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publicado dia 19 de setembro de 2022

Paulo Freire: 6 livros para refletir sobre o papel das cidades na Educação

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O que Paulo Freire pode nos ensinar sobre as cidades e territórios educativos? Patrono da Educação Brasileira, o educador também escreveu sobre as possibilidades educadoras presentes nas cidades e nos territórios em sua obra. 

“Embora Freire, na sua produção não chegue a utilizar a expressão específica território educativo, ao longo de sua obra, podemos identificar indícios e afirmações concretas que mobilizam esse conceito”, explica Joanne Cristina Pedro, mestra e doutora em Educação pela Universidade de Caxias do Sul e uma das autoras do artigo Paulo Freire e o território educativo além muros da escola: três chaves de acesso a múltiplas dimensões de aprendizagem. 

Para Nilda Stecanela, que também leciona pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e é co-autora do artigo , os ecos dos conceitos, provocações, afirmativas e narrativas presentes na obra de Paulo Freire contribuem para a observação do direito à educação cristalizado na Constituição de 1988, especialmente no artigo 205, conectado à Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Sobretudo sob o ponto de vista da compreensão de que a educação é mais do que instrução e transcende os muros da instituição escolar, sendo responsabilidade do Estado, da família e sociedade. 

“A realidade e os contextos de vida fazem parte dos contextos educativos e todos nós somos responsáveis e podemos contribuir com as aprendizagens que acontecem no âmbito do território educativo. Não é somente na escola que se aprende, mas não podemos prescindir da educação escolarizada, de tal modo que essa esteja conectada com o cotidiano dos estudantes para além de mera transmissão do legado construído pela humanidade, comprometida com o saber mais e o pensar certo, em uma perspectiva de pensar sobre, promovendo movimentos de ação-reflexão-ação, visando o bem comum”, destaca a especialista.   

Para celebrar o aniversário de Paulo Freire, nascido em 19 de setembro de 1921, e entender como o seu pensamento está presente nas discussões sobre o papel educador das cidades e territórios, listamos seis leituras essenciais com a ajuda das pesquisadoras Joanne Cristina Pedro e Nilda Stecanela. Confira: 

1) Cartas a Cristina. Editora Paz e Terra (1994)

Durante o exílio em Genebra (Suíça), Paulo Freire recebeu cartas da sobrinha que questionavam como ele havia se tornado um famoso educador. Em 1988, de volta ao Brasil, começa a tomar corpo o livro Cartas a Cristina, que reúne 18 correspondências de Freire para a sobrinha, recapitulando a experiência de vida e prática transformadora que concederam ao educador o título de patrono da educação brasileira. 

Leia um trecho: 

“No fundo, saberes e cultura das classes populares dominadas que experimentam entre si níveis diferentes de exploração e de consciência da própria exploração. Saberes que, em última análise, são expressões de sua resistência.  

Estou convencido de que as dificuldades referidas diminuiriam se a escola levasse em consideração a cultura dos oprimidos, sua linguagem, sua forma eficiente de fazer contas, seu saber fragmentário do mundo de onde afinal transitariam até o saber mais sistematizado, que cabe à escola trabalhar.”

2) Pedagogia da Autonomia. Editora Paz e Terra (1996)  

Última publicação em vida, Pedagogia da Autonomia propõe uma observação sobre a compreensão da prática docente como forma de ampliação da formação do ser humano, relacionando como a sensibilidade que conscientiza o educador pode apontar para a dimensão de sua prática. 

Leia um trecho: 

“Creio que uma das razões que explicam este descaso em torno do que ocorre no espaço-tempo da escola, que não seja a atividade ensinante, vem sendo uma compreensão estreita do que é educação e do que é aprender. No fundo, passa despercebido a nós que foi aprendendo socialmente que mulheres e homens, historicamente, descobriram que é possível ensinar. Se estivesse claro para nós que foi aprendendo que percebemos ser possível ensinar, teríamos entendido com facilidade a importância das experiências informais nas ruas, nas praças, no trabalho, nas salas de aula das escolas, nos pátios dos recreios.“

3)Política e Educação. Editora Cortez (1993)

No texto de 1992 “Educação permanente e as cidades Educativas”, Paulo Freire discorre sobre como a educação se dá por meio de um processo permanente e como o contexto das cidades está vinculado à prática educativa, constituindo-se por meio de diversas atividades do cotidiano. 

