crianças e adolescentes ocupando as ruas, a plateia de moradores debruçava-se pelas janelas para observar e aplaudir.
Para Fernanda Terto, moradora do Heliópolis e coordenadora da CEI Leonarda Soares Alves, o impacto de duas décadas de Caminhada pela Paz na conscientização política da comunidade é visível.
“É um trabalho de formiguinha, mas vamos construindo uma consciência cidadã e de pertencimento com as crianças desde a creche. Ao mesmo tempo, atingimos os pais com essas pautas em reuniões mensais e com seus filhos levando o tema pra dentro de casa”, comenta a educadora.