Perfil no Facebook Perfil no Instagram Perfil no Twitter Perfil no Youtube

publicado dia 31 de julho de 2023

Como a arqueologia visibiliza a história negra e indígena nas cidades 

por

Resumo: Descobertas de artefatos, sítios arqueológicos e exposições jogam luz sobre capítulos até então pouco conhecidos da história negra e indígena presente em cidades como Manaus (AM), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP). Entenda como a arqueologia ajuda a ampliar nossos conhecimentos sobre a história dessas populações. 

Recentemente, novas descobertas arqueológicas ajudaram a jogar luz sobre capítulos até então pouco conhecidos da história negra e indígena presente nas cidades brasileiras. 

Em São Paulo (SP), 8 sítios arqueológicos foram identificados só entre 2021 e 2023 durante escavações para a abertura de novas linhas de metrô. As descobertas – 11 no total, desde o início das obras –  ampliaram a visibilidade do passado negro existente por baixo das ruas de bairros centrais da capital, como Bixiga e Bela Vista. 

Leia + Caminhada São Paulo Negra resgata memória da diáspora africana

Já em Manaus (AM), urnas funerárias indígenas que podem ter mais de mil anos foram resgatadas por arqueólogos e moradores no início de julho. De valor inestimável, os objetos são uma pequena janela para a história da ocupação indígena antes da chegada dos colonizadores. 

Saracura, Cais do Valongo e a história negra visibilizada pela arqueologia

Como a arqueologia visibiliza histórias negras e indígenas presentes nas cidades (1)
Obras da nova estação do metrô no sítio arqueológico do Quilombo Saracura, no Bixiga, região central de São Paulo (SP). Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

Na capital paulistana, a ampliação do metrô na região central acabou por revelar 11 sítios arqueológicos associados à história da população negra. 

Originado no século 19, o Quilombo Saracura recebeu o nome de um córrego de mesmo nome, que cruzava aquela região da cidade. Conhecido como Pequena África, o local está ligado à história de resistência negra, cuja ocupação do espaço é anterior à de imigrantes italianos e japoneses, hoje mais associados à história da região. 

Leia + Paulo Freire, Fernão Dias e a disputa pela memória das cidades

Com pedaços de louças, vidros e metais, o patrimônio arqueológico presente nos sítios de Saracura/Vai-Vai, Lavapés e dos Aflitos ajuda a contar como era a presença negra nos séculos 19 e 20. Apenas durante as primeiras prospecções no local, já foram encontradas 2 mil peças. 

O patrimônio arqueológico dos sítios de Saracura/Vai-Vai, Lavapés e dos Aflitos ajuda a revelar a presença negra no centro de São Paulo nos séculos 19 e 20

Outro importante sítio arqueológico negro, o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro (RJ), também foi revelado em 2011 durante escavações para novas construções na área portuária da cidade. Por ele, estima-se que passaram 1 milhão de escravizados em apenas 40 anos dos 300 em que a escravidão foi permitida no Brasil. Em 2017 passou a integrar a lista do Patrimônio Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). 

Histórias indígenas reveladas pela arqueologia na Amazônia 

No início de julho de 2023, arqueólogos do Museu da Amazônia (MUSA) resgataram em Manaus (AM) seis grandes objetos – provavelmente urnas funerárias – que podem datar de mais de mil anos. 

A descoberta do sítio arqueológico Nova Cidade ocorreu há 22 anos, durante a realização de obras para habitação no local. As urnas resgatadas são uma pequena parcela das 200 encontradas originalmente, mas danificadas durante o processo de terraplanagem no local.

Leia + 6 comunicadores indígenas para conhecer e ampliar o olhar

Também participaram dos esforços de resgate e preservação indígenas de etnias que residem no local. São cerca de 3,5 mil famílias, incluindo indígenas de 16 etnias, entre elas Mura, Kokama, Tukano, Baré e Kulina, além de moradores não-indígenas.

Os artefatos – que serão estudados pelos pesquisadores – são uma janela para entender a ocupação da região amazônica antes da chegada dos colonizadores. 

Artefatos encontrados em Manaus (AM) são uma janela para entender a ocupação da Amazônia antes da chegada dos colonizadores

Em cidades como Santarém (AM) e São Gabriel da Cachoeira (AM), descobertas e pesquisas arqueológicas também apontam para uma história e uma ocupação indígena bem mais complexa do que a ensinada nas escolas ou presente no senso comum.

Leia + Constituição ganha tradução para língua indígena   

De acordo com o livro Sob os tempos do equinócio: Oito mil anos de história na Amazônia Central (Editora Ubu, 2022), de Eduardo Góes Neves, estimativas conservadoras calculam que os ancestrais dos povos indígenas já habitavam o Brasil há 12 mil anos. 

No caso da Amazônia, as evidências apontam para uma presença indígena de pelo menos 8 mil anos. A povoação do espaço amazônico era intensa e sofisticada, com trocas comerciais e culturais realizadas por grandes distâncias. 

Exposição de cerâmicas leva passado ameríndio à museu em São Paulo 

Como a arqueologia visibiliza histórias negras e indígenas presentes nas cidades (3)
Mostra Comodato MASP Landmann exibe 721 peças produzidas por populações indígenas ameríndias.

Além das novas notícias arqueológicas, a realização de exibições em museus, como a Comodato MASP Landmann — cerâmicas e metais pré-colombianos, em exibição no MASP,  ajudam a visibilizar para a população saberes e tecnologias indígenas. 

Com cerâmicas e artefatos indígenas pré-colonização europeia, a mostra reúne objetos de países da América Latina, incluindo o Brasil. Ao todo, são 721 peças produzidas entre os séculos 2 a.C e XVI,  com cerca de 25 originárias do atual território brasileiro. Inaugurada em 30/06, a mostra ficará em exibição no museu paulistano até 03/09. 

Leia + MASP: museu dedica programação aos povos indígenas em 2023

Para a curadora da mostra, Márcia Arcuri, os visitantes poderão vislumbrar uma América indígena extremamente organizada, bastante povoada e com senso de coletividade. Essa história dos povos indígenas ameríndios, conta a curadora-adjunta de arte pré-colombiana no MASP, em muitos sentidos foram apagadas das narrativas oficiais. 

Assim, apesar de ser um campo ainda incipiente no Brasil, a chamada arqueologia pré-colombiana (ou pré-colonial) permite acessar uma série de registros e criar narrativas a partir de referências, – objetos, artefatos, etc. –  como se fossem acervos documentais. 

“São acervos documentais de objetos que nos permitem uma proximidade grande com processos históricos e percepções compartilhadas pelos povos ameríndios”, explica a curadora, que também é professora da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP).

Para ela, a arqueologia permite conhecer um passado e, acima de tudo, um pouco da estrutura de pensamento desses povos, em geral estudados no campo da Antropologia. “Conseguimos observar parte desse universo registrado pela Antropologia nos materiais. Essas coleções arqueológicas, portanto, são a equivalência de um arquivo histórico- documental”, compara. 

Assistente curatorial da exposição, Leandro Muniz explica que, dentro da programação do MASP, a mostra Comodato Landmann cumpre a função de mostrar essa América existente antes da chegada dos colonizadores. “São 35 culturas arqueológicas, com peças muito especiais”, destaca.

Caminhada São Paulo Negra resgata memória da diáspora africana no centro da cidade

As plataformas da Cidade Escola Aprendiz utilizam cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para recomendar conteúdo e publicidade.
Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.