publicado dia 26 de abril de 2023
Porque casamentos infantis ainda são uma realidade no Brasil
Reportagem: Tory Helena
publicado dia 26 de abril de 2023
Reportagem: Tory Helena
O Brasil ocupa o quarto lugar no mundo em casamentos infantis, em números absolutos, segundo pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Ficamos atrás apenas de Índia, Bangladesh e Nigéria. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), o casamento infantil é a união formal ou informal em que pelo menos uma das partes tenha menos de 18 anos. No Brasil, a união com menores de idade é permitida a partir dos 16 anos, desde que tenha autorização de pais, responsáveis ou de um juiz.
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De acordo com os dados apresentados no ano passado em audiência pública na Comissão Externa Sobre Violência Doméstica Contra a Mulher na Câmara dos Deputados, o casamento infantil no Brasil é motivado, sobretudo, por aspectos como a pobreza e a vulnerabilidade social – e não por fatores ritualísticos ou culturais, como ocorre em outros países. Em 2016, o número de casamentos ou uniões no Brasil foi de 1,09 milhão. Desse total, 137.973 incluíram pessoas com até 19 anos, sendo 28.379 meninos contra 109.594 meninas.
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Outros dados revelam que 2,2 milhões de meninas brasileiras menores de 18 anos são casadas. O número representa 36% da população feminina nesta idade, segundo dados da organização Girls not Brides (Meninas, não noivas, em tradução livre) apresentados em 2023. A taxa é maior do que a mundial, que fica em 19%. Além disso, o fenômeno é complexo e há muita subnotificação. Estima-se que, no mundo todo, 650 milhões de meninas se casaram antes de completar a maioridade.
Em entrevista à Deutsche Welle Brasil, a diretora de Divisão de Assuntos de Gênero da Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (Cepal), Ana Güezmes, trouxe o dado de que, em média, 22% das meninas latino-americanas eram casadas ou viviam com parceiros antes da maioridade. A taxa tem se mantido relativamente estável nas últimas duas décadas. O fenômeno, de acordo com a especialista, constitui uma violação dos direitos humanos das meninas e é complexo, relacionado à desigualdade de gênero e pobreza.
Segundo o Unicef, meninas que se casam na infância ou adolescência enfrentam consequências imediatas e para toda a vida. O abandono escolar é uma das facetas do problema, mas as jovens nessa situação também enfrentam maiores índices de violência doméstica, maior vulnerabilidade à gravidez precoce e não planejada que, por sua vez, aumentam os riscos de mortalidade materna e complicações. Por fim, a prática também pode isolar as meninas de suas famílias e amigos, além excluí-las da participação em suas comunidades.
*Com informações da Agência Câmara de Notícias