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publicado dia 12 de abril de 2022

A importância de ouvir crianças na criação de territórios democráticos

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Em um país em que cerca de 110 milhões de pessoas (e principalmente crianças) se encontram em situação de inabitabilidade, ou seja, sem condição mínima de habitação, teto e casa, debater as transformações necessárias para a criação de territórios democráticos se tornou uma demanda de extrema urgência.

Livro reúne histórias e reflexões sobre cidade, gênero e infância

É necessário, sobretudo, reunir saberes teóricos e práticos que levem em conta as populações mais vulneráveis, como crianças, mulheres e outras minorias, na construção de novos espaços urbanos. Esse desafio foi tema central da live de lançamento do livro “Cidade, Gênero e Infância”, realizada na última sexta-feira, 9, no YouTube.

A coletânea reúne 22 textos acadêmicos assinados por profissionais de educação, psicologia, ciências sociais, urbanismo e arquitetura e propõe maior zelo no desenvolvimento e uso de cidades, olhando para os territórios como ambientes mais inclusivos. “A gente enfrenta extremos, e a arquitetura é protagonista desse momento de colapso socioambiental, capaz de encabeçar alternativas possíveis para novos caminhos. Também precisamos entender que os saberes formais e informais, em igual relevância, são capazes de transformar as realidades”, ressaltou o arquiteto e urbanista Rodrigo Mindlin, que organizou a publicação em parceria com a arquiteta Ana Gabriela Godinho.

Convivência coletiva

Considerando o impacto do território na vida das crianças, a psicóloga e uma das autoras que assinam a coletânea, Ana Marcílio, destaca que ocupar espaços públicos, reforçando a importância da convivência coletiva, é um caminho fundamental para repensar o uso da cidade. “Ouvindo as crianças encontraremos caminhos para a mudança. Ocorre cada vez mais um encurtamento da autonomia e liberdade da criança. Quando se cria a privatização dos espaços e da própria criança, logo você cria uma sociedade segregada”, diz Ana.

Verbalização das demandas

O professor universitário e documentarista Hermílio Santos, diretor do filme Infância Falada, reflete que, apesar de as crianças serem agentes centrais no debate sobre a construção de novos espaços, gestores municipais não promovem qualquer diálogo com esse público. “As crianças são experts em seu cotidiano e no ambiente urbano, e quase nenhum prefeito se dá conta de ouvi-las. Instalam equipamentos urbanos à revelia de seus usuários e as crianças sabem muito bem o que lhes falta. Crianças de seis, sete, oito anos, são muito competentes em verbalizar suas demandas, o que bastaria se nossos gestores estivessem atentos a isso”, afirma.

Santos aponta ainda que muitos aspectos arquitetônicos ou mesmo urbanísticos estão relacionados ao aumento da violência nesses ambientes. “Uma correlação muito explícita, por exemplo, é que nos domicílios sem banheiro a violência a que essas crianças são expostas é muito maior. E nós temos, segundo o IBGE, três milhões de residências sem nenhum banheiro. Muitos aspectos não estão vinculados à cultura da violência, mas identificamos uma estrutura urbana que provoca uma violência mais recorrente, como falta de iluminação e ausência de banheiro.”

Cidade x Aldeia

Para o psicólogo Rodrigo Gambini, cujo trabalho se debruça nas teorias da escola junguiana, muitos desafios que envolvem a crise de desumanização dos espaços urbanos estão ligados ao arquétipo da criança. “Um ser humano desprovido dessa dimensão psíquica fica movido por interesses materiais e perde um pedaço da sua alma. Esse contingente destituído da criança divina está crescendo e aparece na cidade. Quem pensa a cidade é a indústria imobiliária”, ressalta.

Gambini também enaltece os saberes indígenas que privilegiam as crianças. “A realidade é que aquela rua, onde a gente andava de rolimã, não existe mais. As cidades eram jardins da infância. Como são hoje as aldeias indígenas, onde a criança vai no lugar que ela quiser, nada é proibido. Isso porque os indígenas têm um enorme respeito pelas crianças e na cidade esse respeito acabou’, finaliza.

Quer saber mais sobre o assunto ? Confira essas e outras questões na live:

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