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publicado dia 5 de outubro de 2022

Documentário revisita a história do Parque da Juventude, marcada pelo Carandiru

Reportagem:

Trinta anos após o massacre do Carandiru, ocorrido no dia 2 de outubro de 1992 durante ação policial que resultou oficialmente na morte de 111 detentos, o maior complexo prisional da América Latina ainda ocupa lugar na memória ou no imaginário dos brasileiros, ainda que a presença mais recente do Parque da Juventude busque ressignificar a paisagem da região. 

Com o nome oficial de Parque da Juventude – Dom Paulo Evaristo Arns, o equipamento público foi inaugurado em 2003 no bairro de Santana, na Zona Norte de São Paulo, no mesmo local da antiga casa de detenção. As conexões entre passado e presente são pontos de partida do projeto multimídia Parque Reverbera. 

Realizado pelo coletivo de produção cultural 300 Noise, o projeto multimídia se desdobra em 8 episódios com entrevistas no podcast (disponível na plataforma Spotify) e quatro mini-documentários publicados no YouTube. 

Parque Reverbera 

Criado com apoio da Prefeitura de São Paulo por meio do programa de Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), Parque Reverbera retoma a história da ocupação da região – inicialmente pelos povos indígenas, posteriormente dizimados e deslocados pelo processo de urbanização de São Paulo, depois pelo complexo do Carandiru e, por fim, pela demolição do presídio e a construção do Parque da Juventude. 

“O passado constrói o presente”, reflete o idealizador Guilherme Leria, que é também professor de Geografia. A lógica, explica ele, vale tanto para programas sociais com legado positivo para a população quanto para o sistema prisional brasileiro.

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“Falando especificamente do complexo do Carandiru, ele ainda está presente lá mesmo com o parque substituindo o presídio”, conta Leria. Um dos exemplos é a Penitenciária Feminina da Capital,  que já fez parte do complexo do Carandiru e segue funcionando no mesmo endereço. “O horror histórico do presídio continua reverberando na região do parque”, afirma.  

Documentário Parque Reverbera 

No primeiro episódio, o documentário apresenta o processo de formação da cidade de São Paulo, contando sobre as primeiras migrações ocorridas na cidade, processo de industrialização, cenário cultural da época, o ‘boom’ populacional até chegar ao contexto histórico que deu origem à Casa de Detenção, em 1920. 

O segundo episódio remete ao contexto histórico que levou à formação do bairro de Santana, a criação do Campo de Marte, quartéis e outros pontos importantes da região, em meio ao desenvolvimento urbano que também tinha como efeito o aumento da desigualdade social na cidade. E de que forma esse ambiente na cidade se relacionou com o encarceramento em massa na Casa de Detenção. 

O massacre ocorrido em 1992 mudaria para sempre os rumos do complexo penitenciário, que passou a ser observado por todo o mundo após a morte de 111 detentos. O terceiro episódio destaca a importância da música, na figura do rap, como protagonista na denúncia sobre as condições do sistema penitenciário brasileiro. 

O quarto e último episódio parte da implosão da Casa de Detenção, que deu lugar ao Parque da Juventude e analisa os impactos do equipamento público para a região, seja através do esporte, lazer e da música. Também analisa os efeitos da especulação imobiliária no processo de exclusão dos moradores das comunidades próximas.  

Ocupando 240 mil m², o Parque da Juventude fica no mesmo ponto dos antigos pavilhões do Carandiru e abriga, desde 2010, a Biblioteca São Paulo, além de quadras poliesportivas, trilhas em áreas verdes e a escola técnica ETEC Parque da Juventude. 

Para Leria, que não obteve autorização para filmar no espaço e recorreu a imagens de acervo para montar a versão audiovisual do projeto, o equipamento tem papel simbólico de apagamento da história do Carandiru, apesar de ser uma infraestrutura pública de lazer e cultura da Zona Norte. Além disso, aponta para as contradições da gentrificação e crescente elitização do espaço. 

Esse aspecto [da infraestrutura] do parque é muito apropriado pela especulação imobiliária e faz com que seja possível observar uma crescente elitização daquele espaço. Mas ainda assim é impossível negar que ele serve de espaço para a juventude da cidade”, reflete o educador. “Nos últimos a ETEC foi fechada para o público, o parque cercado e a polícia vem tomando ações mais agressivas em seu policiamento da região. Tudo isso são sintomas de uma gentrificação do parque que vem piorando nos tempos recentes”, critica. 

 

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