publicado dia 11 de agosto de 2023
Organizada pela Casa do Povo, festa Eruv tece vínculos no território do Bom Retiro
12/08/2023
publicado dia 11 de agosto de 2023
12/08/2023
Resumo: Promovida pelo centro cultural Casa do Povo, festa Eruv acontece no bairro do Bom Retiro, em São Paulo (SP), no dia 11/08. Festividades, com raiz na cultura e tradição judaicas, celebram a diversidade no território e as relações no território.
Neste sábado (12/08), a Rua Três Rios, do tradicional bairro Bom Retiro de São Paulo (SP), será parcialmente fechada, das 10h às 20h, entre os números 190 e 362, para receber a festa ERUV.
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As festividades, calcadas na cultura e na tradição judaica, são organizadas pela Casa do Povo. O centro cultural foi fundado no território em 1946, logo após a Segunda Guerra Mundia (1939-1945), a partir do esforço coletivo de uma parcela da comunidade judaica, originária da Europa Oriental, politicamente engajada e instalada majoritariamente no Bom Retiro.
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Em sua segunda edição, o pontapé do ERUV será a retirada das portas da Casa do Povo, para restauro. Dessa forma, a proposta é que o centro cultural ficará completamente aberto ao longo do evento. O movimento de retirada das portas, ainda que simbólico, é uma das primeiras ações que visam o restauro do edifício, que completa 70 anos em 2023.
O nome da festa é inspirado em um conceito secular do judaísmo. Eruv, em hebraico, significa mistura. No judaísmo, o Eruv surge como um território temporário, sempre aos sábados – o shabat, também conhecido como o dia do descanso – em lugares onde há uma intensa vida judaica, como o próprio Bom Retiro. Por isso, nele, pessoas religiosas podem realizar atividades que seriam proibidas no espaço público durante esse dia.
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Coordenadora de comunicação na Casa do Povo, Ana Druwe explica que a construção da festa demandou uma “leitura porosa do território, no sentido de borrar as fronteiras entre o que é público e privado, estabelecendo uma ideia de vida comum: o que acontece só nas casas vai para rua, e vice-versa.”
De acordo com ela, isso se manifesta com a demarcação de fios que são pendurados nos postes das ruas, por exemplo, marcando um espaço para que a comunidade religiosa possa se deslocar e realizar certas ações.
“Em geral, esses fios não interferem na circulação, é algo muito sutil e simbólico. O próprio Bom Retiro tem um Eruv demarcado, já que existe uma intensa vida judaica no bairro. Tudo isso nos serve de inspiração para pensar a vida comunicação no território”, reflete.
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A festa Eruv aumentou de um ano para o outro. Em 2022, a rua Três Rios teve apenas um quarteirão fechado, este ano serão dois e o evento terá a parceria da Oficina Cultural Oswald de Andrade, com uma programação dentro e fora de seu espaço.
Para realizar a festa, a organização faz contato com todos os comércios da rua, a fim de que eles também participem ativamente.
“Entendemos que essa é uma construção que se dá com o tempo, a partir da confiança, convivência e presença. E a Casa do Povo, como espaço com uma história de longa data no bairro, tem como missão justamente alinhavar essas relações”, pontua Druwe.
O ponto central da festa Eruv é o alimento. Por isso, um dos destaques da programação é o almoço. Servido em uma longa mesa em plena rua, com mais de 50 metros de comprimento, com disponibilidade para 300 refeições gratuitas. “A ideia é realmente experimentar esse momento de se alimentar na sua radicalidade: na hora do almoço todo mundo se junta, quem mora nas ruas, quem mora nas casas e quem está de passagem”, conta Ana.
Neste ano, o prato será um tcholent, uma espécie de feijoada judaica, costumeiramente servido em dias de shabat, que mistura diversos ingredientes como variados tipos de carne, legumes e grãos. “O tcholent, assim como a feijoada, só faz sentido se for para servir muita gente, é uma comida de compartilhamento”, comenta.
A programação conta com atividades na rua e dentro do prédio da Casa do Povo, como contação de histórias, feira de troca de livros, estação gráfica com produção de estampas em tecido com carimbos e tintas. Faz parte dos encontros também um passeio pelo Bom Retiro com visita a pontos importantes de memória, apresentações musicais – incluindo a bateria da Escola de Samba Gaviões da Fiel, cuja sede é localizada no bairro – e aulas de yoga. Exposições artísticas e oficinas como a de Mapas Afetivos, realizada pela Énois Laboratório de Jornalismo, completam a programação.
📌Confira a programação completa da festa Eruv aqui.
O propósito da festa, de acordo com Ana Druwe, é que a comunidade do bairro experimente uma outra frequência, vinculada ao descanso e ao desacelerar: “A festa é uma aposta para tecer outras alianças e redes de solidariedade na vizinhança”, explicou em entrevista ao Educação & Território.
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O bairro do Bom Retiro é um local fértil de iniciativas pautadas pela diversidade, afirma a coordenadora. “A programação do Eruv é um reflexo disso: ainda que temporária, ela evidencia essa multiplicidade pela ideia do tudo junto e misturado”.
A programação prevista ajuda a ilustrar a diversidade presente no evento: participam das movimentações desde torcidas organizadas de futebol (Gaviões da Fiel) e iniciativas esportivas (Boxe Autônomo) até atrações culturais como o Samba do Bule e o Coral das Mães Coreanas.
Ao mesmo tempo, a festa Eruv também reforça a importância do direito à memória do território, com passeios que contam a história do bairro, como o percurso pela antiga zona do meretrício do Bom Retiro, com a pesquisadora Paula Janovitch.
Para isso, ela irá guiar as pessoas por esse espaço, entre as ruas Aimorés e Césare Lombroso, onde, durante o Estado Novo (1937-1945), foi criada uma área de confinamento de prostitutas.
Festa Eruv
12/08/2023 entre 10:00 e 20:00
Rua Três Rios, entre os números 190 e 362
Casa do Povo