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publicado dia 13 de novembro de 2025

COP30: como apoiar infâncias e juventudes no enfrentamento da crise climática?

Reportagem: | Edição: Tory Helena

🗒️Resumo: Como se articulam as juventudes da Amazônia diante da crise no clima? Parte da programação da Casa das ONGs, a roda de conversa “Juventudes amazônidas pelo clima: saberes e ações locais”, ocorreu em 12/11, em Belém (PA). 

Comunidades resilientes e fortalecidas para enfrentar e sobreviver à Crise Climática dependem de ações de apoio e proteção para as infâncias e adolescências. Inclusive para que elas e eles possam viver e ser crianças e adolescentes, não necessariamente salvar o mundo, no seio de sua cultura e família.  

Essa foi a principal conclusão da roda de conversa “Juventudes amazônidas pelo clima: saberes e ações locais”, que aconteceu na tarde de quarta-feira (12/11) na Casa das ONGs, em Belém (PA).

A Casa das ONGs é uma iniciativa da Associação Brasileira de ONGs (Abong), plataforma nacional que congrega diversas organizações que atuam na defesa de Direitos Humanos, justiça social, democracia e meio ambiente no Brasil. A programação na Casa das ONGs continua entre 16 e 19/11, aberta ao público. 

A Cidade Escola Aprendiz e o Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância (CIESPI/PUC-Rio) foram proponentes da atividade, ao lado de organizações como a Cooper D’Amazônia – Cooperativa, Assentamento João Batista, Quilombo Macapazinho, Comunidade Boa Vista, Associação Vaga Lume, Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Cultural Survival (CS), Conselho Indígena de Roraima (CIR) e Visão Mundial. 

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O painel reuniu Newi Xavante (Juventude pelo Clima), Lucas Cunha (Juventude pelo Clima), Jhenifer Naiara (Assentamento João Batista II/Vagalume) e Irene Rizzini (Ciespi/PUC-Rio) para escutar e discutir com estes jovens como têm atuado sobre a crise climática em seus territórios. O encontro teve mediação de Martha Fellows (IPAM/Unicamp) e Lia Salomão (Cidade Escola Aprendiz).

Adolescentes, jovens e mudanças climáticas 

Na abertura do evento, Irene Rizzini, diretora do Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância (Ciespi/PUC-RJ), compartilhou um pouco sobre o processo da pesquisa “Adolescentes, Jovens e Mudanças Climáticas”, divulgada em 2024. A pesquisa sondou as percepções de 200 estudantes de todo o Brasil sobre o tema. 

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“Percebemos num levantamento internacional sobre mudanças climáticas que as pesquisas eram muitas, mas feitas por Google Forms”, apontou. “Quem vai responder é quem tem Internet, não quem está na favela, quem está na floresta”, destacou. 

A amostra buscou jovens de todas as regiões do Brasil, a partir de critérios de diversidade, e divididos entre estudantes de escola pública e privada. 

Foram ouvidas pessoas das cidades Belém (PA), Brasília (DF), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Goiânia (GO), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Salvador (BA) e São Paulo (SP). A pesquisa é apoiada pela Fundação José Luiz Egydio Setúbal e Nova Institute e contou com parceria da Cidade Escola Aprendiz, por meio do programa Educação e Território.

Entre outros pontos, os dados da pesquisa permitem concluir que, ao contrário do que pode ditar o senso comum, a questão das mudanças climáticas importa aos jovens, causando impactos negativos em suas vidas e nas comunidades onde vivem.

De acordo com o levantamento, 90% dos jovens brasileiros preocupam-se com os efeitos das mudanças climáticas. Embora 7 em cada 10 afirme ter aprendido alguma coisa sobre o tema na escola, os conhecimentos a respeito ainda são insuficientes.

A pesquisa também detectou a prevalência da ecoansiedade (ou ansiedade climática) entre os jovens entrevistados. Diante da emergência climática, a maioria expressou ter sentimentos como ansiedade, medo ou insegurança (68,5%). Outros 11,5% expressaram outros sentimentos como preocupação, angústia, tristeza, raiva e revolta. Apenas 17,5%
disseram não ter nenhum sentimento negativo em relação às mudanças climáticas.

