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publicado dia 24 de outubro de 2022

Para além dos muros da escola, EMEF Professor Waldir Garcia transforma bairro em território educativo

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Logo do prêmio territórios

Às margens do igarapé da comunidade Pico das Águas, em Manaus (AM), a EMEF Professor Waldir Garcia transforma os saberes do território onde está situada em aprendizado.  

Construída a partir da reivindicação dos moradores do bairro São Geraldo em 1987, hoje o trabalho desenvolvido pela escola, sob a batuta da diretora Lúcia Cristina Cortez, tornou-se referência pelo projeto de educação integral que vai além da sala de aula. Localizada em uma região de alta vulnerabilidade social, a história da instituição escolar está diretamente associada ao cotidiano do bairro São Geraldo. 

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“O projeto da Waldir Garcia dialoga e aprende com os saberes do território porque está articulada com a sua comunidade, porque é parte dela. A gente traz a comunidade para dentro da escola e a escola vai pra dentro da comunidade”, explica Lúcia, que recebe na escola cerca de 220 alunos, muitos oriundos de famílias de imigrantes haitianos. 

Por meio de um modelo de gestão que integra ações e projetos com diferentes setores da política pública, a escola utiliza-se da concepção de educação integral para desenvolver seu Projeto Político Pedagógico. Semanalmente, realiza assembleias para as tomadas de decisões internas envolvendo professores, familiares, merendeiras e outros funcionários da escola em uma dinâmica viva de desenvolvimento de estudos e discussões. 

Finalista da 6ª edição do Prêmio Territórios do Instituto Tomie Ohtake, realizado em parceria técnica com o Cidade Escola Aprendiz e o Centro de Referências em Educação Integral, a Waldir Garcia se destaca pelo trabalho de valorização dos diversos ambientes de aprendizagem, atribuindo a eles o significado e potencial de conhecimento que podem oferecer. “A gente tem que sair daquela escola em que o aluno só podia aprender de dentro da sala de aula, naquele ambiente fechado e não dá mais, porque toda escola precisa ir além dos muros. É necessário repensar os espaços e os tempos de ensinar e aprender”, reflete Lúcia.   

Símbolo de uma proposta pedagógica que valoriza o território educativo, a diretora enfatiza a necessidade de ruptura com o modelo tradicional de educação que, em sua avaliação, sinaliza esgotamento de continuidade. “Precisamos de escolas que sejam espaços alegres, com vida, de convivência e aprendizagem, lugares de liberdade de expressão cultural, artística e literária, de escolas que entendam sua função social”.  

Waldir Garcia, uma escola articulada com seu território  

Em meio a um cenário de ausência de políticas públicas, sobretudo em contextos de intensa vulnerabilidade social, a arquiteta e urbanista Carol Tonetti, diretora do Núcleo do Núcleo de Cultura e Participação do Instituto Tomie Ohtake, e uma das selecionadoras do Prêmio Territórios, destaca a importância da proposta pedagógica defendida pela Waldir Garcia. “A gente olha para territórios muito vulneráveis e vê a dificuldade que é criar essas redes de fortalecimento. Talvez por isso, muitas vezes, a escola se torna esse último grande equipamento capaz de propor políticas públicas”, opina a urbanista. 

Ela completa avaliando a contribuição das assembleias e dos grupos de trabalho, que, para além dos benefícios à própria escola, dão aos alunos a noção da importância da mobilização coletiva. “Pensar como a capacidade de mudança, de articulação da própria comunidade é capaz de agregar famílias e, como tudo isso contribui para o cuidado e a educação das crianças, é um aprendizado sobre articulação coletiva desde muito cedo”, explica.  

A selecionadora também chama a atenção para o trabalho de valorização e reconhecimento dos saberes da cultura local, diante de um processo de urbanização que desarticula conhecimentos e saberes das comunidades. “A cultura local, ribeirinha, tem sido muito afetada pelo crescimento urbano, territórios estão sendo rapidamente engolidos pela expansão urbana, então existe um grande trabalho de fortalecimento dessas comunidades, que precisam estar nas escolas para haver valorização desses outros modos de vida.”

A relação da escola com o território e seus saberes é fundamental para a aprendizagem não apenas dos estudantes, mas para as famílias, funcionários e todos os atores educacionais envolvidos na proposta pedagógica promovida pela Waldir Garcia. “Ao ocupar esse território, apropriando-se dele como espaço educativo, absorve-se uma série de aprendizagens, espacial, interpessoal, intrapessoal, linguística, matemática, corporal, musical, então são muitas lições tiradas. Quando a criança estuda às margens do igarapé, do rio, observado a fauna, a flora, ela aprende muito mais, porque dialoga com os interesses dela, há um significado imenso e um retorno muito grande na aprendizagem.”

Defensora de uma escola articulada, humanizada e humanizadora, Lúcia considera que o trabalho da Waldir Garcia pode servir de inspiração para outras escolas derrubarem os muros invisíveis que, muitas vezes, as distanciam dos próprios territórios. “Acreditamos na construção de uma escola que garanta a todos o direito de aprender. Uma escola viva, que ama e que vive intensamente a vida. Uma escola que vai além dos muros, que dialoga com o seu entorno como territórios de aprendizagem, com potencial enorme para interagir, aprender e se fortalecer com a comunidade.”

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