publicado dia 25 de novembro de 2024
Violência contra a mulher: 21% das brasileiras já sofreram ameaça de morte de parceiro ou ex
Reportagem: Tory Helena
publicado dia 25 de novembro de 2024
Reportagem: Tory Helena
🗒️Resumo: O que as brasileiras dizem sobre a violência contra a mulher? Nova pesquisa do Instituto Patrícia Galvão ouviu mulheres em todas as regiões do país para jogar luz sobre as percepções e vivências delas quando o assunto é violência doméstica e feminicídio.
No Brasil, duas em cada dez mulheres (21%) já receberam ameaças de morte de parceiros, namorados ou maridos. O índice é ainda maior entre as mulheres negras: 25%, ante 16% registrado entre as brancas.
Além disso, a maioria (seis em cada dez) afirma conhecer ao menos uma mulher que já foi ameaçada de morte pelo atual companheiro ou pelo ex. O medo de ser morta e a dependência financeira do agressor estão entre os motivos apontados por elas para não romper com o ciclo de violência.
Os dados são da pesquisa “Medo, ameaça e risco: percepções e vivências das mulheres sobre violência doméstica e feminicídio”, divulgada pelo Instituto Patrícia Galvão no Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres (25 de novembro).
Para chegar aos resultados, a pesquisa ouviu 1.353 mulheres com idade igual ou superior a 18 anos nas cinco regiões do país. O objetivo do estudo é orientar ações governamentais e da sociedade civil em prol da defesa das mulheres.
Violência contra a mulher: enfrentamento e prevenção
A pesquisa do Instituto Patrícia Galvão também mostrou que parte das brasileiras estão descrentes sobre a eficácia das políticas públicas e de leis para protegê-las. Questionadas sobre o que acontece com aquele que comete violência doméstica, 37% responderam “nada”.
Outras 34% responderam que eles são obrigados a manter distância da vítima e 20% que os agressores são presos. Para 95% delas, embora saibam que violência doméstica é crime, os homens pensam que não serão punidos.
84,5% dizem que a medida protetiva é insuficiente, já que o agressor não irá respeitá-la e as polícias não podem garantir a segurança da mulher
Muitas (84,5%) também concordam que a medida protetiva é insuficiente, já que o agressor não irá respeitá-la e as polícias não podem garantir a segurança da mulher.
Ao mesmo tempo, 70% identificaram espontaneamente a Delegacia da Mulher como a instituição de referência no caso de violência contra elas. O índice salta para 97% quando a delegacia é apresentada entre locais, órgãos ou serviços em que as mulheres podem pedir ajuda.
Além das delegacias convencionais e forças policiais, 41% das entrevistadas citaram órgãos de Assistência Social como o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS). Secretarias de Direitos Humanos ou Mulheres foram citadas por 37%.
De acordo com as respostas coletadas pela pesquisa, 64% apontam a dependência financeira do agressor como principal razão para a mulher não sair da relação, mesmo diante de violências constantes e ameaças.
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Acreditar que o agressor se arrependeu e vai mudar é apontada como motivo para 61%, enquanto o temor de ser morta caso termine a relação foi colocado como razão por 59%. Dependência emocional, vergonha, medo de não receber apoio de familiares ou de perder a guarda dos filhos também apareceram entre as respostas.
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A ampla maioria (nove em cada dez) das mulheres acredita que os casos de feminicídio acontecem principalmente por conta do ciúmes e possessividade dos parceiros/agressores. Já o machismo estrutural foi colocado como fator motivador dos feminicídios por 44%, seguido de impunidade dos agressores (42%) e falta de políticas públicas para proteção às mulheres (33%).
Feminicídio: 140 mulheres são mortas por dia no mundo
Outro levantamento, realizado pela ONU Mulheres, revela que o feminicídio – a forma mais extrema de violência contra a muher – segue como um problema generalizado no mundo todo.
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De acordo com o relatório Feminicídios em 2023: Estimativas Globais de Feminicídios por Parceiro Íntimo ou Membro da Família, 85 mil mulheres e meninas foram mortas intencionalmente no ano passado. Desses homicídios, 60% de todos os assassinatos de mulheres são cometidos por um parceiro íntimo ou outro membro da família.
Isso equivale a 140 mulheres e meninas mortas todos os dias por seus parceiros ou parentes próximos, ou seja, uma mulher ou menina assassinada a cada 10 minutos.
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