publicado dia 28 de junho de 2024
Museu da Diversidade Sexual resgata direito à memória da comunidade LGBTQIAPN+
Reportagem: Nataly Simões
publicado dia 28 de junho de 2024
Reportagem: Nataly Simões
Resumo: O Museu da Diversidade Sexual (MDS), vinculado à Secretaria Estadual de Cultura, Economia e Indústria Criativa de São Paulo (SP), voltou a abrir as portas para visitação após quase um ano e meio fechado para reestruturação. Mais amplo, o museu reforça seu papel de salvaguardar a memória da comunidade LGBTQIAPN+ com uma programação que conta com exposições e atividades para além dos muros.
Com filas para entrar, o Museu da Diversidade Sexual (MDS), localizado na República, região central de São Paulo (SP), retomou as atividades de cara nova no final de maio deste ano. O equipamento cultural, vinculado à Secretaria Estadual de Cultura, Economia e Indústria Criativa, estava de portas fechadas desde o segundo semestre de 2022. A reestruturação resultou na ampliação do espaço expositivo, que passou de 100 m² para 540 m².
Inaugurado em 2012, o Museu da Diversidade Sexual é o primeiro museu da América Latina dedicado à memória e aos estudos da diversidade sexual e de gênero. O acervo do espaço, com obras de arte, exposições e pesquisas, dialoga diretamente com a luta pela dignidade e promoção de direitos dessa população. Com a reabertura, a expectativa é de que o espaço receba 10 mil visitantes até o fim de 2024.
As atividades realizadas pelo equipamento cultural contemplam a pluralidade da sigla que representa pelo menos 2,9 milhões de pessoas acima de 18 anos no Brasil, que se declaram LGBTQIAPN+, de acordo com estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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Por que o direito à memória é importante para a população LGBTQIAPN+?
“O direito à memória é um elemento crucial para a garantia dos Direitos Humanos. Quando nós lembramos, nós garantimos o direito à presença, existência, vida, cultura e arte. A própria Constituição prevê isso ao dizer que todas as pessoas têm direito à cultura e que todas as pessoas formadoras da sociedade brasileira têm direito à memória, e as pessoas LGBTQIAPN+ estão incluídas”, afirma Tony Boita, gerente de conteúdo do Museu da Diversidade Sexual desde dezembro de 2023.
Em uma realidade marcada pela violência, o papel do Museu da Diversidade Sexual torna-se ainda mais necessário. A cada ano, o Brasil se mantém no posto de país mais homotransfóbico em todo o mundo. Em 2023, registrou-se 257 mortes violentas de pessoas LGBTQIAPN+, de acordo com um levantamento feito pelo Grupo Gay Bahia, a mais antiga Organização Não Governamental (ONG) LGBT+ da América Latina. O número de vítimas pode ser ainda maior, levando em conta que a organização levanta dados a partir de casos com repercussão na mídia, dada à falta de dados oficiais sobre violência contra essa população.
“Quando falamos de memória, também falamos de vida. Por isso, o debate da violência, da morte, tem o seu papel, mas também temos que entender que colocar as pessoas LGBTQIAPN+ como elemento fundamental da nossa sociedade é essencial. No Brasil, temos poucos espaços para a preservação da memória desse público. Ao todo são 60 museus dedicados a isso em um país com mais de 3 mil museus. Isso já é um reflexo da LGBTQIAPN+fobia”, pondera Boita.
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Resistência LGBTQIAPN+ nos territórios do centro de São Paulo
No período em que o espaço expositivo do Museu da Diversidade Sexual ficou fechado para visitação, as atividades do Núcleo de Educação do espaço ganharam ainda mais força. Um dos exemplos é o Rolezinho LGBTQIAPN+, que já se tornou tradição na programação e em 2023 ganhou o Prêmio Darcy Ribeiro de Educação Museal, promovido pelo Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM).
Sempre no último sábado do mês, um grupo de pessoas, composto por integrantes do museu e visitantes, faz uma caminhada que segue um roteiro no centro da capital paulista por espaços de sociabilidade e históricos da população LGBTQIAPN+, como a Praça da República.
“Nós visitamos espaços que rememoram a vivência dessa população. Nada mais é do que uma estratégia de ocupar os espaços de memória que são ocupados e utilizados pela comunidade LGBTQIAPN+. É importante garantirmos que essa memória permaneça presente na sociedade”, explica o gerente de conteúdo.
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No mês do Orgulho LGBTQIAPN+, celebrado em 28 de junho, a temática do Rolêzinho aborda a figura do escritor Mario de Andrade (1893-1945). O ponto de encontro para a caminhada é a sede do museu, na República, de onde os participantes inscritos irão até a Casa Mario de Andrade, na Barra Funda. O roteiro termina com uma roda de conversa chamada de “Dissidência sexual e literatura em Mário de Andrade“.
Exposições atuais
Com entrada gratuita e acessibilidade, desde a reabertura o Museu da Diversidade Sexual conta com duas exposições “Pajubá: a hora e a vez do close” e “Artes Dissidentes: o céu que brilha no chão”.
Pajubá, dialeto abraçado pela comunidade LGBTQIAPN+, tem origem na fusão de termos da língua portuguesa e de grupos étnico-linguísticos do continente africano. A mostra, com curadoria de Marcelo Campos e Amara Moira, mergulha principalmente na história de pessoas transexuais e travestis e resgata personagens importantes para a construção do que é conhecido hoje ao mesmo tempo em que dialoga com movimentos da arte contemporânea e propõe reflexões.
Já “Artes Dissidentes”, de curadoria de Dri Galuppo, traz fotografias da ocupação do espaço público por coletivos artísticos em áreas urbanas de diferentes partes do Brasil.