Com solidariedade educativa, CIEJA Clóvis Caitano reforça elos e promove reinserção profissional
Publicado dia 31 de outubro de 2022
Publicado dia 31 de outubro de 2022
Em novembro de 2021, pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontava os primeiros efeitos socioeconômicos da pandemia em um cenário marcado pelo aumento da fome, pobreza e mais de 15 milhões de desempregados.
O Brasil iniciava o seu processo de retomada ainda mais vulnerabilizado e o horizonte que se apresentava indicava sinais de uma realidade complexa, marcada pela fome, pobreza, precarização e informalidade do trabalho.
Diante dessa perspectiva, a CIEJA Clóvis Caitano Miquelazzo, em São Paulo, voltada à Educação de Jovens e Adultos (EJA), promoveu uma importante proposta de reflexão quanto à questão da empregabilidade junto aos seus alunos e, a partir do diagnóstico, realizou atividades que visavam a geração de renda e recolocação no mercado de trabalho.
Localizada no bairro do Jabaquara, zona sul da capital paulista, a escola atende a 350 estudantes com mais de 15 anos que não tiveram oportunidade de iniciar ou concluir os estudos na idade considerada adequada. A escola recebe um público diverso: pessoas pregressas do sistema penitenciário, adultos trabalhadores, idosos, migrantes, travestis e transexuais e pessoas com deficiência física e/ou intelectual.
No início de 2021, ainda durante a pandemia, a coordenação da escola realizou um levantamento com a finalidade de identificar o perfil profissional de seus estudantes: à época, 48% encontravam-se desempregados, 51% dependiam do auxílio emergencial e, daqueles que estavam trabalhando, cerca de 50% tinham carteira assinada, apesar disso, muitas vezes em postos precarizados.
Em meio aos desafios apresentados, a Clóvis Caitano resolveu criar uma rede de suporte formada por toda a comunidade escolar para oferecer projetos de formação profissional para os alunos. Professores e demais funcionários da escola passaram a realizar oficinas, workshops e palestras, à distância e presencial, ensinando conceitos de economia criativa, cooperativismo, direitos trabalhistas, ferramentas tecnológicas e outras disciplinas, visando a superação das múltiplas vulnerabilidades vivenciadas pelos estudantes.
As ações deram surgimento à Semana de Trabalho e Tecnologia: na Trilha da Solidariedade, uma das dez experiências vencedoras da 6ª edição do Prêmio Territórios, uma iniciativa do Instituto Tomie Ohtake, realizada em parceria técnica com a Cidade Escola Aprendiz e o Centro de Referências em Educação Integral.
“O projeto promoveu reflexão sobre as condições de trabalho a partir da pandemia, além de estimular a aquisição de habilidade que poderiam servir para a geração de renda ou reinserção no mercado de trabalho. Mas o mais importante foi ressaltar que cada membro da comunidade tinha algo a ensinar, bem como a aprender com os demais”, explica o coordenador pedagógico Ewerton Menezes.
A arquiteta e urbanista Carol Tonetti, diretora do Núcleo do Núcleo de Cultura e Participação do Instituto Tomie Ohtake, e uma das selecionadoras do Prêmio Territórios, ressalta o papel da escola articuladora durante os dois anos de pandemia, sobretudo sob o ponto de vista do pensamento de políticas públicas.
“O projeto da Clóvis Caitano é muito preciso porque entende a série de problemas gravíssimos que estamos vivendo, do desemprego à insegurança alimentar. Entendeu que, talvez, seja a escola o lugar que garantirá a única refeição ou uma das poucas refeições do dia para esses alunos.”
Ela também chama atenção para o exercício de reflexão sobre a importância das urgências latentes após dois anos de pandemia. “Um trabalho que atuou no fortalecimento dos elos da comunidade, para que os estudantes tivessem condições de retornar ao mercado de trabalho, aprimorar um aspecto da sua formação, um fortalecimento essencial em que as pessoas se reuniram coletivamente para buscar a superação de seus problemas, de tentar caminhos possíveis.”
Destacada por deslocar o processo de ensino e aprendizagem, costumeiramente centrado no professor, a escola reforçou o princípio de que todos são capazes de ensinar e aprender em uma experiência que prioriza a troca de saberes . “Criou-se um ambiente de solidariedade educativa na qual era perceptível que cada membro da comunidade tinha algo a ensinar, bem como algo a aprender com os demais. O projeto valorizou as habilidades e saberes que eles já traziam consigo.”
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