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publicado dia 8 de julho de 2022

Manifesto em defesa do livro pede retomada de políticas públicas para a leitura

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Diante de um projeto político que, declaradamente, privilegia o acesso a armas em detrimento da cultura, foi lançada na última segunda-feira, 4, uma Carta Aberta em Defesa do Livro, da Leitura, da Literatura e das Bibliotecas. 

Com 10 propostas endereçadas aos candidatos das próximas eleições, o documento foi idealizado pelas escritoras Juliana Borges e Camila Dias e conta com a adesão de editores, livreiros, bibliotecários, escritores e intelectuais. 

Confira o manifesto na íntegra a seguir: 

Nos últimos anos, vivemos uma forte ofensiva contra o livro, a leitura, a literatura e as bibliotecas. Destacamos: o abandono das políticas públicas federais para o setor, com a desmobilização efetiva do Plano Nacional do Livro e Leitura/PNLL; a não efetivação da Lei 12.244/2010, pela universalização das bibliotecas escolares; e a não implantação da Lei 13.696/2018 que estabelece a Política Nacional de Leitura e Escrita/PNLE.

Ao contrário do incentivo necessário, vimos o desaparecimento dos parcos recursos para a área, a tentativa de taxação do livro atingindo toda a cadeia produtiva, distributiva e consumidora, o abandono de programas específicos para as bibliotecas públicas, comunitárias, prisionais e escolares e a proliferação de um discurso despolitizante e superficial sobre a tecnologia do livro e o público leitor. A despeito dos ataques, nós resistimos, lemos, escrevemos, mediamos leituras, diminuímos a distância entre pessoas e livros.

O Brasil tem um potencial imenso para vir a ser um país que garante o direito à leitura para todos e todas. Periodicamente esse potencial é desperdiçado pela falta de incentivo e interrupção de políticas públicas que deveriam ser de Estado, permanentes.

A anomalia dos últimos anos, interrompendo um ciclo de crescimento e afirmação na formação de leitores/as, se intensificou durante a pandemia da covid-19. Mas, novamente e em situações limítrofes, os livros em seus diversos formatos mostraram que são refúgio e conforto. E não por acaso.

O acesso à leitura e ao livro são direitos humanos inalienáveis e, como tais, cumprem função essencial para que se produza reflexão. São também fundamentais para o fortalecimento da pluralidade de ideias e de desenvolvimento sustentável. Sabemos disto e agimos para que o desmonte e o negacionismo dos últimos anos não abalassem a vontade e a resiliência da sociedade e de todos aqueles que atuam na cadeia do livro, da leitura, da literatura e das bibliotecas.

Além disso, para nós, seguindo formulação do mestre Antonio Candido, a efabulação é uma capacidade humana ampla e irrestrita, que deve ser valorizada e cultivada em todas as sociedades. Nesse sentido, as tentativas despolitizadoras de excluir o livro da relação de necessidades básicas humanas explicitam o descompasso e a falta total de compromisso com a dignidade e a disseminação de conhecimento em nossa sociedade. Se, por um lado, a vida demanda a urgência da comida no prato; por outro, a utopia e a plena experiência de vida demandam a emergência do livro na mão. Nesse sentido, as ofensivas autoritárias devem ser rechaçadas não só pelo conjunto da área, mas por toda a sociedade em explícito e alto bom tom frente à censura, garantindo-se o direito de liberdade de expressão nas obras e suas aquisições para acervos. O livre saber e circulação de ideias são propulsores de uma sociedade democrática e justa.

Enfatizamos, nesse contexto, as iniciativas de editoras independentes e comprometidas, das livrarias de rua que surgiram de forma autônoma – assim como diversos espaços privados de arte e educação que atuam com a intenção de fomento ao direito ao livro e à leitura. Mantidos pelo esforço contínuo, todos eles  se somaram às escolas e bibliotecas de acesso público que seguem na resistência e na construção de uma sociedade leitora. Foi intensa a dedicação de mediadores/as de leitura para que não faltasse literatura nas áreas mais extremas e profundas do nosso país.

O ano de 2022 é de relevância no cenário nacional e nele poderemos mudar o rumo destrutivo que o atual governo imprime à cultura e à educação, entre tantos outros atentados à democracia. Por essa razão, escritores/as, editores/as, livreiros/as, bibliotecários/as, produtores/as e incentivadores/as do livro e da leitura nas plataformas digitais, professores/as e mediadores/as de leitura, resolveram se reunir para apresentar dez pontos que consideram sintetizar o acúmulo de ideias formuladas por profissionais e ativistas para o conjunto da sociedade, tanto aos/às que pleiteiam cargos e representação pública, quanto ao empresariado nacional. Nesses dez pontos prioritários para a retomada das políticas públicas para a formação de leitores/as, queremos potencializar as discussões públicas com a sociedade brasileira e com os/as que reivindicam um posto de poder nos governos e parlamentos em outubro.