Leia um trecho:

“A Cidade se faz educativa pela necessidade de educar, de aprender, de ensinar, de conhecer, de criar, de sonhar, de imaginar de que todos nós, mulheres e homens, impregnamos seus campos, suas montanhas, seus vales, seus rios, impregnamos suas ruas, suas praças, suas fontes, suas casas, seus edifícios.”

4) Pedagogia da Esperança Um Reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Editora Paz e Terra (1992)  

Na obra, Paulo Freire apresenta um contexto relacionado às experiências, formação e a inspiração das ideias que fundamentam a construção de suas pedagogias, analisando a figura do professor como alguém que traz consigo o “o saber de experiência feito”, fundamental para a sua atuação como educador. 

Leia um trecho: 

“A imaginação, a conjectura em torno do mundo diferente do da opressão, tão necessários aos sujeitos históricos e transformadores da realidade para sua práxis, quanto necessariamente faz parte do trabalho humano que o operário tenha antes na cabeça o desenho, a “conjectura” do que vai fazer. Aí está uma das tarefas da educação democrática e popular, da Pedagogia da esperança – a de possibilitar nas classes populares o desenvolvimento de sua linguagem, jamais pelo blablablá autoritário e sectário dos “educadores”, de sua linguagem, que, emergindo da e voltando-se sobre sua realidade, perfile as conjecturas, os desenhos, as antecipações do mundo novo. Está aqui uma das questões centrais da educação popular – a da linguagem como caminho de invenção da cidadania.”

5) A Educação na Cidade. Editora Cortez (1991)  

No início da década de 1990, Paulo Freire foi secretário de Educação municipal em São Paulo. Neste livro, formado por entrevistas concedidas pelo educador à época, podemos conhecer mais a fundo a experiência prática de Paulo Freire como gestor de políticas públicas educacionais. Além disso, de acordo com Joanne Pedro, está presente nos textos a importância dos educadores considerarem o contexto cultural em que estão inseridos. “O compromisso dos educadores e educadoras está no engajamento com a realidade, sendo o território educativo um palco explícito dessa realidade”, explica. Já para Nilda, o livro traz também “uma rica contribuição para a percepção das conexões entre a educação escolar e a educação não-escolar”.

Leia um trecho: 

Não quero negar a possibilidade de um especialista estranho ao contexto onde se deu ou se está dando uma certa prática fazer parte de uma equipe avaliadora com acerto e eficácia. Sua eficácia porém vai depender da capacidade que tenha de abrir-se à “alma da cultura onde se deu ou se está dando a experiência e não apenas da capacidade, também necessária, de apreender a racionalidade da experiência por meio de caminhos múltiplos. Abrir-se a “alma” da cultura é deixar-se “molhar”, “ensopar” das águas culturais e históricas dos indivíduos envolvidos na experiência.

6) Pedagogia do Oprimido – Editora Paz e Terra (1974) 

 Ao avaliar os fatores que influenciam o processo do aprendizado, Paulo Freire disserta sobre as relações da estrutura social e os caminhos que se conectam à compreensão da prática pedagógica. Nilda recorda a contribuição desta obra para a concepção do seu trabalho como educadora. “Foi o livro que desafiou minhas competências reflexivas para o estabelecimento de pontes entre o que o Freire narrava no livro e o que eu vivia na escola pública municipal, na perspectiva de uma reestruturação curricular pela via do tema gerador. O emblemático capítulo três deste livro requisitou muitas leituras e a construção de muitos hipertextos para compreender o diálogo como princípio e como meio para a educação transformadora” 

Leia um trecho: 

“Expressar-se, expressando o mundo, implica o comunicar-se. A partir da intersubjetividade originária. poderíamos dizer que a palavra, mais que instrumento, é origem da comunicação – a palavra é essencialmente diálogo. A palavra abre a consciência para o mundo comum das consciências, em diálogo portanto. Nessa linha de entendimento, a expressão do mundo consubstancia-se em elaboração do mundo e a comunicação em colaboração. E o homem só se expressa convenientemente quando colabora com todos na construção do mundo comum – só se humaniza no processo dialógico de humanização do abundo”

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