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publicado dia 11 de janeiro de 2021

Curso de extensão da UFPB luta pelo direito à cidade interseccionando ação educativa, comunicação e incidência política

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O estudante de turismo Paulo Lacerda sempre se interessou pela relação entre mobilidade urbana, realidade turística e direito à cidade Foi por esse motivo que em 2019 ele ingressou no curso de extensão Pedagogia Urbana, oferecido pelo Núcleo de Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

A formação integral do curso de extensão, que propõe uma relação direta entre o conhecimento produzido dentro da universidade com movimentos sociais e territórios que a cercam, revelou ao estudante como é possível gerar aprendizados no encontro entre academia e cidade. 

“O intuito foi sempre pegar o conhecimento produzido dentro da universidade e mesclar com o de quem vive a realidade, de quem experiencia o território”, explica Paulo. “Fazer uma aproximação entre lideranças de movimentos sociais, dialogar com o território e ajudá-lo a se estruturar e a se comunicar melhor.”

A concepção do projeto de extensão Pedagogia Urbana, que há três anos atua pelo direito à cidade em João Pessoa (PB), nasceu coletiva. Em 2018, a geógrafa Andréa Porto, depois de experienciar trabalhos em organizações sociais e participar da criação de uma delas — a Minha Jampa — se reuniu com pares da universidade para criar o curso de extensão, que congrega ativistas, representantes de movimentos sociais, artistas, estudantes, professores e cientistas de diversas áreas do conhecimento. 

“É ação educativa, comunicação e incidência política a partir da ideia de disseminar a noção da natureza social da cidade”, explica Andréa. “Quando falo de natureza social, é a noção de que a cidade é nosso habitat e que vive de nossos compartilhamentos. O Pedagogia Urbana trabalha para que as pessoas se reconheçam na cidade e queiram e possam ter interesse em participar de sua vida pública.”

Nos últimos três anos, o curso de extensão trabalhou com comunidades locais como a comunidade tradicional Porto do Capim, com a incidência em políticas públicas como o Plano Diretor de Mobilidade, além de formação de lideranças locais com parceiros como 32xSP

pessoas se reunindo em território de joão pessoa
Encontros em diversos territórios da cidade sempre fizeram parte da curso de extensão Pedagogia Urbana / Crédito: Andréa Porto

Democratizar o direito à cidade em João Pessoa 

João Pessoa é a única cidade do Nordeste com financiamento do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) para o desenvolvimento de uma cidade sustentável em conformidade com os Objetivos Sustentáveis da ONU. Enquanto outras cidades brasileiras lutam para ter investimento para pensar em planos de mobilidade, a capital paraibana desde 2016 conta um aporte financeiro. 

Mas para que este plano de mobilidade refletisse os desejos da população, ele devia ser construído em conjunto por pessoas que caminham e vivem a realidade da cidade. Por isso, desde 2018 o curso de extensão Pedagogia Urbana  acompanha a criação do Plano Diretor de Mobilidade da cidade em duas frentes: o de formação e apoios à coletivos de mobilidade urbana, como o Cidade Bike, e também o de acompanhamento e incidência política para pressionar o poder público a tornar o processo participativo. 

Não tem sido um trabalho simples, muito por conta dos imbróglios burocráticos à participação social impostos pela gestão da cidade. Em 2020, o Pedagogia Urbana se preparava para trabalhar a comunicação territorial: como o plano de mobilidade estava para ser votado, eles fariam ações presenciais em vários territórios da cidade. Mas então veio a pandemia, e as atividades migraram para o mundo digital.

O acompanhamento do Plano Diretor de Mobilidade durante 2020 não ocorreu como esperado, e o coletivo irá rever como incidir sobre o plano que foi aprovado e que segundo eles não conta com participação social efetiva. Mesmo assim, a experiência que aconteceu em sua maior parte no campo digital, mas também com mapeamento físicos de ciclovias e outras malhas de transporte coletivo, foi de grande valia para projetos futuros do Pedagogia Urbana. 

Em 2021, a ideia é continuar a se aprofundar nas questões ambientais da cidade de João Pessoa. “Queremos fazer um debate mais ambiental dos problemas urbanos. Enquanto geógrafa e dentro do Pedagogia Urbana, fizemos vários mapas sobre como o Covid-19 estava se espalhando, acompanhando as ações de prevenção da prefeitura e como as comunidades se articulavam”, compartilha Andréa. 

encontro do curso
Coletivo do curso de extensão sempre propunha rodas de conversa para falar sobre mobilidade urbana e outros aspectos do direito à cidade / Crédito: Andréa Porto

Territorializar os conhecimentos da universidade 

Cursos de extensão universitária congregam ensino, pesquisa e comunicação entre a universidade e em seu entorno. Andréa acredita que é nesta intersecção reside a força do projeto Pedagogia Urbana. “Extensão não só fomenta pesquisa, mas coloca em prática o que a teoria apresenta, tornando-a resolutiva e transformadora. Dentro do Núcleo de Políticas Públicas a nossa intenção é articular diferentes áreas da universidade para fomentar esse tipo de interação, ao mesmo tempo trabalhar as competências e habilidades dos nossos alunos.”

Como muitos institutos federais, a UFPB congrega estudantes de diversos locais do Estado e fora dele, o que amplia o escopo de atuação da extensão. “Muitos alunos que passaram no Pedagogia Urbana estão inseridos dentro da gestão pública ou no terceiro setor de suas cidades. Eles tem uma outra leitura de ativismo. Conseguem se comunicar de outra forma, transpor conceitos para a linguagem que faça sentido para a população. Não adianta chegar na comunidade e falar em produção da cidade. Tem que mostrar que ela é um agente ativo dentro dela”, sentencia Andréa. 

É o caso de Paulo, ouvido no começo da matéria. Ele é de Petrolândia, Pernambuco, estado fronteiriço da Paraíba. Com o fim do curso de extensão, o turismólogo resolveu levar os conhecimentos aprendidos na extensão para seu próprio território. Ele criou o coletivo Petrolândia de Verdade, convidando jovens de diversos coletivos, como grupos LGBTQi+, jovens de igreja e de movimentos negros locais a trabalharem em rede em prol de melhorias urbanas e sociais no município. 

paulo e andréa conversam por redes sociais
Paulo foi um dos estudantes do curso de extensão que levou os conhecimentos para incidir no território / Crédito: Paulo Lacerda

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