publicado dia 12 de janeiro de 2022
Urban95 foca no planejamento urbano olhando para a primeira infância
Reportagem: gabryellagarcia
publicado dia 12 de janeiro de 2022
Reportagem: gabryellagarcia
A Urban95, iniciativa internacional da Fundação Bernard van Leer https://bernardvanleer.org/pt-br, está trabalhando em parceria com 24 cidades brasileiras, de diferentes estados, como Piauí, Bahia, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. O objetivo central dessa rede, formada em julho de 2020, é tornar esses territórios mais acolhedores à primeira infância. O próprio nome da iniciativa já é um importante indicativo do seu foco de atuação: 95 cm é a altura média de uma criança de três anos.
E como isso é feito? Através da inclusão da perspectiva de bebês, crianças pequenas e cuidadores no planejamento urbano, nas estratégias de mobilidade e nos programas e serviços para que os locais tenham um futuro mais sustentável. Ou, em outras palavras, “a iniciativa visa incorporar as lentes da primeira infância na gestão das cidades, a partir de ações efetivas que promovam interações positivas, contato com a natureza nos espaços urbanos, proximidade entre serviços e mudanças duradouras nos cenários que moldam os primeiros anos da vida de nossos cidadãos”, como descrito no site oficial (https://urban95.org.br/).
Thaís Sanches, que é coordenadora da Urban95, destaca a importância de um olhar mais atento para as necessidades das crianças, pois não adianta uma cidade ser planejada se a sua comunidade não consegue acessar os serviços e espaços públicos.
O programa de parceria com as cidades foi formalizado em 2019, tendo sido iniciado no ano anterior por uma ação com as cidades de Boa Vista (RR), Recife (PE) e São Paulo (SP). Em 2020, mais 10 cidades passaram a integrar o programa; em 2021, outras 11 se somaram. Valorizando a diversidade de regiões e a partir de critérios pré-estabelecidos – que não envolvem o tamanho das cidades, por exemplo – inicia-se o trabalho, caso o poder municipal apresente uma carta de interesse e comprometimento.
“Nós identificamos se existe um plano municipal para a primeira infância e damos suporte no aprimoramento; também há consultoria em urbanismo e mobilidade. Temos parceiros que apoiam as cidades e fazemos a construção de um comitê com (agentes das Secretarias Municipais de) Saúde, Educação, Assistência Social, Meio Ambiente, Cultura, Transporte e Segurança para entender qual é a situação e quais são as prioridades para fazer um plano de ação”, explica Thaís.
Há então uma troca entre as próprias cidades participantes, além de encontros formativos e oportunidades de cursos para a equipe gestora e técnica dos municípios. “Temos uma preocupação com a sustentabilidade das ações implementadas; trabalhamos para que o conhecimento fique por lá e possa ser replicado para outras áreas. São ações de médio e longo prazo”, complementa a coordenadora da Urban95.
Atualmente são 24 municípios envolvidos, bastante diferentes entre si em tamanho e estrutura: Alfenas (MG), Aracaju (SE), Alcinópolis (MS), Benevides (PA), Boa Vista (RR), Brasiléia (AC), Campinas (SP), Canoas (RS), Caruaru (PE), Cascavel (PR), Crato (CE), Fortaleza (CE), Ilhéus (BA), Jundiaí (SP), Mogi das Cruzes (SP), Niterói (RJ), Paragominas (PA), Pelotas (RS), Recife (PE), São José dos Campos (SP), São Paulo (SP), Sobral (CE), Teresina (PI) e Uruçuca (BA).
Alcinópolis (MS), Brasiléia (AC), Campinas (SP), Fortaleza (CE) e Jundiaí (SP) são exemplos de cidades que vêm desenvolvendo processos de escuta de crianças pequenas nas decisões políticas. Estas prefeituras mobilizaram o público infantil para, por exemplo, opinar sobre as possíveis melhorias no trajeto da escola para casa. A cidade de Jundiaí mantém um grupo de trabalho com crianças que foram ouvidas também sobre a construção do seu plano de bairro.
Além disso, com o trabalho em rede, gestores públicos entenderam que considerar a experiência das crianças pode ser muito positivo. Passaram, então a investir em soluções simples, baratas e com possibilidade de melhorar imediatamente a qualidade de vida de todos: crianças e seus núcleos familiares. Ruas de lazer, trilhas educativas e rotas interativas são alguns dos projetos inspirados em iniciativas internacionais e que hoje já proporcionam uma nova forma de ocupação do espaço público.
Um exemplo é o projeto Territórios Educadores, que desenvolveu caminhos lúdicos no trajeto escola-casa no Campo Limpo, bairro no extremo sul da cidade de São Paulo. A ideia é que as crianças possam interagir e aprender brincando enquanto caminham pelas calçadas, com muros pintados, um jogo de amarelinha ou números coloridos no chão, um jardim sensorial ao longo do trajeto e outros estímulos ao seu pleno desenvolvimento.
Boa Vista (RR), que foi a cidade pioneira a integrar o projeto e é conhecida como a capital da primeira infância, busca trabalhar no aumento da oferta de serviços para a família e a primeira infância, além de promover a utilização de espaços públicos direcionados para essa faixa etária.
Joana Gomes, gerente da AVSI Brasil (Associação Voluntários para o Serviço Internacional – https://www.avsibrasil.org.br/) e parceira do projeto em Boa Vista, também destaca a importância do trabalho realizado com crianças refugiadas, com um alto fluxo de migrantes venezuelanos. “Temos um projeto de urbanização e criação de parques, além da integração com a população migrante e refugiada da cidade”. Dentro de três dos abrigos de acolhida da cidade foram construídos três parques infantis e uma quadra poliesportiva para crianças. “Temos em média 50% de crianças entre a população abrigada e, durante a pandemia, com isolamento e sem acesso a muitos locais públicos, foi muito importante oferecer esse tipo de atividade”.
Ela também destacou a importância de se olhar a longo prazo. “É um projeto que traz retorno, com certeza. Essa é uma idade que precisa de mais cuidado”. Segundo ela, o investimento na criança reflete em todos ao seu redor, além delas próprias mencionando que “… no futuro as crianças terão outra qualidade de vida, o que aumenta também as oportunidades que virão, o que é fundamental para o desenvolvimento”.
A Urban95 é uma iniciativa internacional da Fundação Bernard van Leer que visa incluir a perspectiva de bebês, crianças pequenas e seus cuidadores no planejamento urbano, nas estratégias de mobilidade e nos programas e serviços destinados a eles.
O programa é desenvolvido sob a perspectiva de quem tem 95 cm – a altura média de uma criança de 3 anos. A Rede Urban95 está presente também em Israel, Peru, Turquia, Holanda (sua sede), Jordânia e Índia.