“As crianças e adolescentes que sentem ecoansiedade têm razão de sentir quando assistem essas notícias de que em 50 anos podemos ter temperaturas a 60 ºC e boa parte das águas submersas”, completa Irene. “Se eu tivesse 5 anos como meu neto, ficaria com muito medo.”

Apesar da relevância do tema, a maioria (97%) respondeu que não estar conectado com iniciativas em curso sobre o assunto. A pesquisa também indicou que os entrevistados gostariam de fazer alguma coisa para contribuir, mas falta nitidez sobre os caminhos. 

Crise Climática e saberes da comunidade 

Roda de conversa na Casa das ONGs debate como apoiar infâncias e juventudes no enfrentamento da crise climática
Roda de conversa destacou a importância das trocas intergeracionais diante da crise no clima.

Os jovens presentes no evento destacaram a importância de se apoiarem na sabedoria de professoras, professores e familiares de suas comunidades.

Newi Xavante lembrou que é importante escutar os jovens, mas que aprendeu que a escuta dos mais velhos permite trilhar o caminho de luta e resistência. 

Na experiência da Vagalume, iniciativa que promove e mantém bibliotecas comunitárias na Amazônia Legal, Jhenifer Naiara destacou como em seu assentamento a leitura e o acesso à informação, acompanhados dos saberes da sua comunidade, foram fundamentais para seu desenvolvimento enquanto pessoa e agricultora que mantém os conhecimentos sobre as sementes e o plantio, mesmo diante da Crise Climática.

“Precisamos saber o que estamos fazendo. A juventude sempre teve incentivo dos professores que também são agricultores”, pontuou. 

Para ela, espaços de troca como o que ocorreu na Casa das ONGs são muito importantes. “Eu amei escutar um pouco sobre cada comunidade, saber mais sobre o clima e aprender cada vez mais com cada pessoa que veio e nos incentivou a querer saber mais sobre nosso território”, disse.

Juventudes amazônidas e a força dos territórios

Diante da provocação de Lia Salomão, sobre como transformar trauma em potência, Lucas Cunha, do Juventudes pelo Clima e da comunidade agroextrativista de Santa Maria, em Barcarena (PA), é taxativo: “A resposta está em voltar pro território e ouvir as pessoas mais velhas”, afirmou. 

“A resposta está em voltar para o território e ouvir as pessoas mais velhas”, destacou Lucas Cunha, do Juventudes pelo Clima

“Estava refletindo antes de vir pra cá como minha vida mudou esse ano justamente por eu ser do interior, o que antes era motivo de chacota e vergonha pra mim. É justamente por eu ser de uma comunidade agroextrativista que eu estou aqui”, concluiu.

Safira da Silva, do Tocantins, também compartilhou como o conhecimento sobre as mudanças climáticas e o apoio que teve para realizar ações em sua comunidade a partir da iniciativa Juventudes pelo Clima foi fundamental para semear a esperança e salvar o córrego que era “de sua avó”. 

“Nós somos encarregados do legado dos nossos avós. Se não houver juventude para lutar por essas comunidades, não haverá comunidades”, afirmou Safira da Silva.

“Eu não sabia o que eram mudanças climáticas”, contou Safira. “Hoje eu luto incansavelmente não só pelos córregos da minha comunidade, mas pelo que tirou minha comunidade da fome e da miséria, que é o capim dourado. Ouvir vocês falando aqui e ver jovens nessa jornada é muito gratificante porque nós somos encarregados do legado dos nossos avós. Se não houver juventude para lutar por essas comunidades, não haverá comunidades”. 

Os representantes das juventudes amazônidas destacaram como puderam entender que as mudanças podem vir de dentro do território, e não de grandes empresas e organizações vem de fora dizer o que tem que fazer. 

Assim, proteger crianças, mantê-las no seio da sua comunidade e arraigadas em sua cultura, em suas famílias, é garantir a proteção de territórios e do planeta.

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