 

Comida no prato e livro na mão! 10 Propostas Pela Defesa do Livro e ao Direito à Leitura no Brasil:

 

  1. Regulamentar e implantar nos primeiros dias do novo governo a Lei 13.696/2018 que institui a Política Nacional de Leitura e Escrita/PNLE. Para tanto, é preciso iniciar imediatamente os trabalhos para construção do novo Plano Nacional do Livro e Leitura/PNLL em seu formato decenal no primeiro semestre de 2023, obedecendo o determinado pela lei em suas diretrizes e objetivos, assim como as regras de sua elaboração, garantindo a representatividade da sociedade civil e a  criação de  um fundo  financeiro e condicionalidades para a sua aplicação em estados e municípios;

 

  1. A partir da esfera federal buscar o diálogo para  ampliação do grande pacto social em torno da leitura e expresso no PNLL. Isto significa ampliar e incentivar a criação e a implantação de planos estaduais, distrital e municipais do livro, da leitura, da literatura e das bibliotecas, adaptando as grandes diretrizes nacionais à multidiversa territorialidade e características culturais do nosso país, bem como através do incentivo para a instituição de mecanismos de participação e controle social, e transparência na efetivação das políticas públicas para a área; 

 

  1. Criar, restabelecer e financiar ainda em 2023 programas e ações no âmbito do pacto federativo para priorizar investimentos de criação, modernização e sustentabilidade, principalmente no que tange aos recursos humanos, em bibliotecas vivas de acesso público – públicas, escolares, prisionais e comunitárias.  Esta medida, necessária a um país percorrido por inúmeras vulnerabilidades e com uma população com baixo poder aquisitivo, é  instrumento imprescindível para democratizar o acesso ao livro e aos diversos suportes à leitura, de forma a ampliar os acervos físicos e digitais e as condições de acessibilidade, desde a primeiríssima infância com recursos para qualificar esta pauta;

 

  1. A mediação da leitura é fundamental para a formação de novos leitores/as. Reivindicamos programas e projetos para estimular, ampliar e fomentar a formação de mediadores/as e promotores de leitura em plataformas digitais, bem como fortalecer ações de estímulo à leitura e às tradições orais e de oralitura. Para tanto, é urgente investir na formação continuada em práticas de escrita e leitura para professores/as, bibliotecários/as, agentes de leitura, contadores/as de histórias, entre outros/as agentes educativos/as, culturais e sociais, e garantir que tenham a oportunidade de registrar seus caminhos e práticas em seus espaços de atuação;

 

  1. Um país de leitores/as precisa ter uma economia do livro forte e independente, insubmissa às conveniências editoriais e financeiras dos grandes centros produtores internacionais, bem como resistente a movimentos de caráter censórios. É preciso promover a bibliodiversidade e dialogar com o mundo editorial de forma ativa. Medidas de incentivo e regulação do mercado editorial e regularização de pareceristas nas decisões sobre conteúdos editoriais didáticos, além do impulsionamento à criação e viabilidade de livrarias, editoras, feiras e festas de livros e eventos literários são consideradas fundamentais para o desenvolvimento da produção intelectual e para o fortalecimento da economia e do poder de influência cultural nacional; 

 

  1. Promover as literaturas, as humanidades, as ciências, as diferentes formas de saber e produção de conhecimentos. Nesse sentido, é preciso garantir  o fomento aos processos de criação, formação, pesquisa, difusão e intercâmbio literário e científico em território nacional e no exterior, para autores/as e escritores/as, por meio de prêmios, intercâmbios e bolsas, entre outros mecanismos, inclusive a participação ativa em feiras de livros internacionais;

 

  1. O setor editorial e livreiro se caracteriza por constantes mudanças e inovações desde a produção da escrita até os processos de edição, distribuição e mediação. Com a aceleração digital e novos suportes virtuais e formas de escrever e ler, são fundamentais as ações cooperadas dos governos, universidades e centros de pesquisa para promover a formação profissional no âmbito das cadeias criativa e produtiva do livro e mediadora da leitura, por meio de ações de qualificação e capacitação sistemáticas e contínuas;

 

  1. É igualmente importante o incentivo às pesquisas, estudos e o estabelecimento de indicadores relativos ao livro, à leitura, à escrita, à literatura e às bibliotecas, com vistas a fomentar a produção de conhecimento e de estatísticas como instrumentos de avaliação e qualificação das políticas públicas do setor, bem como fomentar publicações com a pluralidade idiomática dos povos originários;

 

  1. Garantir que todos os programas, ações e seus respectivos gestores tenham como referência um olhar antirracista e decolonial, conforme previsto nas leis 11.645/2008 e 10.639/2003. Isso implica pautar-se pelo combate ao racismo e aos preconceitos de toda ordem, valorizando a pluralidade em todos os seus âmbitos. A  acessibilidade deve ser  ampla e irrestrita como diretriz fundamental para o justo enfrentamento de problemas estruturais historicamente persistentes;

 

  1. Garantir que os programas e projetos, assim como a elaboração do PNLL decenal, seja pautada pela atenção ao acesso às tecnologias virtuais, notadamente o acesso livre, amplo e irrestrito à Internet. Nesta perspectiva de inclusão digital, articular as ações de formação de leitores/as com programas de acesso digital para faixas marginalizadas da população e desenvolvidos por (outros) diferentes ministérios, governos estaduais e municipais e empresas públicas ou privadas.

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