publicado dia 15 de setembro de 2022
Arte, cultura e economia criativa fortalecem o Centro Histórico de São Luís (MA)
Reportagem: André Nicolau
publicado dia 15 de setembro de 2022
Reportagem: André Nicolau
Patrimônio Cultural da Humanidade pela UNESCO, o Centro Histórico de São Luís (MA) abriga aproximadamente quatro mil imóveis – entre casarões, igrejas e edifícios de fachadas azulejadas dos séculos XVII e XVII – serpenteados por estreitas ruas de paralelepípedos, becos e escadarias que cristalizam parte da memória de um dos maiores centros históricos da América Latina.
“São Luís é tombada especialmente porque ainda mantém a mesma planta original de planejamento da cidade de 400 anos atrás”, explica a turismóloga e pesquisadora Gabriela Barros Rodrigues, que desde 2008 desenvolve projetos no Centro Histórico de São Luís.
Leia + Afroturismo: o que roteiros centrados na História negra no Brasil podem ensinar?
De acordo com o Iphan, entre as edificações mais significativas estão o Palácio dos Leões, a Catedral (antiga Igreja dos Jesuítas), o Convento das Mercês, a Casa das Minas, o Teatro Artur Azevedo, a Casa das Tulhas, a Fábrica de Cânhamo e a Igreja do Carmo.
Não é nada simples, porém, manter tudo isso de pé, restaurado e preservado: levantamento realizado pelo Corpo de Bombeiros do Maranhão na região indicou a existência de algum risco estrutural em cerca de 261 casarões históricos, 95 deles em condição de risco crítico.
Diante disso, ações do poder público, iniciativa privada e da comunidade buscam preservar e compartilhar a memória e o patrimônio histórico da cidade, movimentando o território.
O programa ‘Adote um Casarão’, do governo estadual do Maranhão, por exemplo, quer promover a ocupação dos prédios históricos para empresas, organizações da sociedade civil e empreendedores locais, com a contrapartida da manutenção e preservação dos imóveis por um período de 39 anos por parte dos interessados.
“Fazer a gestão num centro histórico desse tamanho é difícil, por isso é necessário pensar em atividades que envolvam as pessoas que são residentes, promovendo o desenvolvimento territorial para os moradores e comerciantes”, reflete Gabriela que é também gerente internacional de programas e projetos de desenvolvimento do Instituto de Estudos Sociais e Terapias Integrativas (IESTI).
Com isso em mente, foi desenvolvido o curso de Educação Patrimonial PatNET, hospedado na Plataforma Eskada da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA), e dirigido para moradores, trabalhadores, empreendedores criativos e artistas que atuam no Centro Histórico de São Luís. Criado durante a pandemia de Covid-19, o curso online já formou 600 estudantes.
Leia + Do buraco ao mundo: educação patrimonial em um quilombo-indigena
O objetivo é disseminar a educação patrimonial na rede de pessoas inseridas na região e envolver a comunidade no papel de guardiã da memória do centro histórico.
Um dos projetos abrigados nos imóveis históricos é o Escritório Porta e Janela, um escritório popular de arquitetura e urbanismo localizado na Rua do Ribeirão que oferece soluções e consultorias para reformas na capital maranhense para a população de baixa renda.
Além disso, o espaço, chamado de Casarão Porta e Janela, também abriga o espaço cultural Tebas Bar e Café, um local para co-working, com salas para realização de cursos e uma biblioteca colaborativa. A proposta é oferecer uma programação diversa e acessível para a população no equipamento cultural urbano.
Jéssica Carvalho, uma das arquitetas e produtoras culturais envolvidas com o Porta e Janela, destaca o potencial artístico da região, pela centralidade, estrutura, acesso e fluxo de pessoas no Centro Histórico de São Luís (MA).
A arquiteta também lembra que a região foi historicamente construída por negros escravizados e que ainda guarda nas ruas e casarões a memória histórica da exploração. “É um espaço que, mais do que nunca, deve estar ocupado pela população, movimentando circuitos locais e alternativos de economia, promovendo o acesso à arte e cultura e a diversidade de usos e ocupações fundamentais para a saúde e sustentabilidade de qualquer território”, defende.
Leia também