Escola do Legislativo de Marabá aproxima juventudes da política
Publicado dia 28 de outubro de 2024
Publicado dia 28 de outubro de 2024
🗒️Resumo: Idealizada em 2015, a Escola do Legislativo de Marabá já aproximou 10 mil estudantes de escolas públicas do município paraense do dia-a-dia da política. A partir de atividades que ligam os estudantes ao Poder Legislativo, o projeto tem formado uma juventude mais crítica e engajada com as decisões da Câmara Municipal.
Em Marabá (PA), uma iniciativa educacional tem transformado o olhar da sociedade sobre a política. Ligada à Câmara Municipal, a Escola do Legislativo de Marabá (Elmar) promove a participação social de crianças e adolescentes na política, fortalecendo a democracia e a cidadania das juventudes.
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Idealizada em novembro de 2015 e inaugurada em novembro de 2016, a Escola do Legislativo de Marabá promove palestras, formações e cursos relacionados ao Poder Legislativo e ao município localizado no sudeste paraense, que tem 266 mil habitantes de acordo com o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
A iniciativa é respaldada pelo artigo 39 da Constituição Federal, que determina a manutenção de escolas para o aperfeiçoamento e formação de talentos da administração em todos os níveis do governo – federal, estadual e municipal.
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“Nos últimos anos temos visto um afastamento total e uma antipatia das pessoas quando se fala em política. O trabalho da escola legislativa é levar como funciona a Câmara a partir de um olhar de que todos somos responsáveis pela transformação que queremos no país”, diz Gabriela Silva, coordenadora-executiva da Escola do Legislativo de Marabá e diretora regional Norte da Associação Brasileira das Escolas do Legislativo e de Contas (ABEL).
Funcionária concursada do município de Marabá, Gabriela foi responsável por apresentar a proposta que deu vida à escola legislativa. Após a indicação de um estudante engajado politicamente, ela levou a ideia, ainda em 2015, para o então presidente da Câmara. O projeto foi aceito pelo parlamentar e no ano seguinte a Resolução nº 492 formalizou a criação da escola.
Para tirar a Escola Legislativa de Marabá do papel, Gabriela mergulhou no tema, passou por uma imersão na Escola Legislativa de Belo Horizonte (MG) e até trabalhou de forma voluntária no início.
“Na época não existia uma cultura de colocar pessoas concursadas para ocupar cargos comissionados. Eu só queria muito que o projeto fosse implementado e aí eu comecei a estudar. Fui para Belo Horizonte e fiquei três dias em uma imersão e quando eu voltei para Marabá começamos a implementar alguns projetos. Sozinha, no meu cargo concursado, sem ganhar nenhum centavo a mais, trabalhei por um ano com pessoas voluntárias. Em junho de 2016 a escola nasceu”, lembra.
As atividades da escola legislativa são desenvolvidas nos territórios e na Câmara Municipal e promovem a capacitação de agentes políticos, de servidores públicos e da sociedade civil sobre diversos temas de interesse político, institucional e social. Ao todo, a escola legislativa possui atualmente mais de 10 projetos, com cerca de 10 mil estudantes da rede pública impactados.
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“A imagem das pessoas sobre a Câmara de Marabá foi transformada pelo nosso trabalho. O cidadão age de forma diferente quando tem conhecimento e consegue distinguir o que é verdadeiro do que é falso, quando conhece o funcionamento dos poderes. Ele passa a cumprir um papel ativo politicamente. Em vez de apenas votar, passa a acompanhar o trabalho dos servidores dentro do parlamento”, destaca Gabriela Silva.
A principal iniciativa da Escola do Legislativo de Marabá é o programa Câmara Mirim, voltado para estudantes do 5º ao 9º ano do Ensino Fundamental. Com duração de nove meses, o projeto busca promover a integração entre as escolas e o poder legislativo ao mostrar para as crianças as funções de um vereador, além de familiarizá-las com a distribuição dos poderes no Estado e estimular a discussão sobre os problemas nos territórios onde vivem, bem como incentivar a apresentação de sugestões para solucioná-los.
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Na prática, os estudantes organizam campanhas eleitorais e elegem vereadores mirins dentro das escolas. O processo funciona semelhante a uma eleição comum e, graças a uma parceria da Escola Legislativa de Marabá com o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) do Pará, os estudantes votam em seus candidatos com o auxílio de urnas eletrônicas.
Depois do pleito, os vereadores mirins eleitos passam pela posse e elegem uma Mesa Diretora. Em seguida, eles passam por um semestre de formações, que inclui curso de oratória, matérias legislativas e debates sobre democracia. Depois desse período, acontecem sessões plenárias em que as escolas são divididas em comissões por temas como saúde, educação e direitos da mulher e de pessoas com deficiência.
“Fazemos palestras sobre o que pode e o que não pode ser feito em uma campanha e sobre a importância da confiabilidade na urna eletrônica para que eles não acreditem em fake news”, detalha Gabriela.
Além da Câmara Mirim, outro projeto que aproxima os estudantes da política em Marabá é o Parlamento Jovem, voltado a alunos do Ensino Médio. Os mandatos dos vereadores e a Mesa Diretora se revezam com os mandatos da Câmara Mirim anualmente.
Em 2024, foram eleitos 20 vereadores do Parlamento Jovem, que passaram por um processo formativo e tiveram a oportunidade de vivenciar a rotina de um vereador nos mesmos moldes que os estudantes do Ensino Fundamental.
Um deles foi o Luiz Henrique, de 16 anos, aluno da Escola Estadual Geraldo Veloso, que foi eleito em março e assumiu a Presidência da mesa em maio.
Em sua rotina, Luiz estuda no período da manhã e à tarde se dedica às atividades do Parlamento Jovem. “É muito gratificante e me fez perceber que tem pessoas éticas e bem intencionadas que realmente buscam o bem comum”, conta.
A escola legislativa também leva os estudantes para conhecer a rotina da Câmara Municipal e conversar com parlamentares. Entre os programas desenvolvidos, estão o “Conhecendo a Constituição em Miúdos”, que incentiva o estudo da Constituição Federal, promovendo a educação cidadã e contribuindo para a formação crítica dos alunos. Já o “Conhecendo a Lei Maria da Penha em Miúdos” é realizado no mês de março como parte das atividades da Semana Escolar de Combate à Violência contra a Mulher, estabelecida pela lei federal nº 14.164, de 2021.
Como resultado dos programas, a coordenadora-executiva reconhece o aumento do engajamento dos jovens nas decisões sobre o que acontece dentro da escola e no parlamento.
“O jovem precisa participar ativamente da política e temos percebido que eles são muito engajados. Eles fazem debates super maduros, confiantes e pesquisam as coisas para falar. Isso me deixa muito orgulhosa. Temos também um retorno positivo dos professores, que dizem que há uma transformação na vida dos estudantes e nas decisões nas escolas”, explica Gabriela.
Apesar do potencial de transformação social, as escolas legislativas como a de Marabá ainda têm como desafio o apoio de parlamentares eleitos para as câmaras municipais e o orçamento para a realização das atividades.
“O principal desafio é convencer os parlamentares sobre a importância da educação legislativa, para que eles apoiem os projetos e participem das formações. Embora esteja presente na Constituição há mais de 30 anos, tudo ainda é muito novo e sem apoio as coisas não funcionam, pois são os vereadores que tomam as decisões. Esse é um desafio em todo o Brasil”, conclui Gabriela.
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