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publicado dia 21 de setembro de 2022

Setembro Amarelo: ação intersetorial é chave para proteção à saúde mental de crianças e adolescentes

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A prevenção ao suicídio – visibilizada pelas ações do Setembro Amarelo – e o cuidado com a saúde mental das crianças e dos jovens devem ser encarados de frente, com o apoio de  informações qualificadas, pelas escolas e educadores. “O maior erro é continuar encarando o suicídio como algo que nada tem a ver com a escola”, aponta Alcione Marques, psicopedagoga e especialista em saúde mental com 20 anos de experiência no tema. 

Dados recentes jogam luz sobre o tamanho do desafio: o suicídio na juventude cresceu 81% na última década e é a segunda maior causa de morte na população entre 19 e 29 anos. Sintomas de depressão e ansiedade foram relatados por 36% dos jovens, de acordo com levantamento realizado pela Faculdade de Medicina da USP sobre os impactos da pandemia na saúde mental. Além disso, relatos de sofrimento psíquico e automutilação têm preocupado educadores e famílias no retorno à convivência presencial. 

O papel de intervir, porém, não é só da escola: é preciso que toda a sociedade se envolva.  “A articulação intersetorial fortalece a rede de proteção da comunidade, fazendo com que as pessoas percebam que têm onde encontrar auxílio e apoio, o que, por si só, eleva os fatores de proteção da saúde mental”, explica Alcione, que é mestra em Ciência pela Unifesp e diretora da Neuroconecte. 

Leia mais na entrevista a seguir: 

Educação e Território: Saúde mental, depressão e suicídio são temas sensíveis. Como abordar o tema de maneira responsável no contexto educativo e quais os erros mais comuns? 

Alcione Marques: O maior erro é continuar encarando o suicídio como algo que nada tem a ver com a escola. Entre 2010 e 2019, o suicídio entre jovens aumentou 81% no Brasil e a escola é onde estes sujeitos passam a maior parte do tempo.

A escola é um espaço privilegiado de convivência e proteção, podendo atuar de diversas maneiras para a prevenção do suicídio e valorização da vida de crianças, adolescentes e jovens.

Desta forma, o tabu precisa ser superado com informações qualificadas que levem os educadores a compreenderem melhor o fenômeno, a entender seu papel no fortalecimento dos fatores de proteção e na identificação e encaminhamento de estudantes que possam dar sinais de risco.

E&T: Quais atitudes a escola ou os educadores envolvidos podem adotar para prevenir o suicídio e conscientizar a respeito da importância da saúde mental? 

AM: O tema da saúde mental tem de fazer parte do cotidiano da escola em duas principais frentes. Uma delas, universal, com o objetivo de levar informações confiáveis e específicas para todos os estudantes e a comunidade escolar do que é a saúde mental e de como fortalecê-la, assim como para diminuir o estigma e os equívocos sobre os que têm transtorno mental.

Estas ações precisam também incluir a criação de espaços onde os estudantes possam falar sobre emoções, sentimentos e receber acolhimento e apoio em momentos difíceis e voltar-se para a construção de um clima escolar positivo, de pertencimento.

A outra envolve a organização de ações seletivas, aquelas específicas para estudantes que estão em maior vulnerabilidade para o sofrimento psíquico e o transtorno mental, que apresentam sinais de alerta para o transtorno mental ou que tenham o transtorno e que precisarão de maior apoio. Estas ações demandam que os educadores possam observar e identificar sinais, que a escola mantenha uma comunicação aberta e próxima com a família e que fortaleça a parceria com a área da saúde e da assistência social. E não podemos esquecer, ações que fortaleçam o processo de aprendizagem destes estudantes, que é fator de proteção.

E&T: Qual a importância da articulação de diversos setores (Educação, Saúde, Assistência Social, etc) para enfrentar a questão da saúde mental das crianças e adolescentes?

AM: Esta articulação é fundamental. A saúde mental na concepção atual é compreendida como uma ação intersetorial, que envolve diversos âmbitos da sociedade. Deste modo, da mesma forma que é um equívoco pensar que somente a saúde dará conta das questões de saúde mental, é um engano considerar que a escola dará conta das demandas de saúde mental da comunidade escolar sozinha.

A articulação intersetorial fortalece a rede de proteção da comunidade, fazendo com que as pessoas percebam que têm onde encontrar auxílio e apoio, o que, por si só, eleva os fatores de proteção da saúde mental. Permite também que se potencialize a divulgação de informações de qualidade e que se articule e se combine diversas ações frente ao adoecimento mental.

Precisa ser fortalecida pelo poder público, ao nível institucional, mas também localmente, com cada escola buscando conhecer e aproximar-se dos serviços disponíveis.

Procure ajuda

O Centro de Valorização da Vida (CVV) realiza apoio emocional e prevenção do suicídio. Ele atende de forma voluntária e gratuita todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, email e chat 24 horas todos os dias. Caso você ou algum conhecido se encontre nessa situação, busque ajuda aqui. Conheça também a iniciativa Pode Falar, voltada para jovens de 13 a 24 anos.

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