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publicado dia 4 de dezembro de 2023

Nego Bispo (1959-2023): Entenda a importância de Antônio Bispo dos Santos em 4 pontos

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Resumo: Antônio Bispo dos Santos faleceu aos 63 anos, no Piauí. Filósofo, professor, escritor e líder quilombola, o intelectual se destacou por traduzir a sabedoria de seu território em diversas obras e propor o conceito de contracolonialismo.

O intelectual quilombola e ativista político Antônio Bispo dos Santos (1959-2023) morreu no último domingo (03/12), em São João do Piauí (PI), aos 63 anos, vítima de uma parada cardiorrespiratória. Mais conhecido como Nego Bispo, ele dedicou a vida à atuação em movimentos sociais e organizações quilombolas pelo direito à terra, e deixou um legado sobre a cosmovisão contra os colonizadores.

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Nascido em 1959 no vale do Rio Berlengas, na cidade de Francinópolis no Piauí, Bispo viveu boa parte de sua vida no Quilombo Saco-Curtume, localizado no município onde faleceu, a aproximadamente 400 quilômetros de Teresina.

Leia, a seguir, 4 pontos de destaque sobre a vida e a obra de Antônio Bispo dos Santos: 

1) Conceito de contracolonialismo

Filósofo, professor, escritor e líder quilombola, ele foi o primeiro de sua família a ser alfabetizado e concluiu, formalmente, apenas o Ensino Fundamental. Bispo se destacou por traduzir a sabedoria de seu território e de mestres e mestras locais em obras como os livros “Colonização, Quilombos: modos e significações”, de 2015, e “A Terra dá, a Terra quer”, de 2023.

É de autoria do intelectual o conceito de contracolonialismo, filosofia que reforça a cultura, práticas, organização social e as demais manifestações coletivas dos povos colonizados contra os esforços da imposição dos colonizadores. Ele se referia à colonização como um “veneno”, cujo o anticolonialismo seria o “antídoto”.

2) Atuação pelos direitos dos quilombolas

Líder do Quilombo Saco-Curtume, Bispo atuou na Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Piauí (CECOQ/PI) e na Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (CONAQ). Em comunicado, a CONAQ apontou que Bispo contribuiu de forma “inestimável para a compreensão e preservação da cultura e identidade quilombola”. 

“Neste momento de perda, expressamos nossas condolências à família, amigos e admiradores, e reafirmamos a importância de honrar seu legado e perpetuar suas ideias. Que sua memória inspire e ilumine o caminho daqueles que seguem a luta pela valorização e reconhecimento das comunidades quilombolas”, disse a entidade.

Bispo também presidiu o Sindicato de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais de Francinópolis e foi diretor da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Estado do Piauí (FETAG/PI).

Entre 2012 e 2013, atuou ainda como professor convidado do “Encontro de Saberes”, projeto criado pela Universidade de Brasília (UnB) com a proposta de unir o conhecimento acadêmico e popular.

3) Contribuição literária

Entre os livros publicados por Nego Bispo, destaca-se “A terra dá, a terra quer” (Ubu Editora, 2023). Ao longo das páginas, o autor compartilha suas vivências no Quilombo Saco-Curtume, em São João do Piauí (PI), e explicita as lógicas que organizam a vida e as relações entre todos os seres vivos nesse território. “Se uma pessoa passava na minha roça e pegava um fruto para comer, eu ficava feliz, era motivo de reconhecimento, como se eu tivesse recebido um troféu”.

Enquanto nos conduz por um passeio por essa cosmovisão, vai tecendo contrapontos com o modo de viver e se relacionar nas cidades, o que experimentou por cinco anos. O que observou e refletiu nesse período foi suficiente para decidir voltar para a roça e de lá não sair mais. 

“O que é a cidade? É o contrário de mata. O contrário de natureza […] Os humanos excluíram todas as possibilidades de outras vidas na cidade”, diz Nego Bispo, que vê com esperança o período atual, em que o colonialismo, até então potente e bem articulado, começa a ruir. “O mundo do trabalho não é mais o mundo em debate, não está mais impondo a pauta, está sendo substituído pelo mundo do saber, pelo mundo do viver”.

Nesta obra, o filósofo também apresenta o conceito de “confluência”, um movimento de compartilhamento, reconhecimento e respeito, em que os diferentes se somam e se fortalecem. “A confluência é uma força que rende, que aumenta, que amplia”. 

Ao final do livro, explica como essa confluência permeia a comunidade quilombola através dos tempos e espaços. “Somos povos de trajetórias, não somos povos de teoria. Somos da circularidade: começo, meio, começo. As nossas vidas não têm fim”. 

Na obra “Composto Escola: Comunidades de sabenças vivas” (N-1 Edições, 2022), da qual é coautor, Nego Bispo promove a mesma costura de reflexões sobre a cosmovisão quilombola e a colonial, mas dessa vez a respeito da Educação.

4) Autoridades lamentam morte do ativista

Autoridades federais. movimentos sociais e personalidades usaram as redes sociais para lamentar a morte de Bispo.

O presidente Lula destacou a produção intelectual do pensador:

Os ministros da Igualdade Racial, Anielle Franco, e dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, pontuaram o legado que o intelectual deixou para o país.

Já o governador do Piauí Rafael Fonteles também apontou a contribuição de Bispo e  prestou condolências aos familiares do líder quilombola.

Para o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), o legado do pensador continuará uma inspiração: 

* Colaborou Ingrid Matuoka.

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