publicado dia 30 de agosto de 2022
Documentário investiga relação do brincar durante a pandemia
Reportagem: André Nicolau
publicado dia 30 de agosto de 2022
Reportagem: André Nicolau
O documentário Brincar Livre: de dentro para fora, lançado recentemente pelo programa Território do Brincar em parceria com o Instituto Alana, tem como fio condutor a transição do brincar durante o período mais restritivo da pandemia do coronavírus.
Dirigido pelos documentaristas Renata Meirelles e David Reeks, a produção investiga a relação cotidiana das crianças, primeiramente, nas suas casas e, após dois anos, retratando o retorno ao espaço público, ao convívio social e à escola.
No último dia 16 de agosto, o Instituto Alana promoveu uma sessão comentada sobre o documentário com a participação da Coalizão Brasileira, da qual o Instituto Aprendiz é um dos signatários. Entre os participantes, estiveram a diretora do filme e representantes das instituições envolvidas.
Para além do projeto audiovisual, ‘Brincar Livre: de dentro para fora’ propõe um convite à reflexão sobre como as crianças estão brincando nos dias de hoje no Brasil. Em meio a debates, materiais de apoio e outras ações, o projeto também conta com uma série de podcasts, dividida em diversos episódios que refletem a relação do brincar em diferentes ambientes da casa como quarto, cozinha, sala ou quintal.
De dentro para fora
Ao fazer uma imersão retrospectiva no processo criativo do projeto, Renata lembra o contexto histórico que marcou o seu início, no caso meados de 2020, fase inicial do isolamento social. “A vida era muito mais fora que dentro, então a gente percebe nessas conversas com as famílias como essa entrada em casa fez uma ocupação diferenciada dos diferentes ambientes. Nessa época, as crianças foram feito um rio que entraram e invadiram cada cantinho do espaço, fazendo uma reocupação daquilo que já era delas, mas não tinham se apropriado tanto assim quanto nesse uso que aconteceu na pandemia”, reflete.
Embora lançado recentemente, o trabalho de observação apresentado no documentário tem início em 2016, ao lançar mão da abordagem fenomológica, método que propõe interpretação de uma realidade partindo especificamente da observação. “Quando a gente fala hoje numa observação do brincar da criança, a gente fala pautado nessa metodologia, que foi uma introdução para essa relação desse olhar”, detalha a diretora.
Ao definir o conceito explorado no documentário, Renata recorda uma cena em que uma criança aparece brincando no escorregador, em uma dinâmica que, segundo ela, traduz muitos aspectos comportamentais diante do contexto pandêmico, “Essa criança passou a maior parte da vida fechada em casa e, obviamente, um escorregador se torna um desafio muito grande. Quando ele se vê naquele momento de desafio e procura pela mãe, está em busca de um ambiente seguro, até conquistar autoconfiança. O movimento do corpo da criança traduz muita coisa, seja na relação com o espaço público, sobre como alcançar e facilitar esse contato. E o filme traz isso, o que se aprende ao observar uma criança.”
A diretora, entretanto, pondera que o exercício da observação está diretamente relacionado a fatores externos, sobretudo durante o período mais restritivo da pandemia, seja por aspectos emocionais, sociais ou econômicos. Portanto, para que este processo de observação aconteça de forma sustentável, Renata ressalta que é indispensável um ambiente salutar em que se permita essa dinâmica. “Quando estamos submetidos ao caos, estresse, a uma relação do cotidiano muito caótica, não temos espaço interno para observar a criança. E é claro que houve mudanças drásticas e terríveis para essa criança, na relação social, no nível de desafio em que o brincar acontecia. É muito relevante perceber num contexto histórico em que as crianças nos ensinam, onde elas se agarram para atravessar, digerir, assimilar e expressar o seu dia a dia.”
‘Brincar Livre: de dentro para fora’ entrevistou 24 famílias da Grande São Paulo, com crianças entre 2 a 12 anos, de diferentes regiões da cidade, e diferentes moradas, desde casas a ocupação, aldeia indígena e condomínio. Ao todo, o projeto realizou mais de 90 entrevistas, totalizando cerca de 80 horas de escuta.
O filme está disponível no site do projeto Território do Brincar.