publicado dia 19 de abril de 2022
Projeto registra tradições dos povos originários em apoio à causa indígena
Reportagem: André Nicolau
publicado dia 19 de abril de 2022
Reportagem: André Nicolau
Neste 19 de abril, data em que é comemorada o Dia da Resistência dos Povos Indígenas, empenha-se o debate em torno do legado cultural nativo. Sua contribuição ao patrimônio brasileiro, à nossa identidade e as formas de contato com o meio ambiente e território.
Histórico, negligenciado há séculos, que ainda hoje exige a valorização e sua difusão no combate a estereótipos e preconceitos, além de garantir a manutenção dos saberes tradicionais às futuras gerações.
Diante desse desafio, a organização social Ponto de Cultura Povos da Mata Atlântica criou um projeto de valorização do povo Guarani M’Bya, que vive em Cananéia (SP), por meio de registros fonográficos e audiovisuais.
A iniciativa, realizada desde 2015, surgiu de uma demanda das próprias comunidades que despertaram para a possibilidade de expandir os trabalhos com a cultura indígena local em parceria com a Terra Indígena Tekoa Takuari-Ty da etnia Guarani M´Bya.
Para a liderança Abílio da Silva Martins Wera Poty, o apoio do Ponto de Cultura facilitou os trabalhos burocráticos e o acesso a recursos financeiros, trazendo mais autonomia para a comunidade.“Ficou mais fácil realizar nosso trabalho, participar de encontros e apresentações fora do município de Cananéia, além da importância da divulgação que eles fazem dos nossos direitos e da realidade das aldeias”.
Em 2021, o Ponto de Cultura colaborou com o registro dos cantos e danças tradicionais da Tekoa Takuari-Ty. Os conteúdos gerados estão disponíveis em plataformas digitais, como YouTube e Spotify, assim como também foram produzidas mídias (CD e DVD) para a possibilidade de geração de renda, potencializando a economia comunitária na aldeia.
A história e a cultura Guarani M’Bya são de tradição oral, passadas dos mais velhos aos mais jovens, constando muito pouco sobre elas nos livros e na história oficial. “O registro criativo da cultura e da memória oral dos Povos da Mata Atlântica é importante não só para as culturas relacionadas a eles em si, mas principalmente para recontar a verdadeira história do Brasil”, afirma Fernando Oliveira, gestor do Ponto de Cultura Povos da Mata Atlântica.
Tecnologia como instrumento de resistência
Questionado sobre a importância da tecnologia para a preservação dos saberes tradicionais, Abílio ressalta a contribuição das plataformas digitais em um mundo cada vez mais conectado. “É uma forma de melhorar o registro histórico porque antigamente não tínhamos essa oportunidade. Os povos indígenas perderam muito do que deveria se manter: a linguagem e a cultura. Por isso, esse é um instrumento de registro e de resistência. O que a gente passa de geração em geração é que devemos valorizar a vida, preservar a natureza e garantir o futuro da nossa Terra”.
Cultura Guarani em sala de aula
Para Oliveira, embora o projeto não tenha sido pensado especificamente para o público escolar, parte dos conteúdos são propícios à dinâmica em sala de aula. “Os conteúdos podem e devem ser apropriados por educadores interessados em aprofundar as possibilidades de aprendizado sobre os povos originários. Algumas escolas de São Paulo já estão fazendo uso dos vídeos nas etapas de preparo para viagens de estudo do meio. No segundo semestre, ao menos três escolas devem visitar a Tekoa Takuari-Ty com o objetivo de conhecer e vivenciar presencialmente um pouco da cultura Guarani M’Bya”.
Em 2016, o Ponto de Cultura cocriou um roteiro de turismo pedagógico para incluir a Terra Indígena Tekoa Takuari-Ty como destino de grupos escolares que visitam o município de Cananeia, fortalecendo assim, a cultura indígena através da educação e do turismo responsável e de base comunitária.
Todas as ações fazem parte do programa Ponto de Memória, um programa cooperativo e participativo do Ponto de Cultura Povos da Mata Atlântica para registro, fortalecimento, valorização, apoio, disseminação e transmissão do patrimônio cultural imaterial relacionado às comunidades tradicionais e aos povos indígenas que vivem na Mata Atlântica.