publicado dia 28 de junho de 2023
Diversidade: conheça 4 espaços de memória e museus LGBTQIAPN+
Reportagem: Ana Júlia Paiva
publicado dia 28 de junho de 2023
Reportagem: Ana Júlia Paiva
Quantos espaços de memória ou museus LGBTQIAPN+ você conhece? 28 de junho é o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+, data para celebrar conquistas históricas e também para lembrar a luta dessa população por mais direitos e respeito.
A data é uma referência à Revolta de Stonewall (Stonewall Riots), episódio de resistência ao abuso policial e preconceito protagonizado por drag queens, pessoas trans, gays e lésbicas em um bar de Nova York, em 1969.
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Stonewall é um marco para os direitos dessa população, cuja luta se fortaleceu ao longo dos últimos 50 anos, mas que ainda convive com discriminações, barreiras e violências.
Uma dessas violências é o apagamento histórico e a pouca valorização de personalidades e eventos ligados à luta LGBTQIAPN+, além da ausência de políticas públicas voltadas para a preservação da memória dessa população.
“Da mesma forma que políticas públicas voltadas aos LGBT seguem escassas, a maioria dos museus e espaços de memória continua estagnada em suas ações quando o assunto é diversidade sexual”, explica o artigo Memória e esquecimento LGBT nos museus, patrimônios e espaços de memória no Brasil, de autoria de Jean Baptista e Tony Boita, publicado em 2017 na Revista do Centro de Pesquisa e Formação do SESC-SP.
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No Brasil, ainda são poucos os espaços de memória e museus LGBTQIAPN+, mas as iniciativas existem e são fruto da mobilização e símbolos de resistência. Conheça, a seguir, 4 museus LGBTQIAPN+ e espaços de memória dedicados à diversidade:
Primeiro equipamento cultural da América Latina dedicado à memória e aos estudos LGBQIAPN+, o Museu da Diversidade Sexual (MDS) foi inaugurado em 2012 como um centro de memória e referência. Em 2018, tornou-se oficialmente um museu, cuja missão é “preservar o patrimônio sócio, político e cultural da comunidade LGBT brasileira, por meio da pesquisa, salvaguarda e comunicação de referências materiais e imateriais, com vista à valorização e visibilidade da diversidade sexual, contribuindo para a educação e promoção da cidadania plena e de uma cultura em direitos humanos”, explica a legislação.
Atual coordenadora pedagógica do espaço e historiadora da Arte pela Unifesp , Val Chagas explica que temas voltados aos direitos humanos, como direito à memória de pessoas LGBTQIAPN+, costumam sofrer resistência de setores da sociedade. “A cultura e a educação sofrem ataques porque transformam a consciência, emancipam os pensamentos e nos tornam mais críticos”, explica Chagas, que é transsexual não-binária e utiliza os pronomes ela/elu para se identificar.
Justamente por serem locais de resistência cultural e política, defende a importância de lutar para manter esses espaços abertos: “Tentam apagar nossos corpos e nossas memórias o tempo inteiro. Esses espaços culturais voltados às narrativas LGBTQIAPN+ nos ajudam a repensar essa lógica e eles garantem a nossa existência perante à sociedade. É o nosso direito à historicidade e memória”, comenta.
Temporariamente fechado para reestruturação, a sede física do Museu da Diversidade tem previsão de reabertura nos próximos meses. Até lá, é possível acessar parte do acervo online e interagir com diversas obras a partir do clipe interativo “Tour do Orgulho”, com a música Lili, da Liniker, disponível no site do museu.
Criado em 2018 em homenagem aos 40 anos do Movimento LGBTQIAPN+ no Brasil, o Centro de Memória João Antônio Mascarenhas está localizado em Pelotas (RS) e tem como propósito ser um espaço de identificação, sistematização, análise e difusão da história oral do ativismo LGBTQIAPN+ brasileiro.
Ele faz parte de um projeto interinstitucional, que articula grupos de pesquisa da Universidade Federal de Pelotas – como o Grupo de Pesquisa Políticas do Corpo e Diferenças, o Grupo de Estudos e Pesquisa em Sexualidades e o Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT – com organizações da sociedade civil.
O Centro de Memória é nomeado em homenagem ao fundador do pioneiro jornal O Lampião da Esquina, João Mascarenhas. Formado em Direito, Mascarenhas também lutou pela despatologização da homossexualidade, reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina em 1985.
Voltado à pesquisa, valorização, salvaguarda e divulgação do patrimônio histórico da população LGBTQIAPN+, o Museu Bajubá nasceu em 2012 a partir dos Roteiros pelos Territórios de Resistência e Memória LGBT do Rio de Janeiro. Em 2020, foi reformulado como museu virtual e ampliou seu escopo, abrangendo cidades como Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR) e São Paulo (SP).
De acordo com o pesquisador Fonseca Júnior, o termo que dá nome ao museu (“bajubá”) é um substantivo yorubá (nagô) que significa “assunto, segredo, conversa, apresentação entre pessoas”.
Único museu com a temática transexual do Brasil e um dos poucos representantes do tipo no mundo, o Museu Transgênero de História e Arte (MUTHA) foi idealizado em 2018 por Ian Habib.
Sua proposta é coletar, entre outros pontos, aspectos da história e da memória de pessoas trans “vivas, falecidas ou assassinadas”, como artistas, ativistas e outras pessoas de destaque na comunidade.