publicado dia 28 de dezembro de 2015
Retrospectiva 2015: O desafio de construir uma Cidade para Crianças
Reportagem: Redação
publicado dia 28 de dezembro de 2015
Reportagem: Redação
Ah, a Rua! Só falam de tirar as crianças da rua.
Para sempre? Eu sonho com as ruas cheias delas.
É perigosa, dizem: Violência, drogas… E nós adultos
Quem nos livrará do perigo urbano?
De quem eram as ruas? Da polícia e dos bandidos?
Vejo por outro ângulo: Um dia devolver a rua às crianças
Ou devolver as crianças às ruas;
Ficariam, ambas, muito alegres.
(Paulo Freire)
O espaço urbano é comumente visto como um território hostil e perigoso para as crianças. E, de fato, muitas vezes é. Dos acidentes de trânsito (principal causa de morte acidentais até os 14 anos no Brasil), passando por escalas urbanas que não contemplam as necessidades dos pequenos, há ainda um imaginário que projeta como bom crianças fora das ruas. Mas, parodiando Paulo Freire, que sonhava com as ruas cheias delas, o Portal Aprendiz busca divulgar iniciativas e experiências que comprovam que uma Cidade para Crianças é, antes de mais nada, uma cidade para todos.
Ao longo de 2015, foram muitos os exemplos de ressignificação de territórios a partir da presença das crianças no espaço público. Dos cortejos, expedições e brincadeiras, aos desenhos e poemas, as cidades brasileiras vão, aos poucos, dando lugar para o lúdico e o sensível no seu cotidiano.
Confira abaixo a retrospectiva do ano de matérias do Portal Aprendiz que retratam essa cidade imaginária e possível.
#1 Escola em São Paulo quer devolver a cidade para as crianças
Os 180 alunos da EMEI Gabriel Prestes aprendem a cozinhar, participam de assembleias e tiram fotos de seus passeios pela cidade. Para além da Biblioteca Mario de Andrade e da Pinacoteca do Estado de São Paulo, houve visitas à Casa Amarela, à Praça Roosevelt, ao Sesc Consolação, à Bienal do Livro e até mesmo ao Cemitério da Consolação.
#2 Imaginação no poder: crianças se reúnem no Bixiga para pensar a praça Dom Orione
A praça, que aos domingos abriga a tradicional feira de antiguidades do Bixiga, foi tomada emprestada pela imaginação das crianças. A tarefa era simples: perguntar o que elas sonham para aquele espaço. Misturados e divididos em quatro grupos, entre um pega-pega e outro, fizeram propostas de infraestrutura para o local, hortas comunitárias, trilhas educativas e brinquedos que poderiam ocupar os vazios da praça.
#3 Escolas rompem barreiras e levam crianças para ocupar e aprender na cidade
Tirar o aluno do espaço escolar e levá-lo para a cidade, expandindo as possibilidades de aprendizagem e permitindo que aquela pessoa em desenvolvimento se aproxime da realidade do território onde vive e estuda, sempre foi uma premissa da educação integral. Questões urbanas problemáticas como segurança e mobilidade, contudo, ainda fazem com que muitas escolas mantenham as portas fechadas para a cidade.
#4 Por mais crianças na cidade, por uma cidade das crianças
Hoje, raros são os gestores públicos com disposição e coragem para implementar políticas públicas voltadas ao desenvolvimento da criança em espaços públicos. Como o Portal Aprendiz mostrou na semana passada, algumas escolas têm quebrado esse paradigma, tirando as crianças do espaço escolar e promovendo trajetos educativos pela complexidade urbana. Esta reportagem dá sequência ao assunto, mostrando grupos, coletivos e iniciativas que contribuem para devolver a cidade para as crianças.
#5 As crianças do Glicério têm um Cortejo pra chamar de seu
Desde março deste ano, as ruas do Glicério, bairro do centro de São Paulo, têm se transformado em espaços de brincadeiras, cores e aprendizado. Com desenhos, textos e poesias nas mãos, crianças de diferentes idades percorrem o território acompanhadas por um grupo de Maracatu.
#6 Protagonizado por crianças, Cortejo Poético espalha sorrisos pelo centro de São Paulo
As buzinas e sirenes tão recorrentes no trânsito paulistano deram lugar aos sons de inúmeros instrumentos como trompete, flauta, escaleta e violão, acompanhados por uma potente batucada. A moto que acelera antes mesmo do sinal esverdear viu seu espaço tomado por um estandarte.
#7 Cidade para crianças: puxados por uma bicicleta, pequenos exploram ruas do centro de SP
No Dia das Crianças, as ruas de São Paulo presenciaram uma ação inédita: o Bike Kids, passeio ciclístico totalmente dedicado aos pequenos cidadãos paulistanos. Provando que o espaço público é um local de aprendizado e cidadania – e reforçando a ideia de que uma cidade para crianças se aproxima de uma cidade educadora -, um bike trailer que suporta até oito crianças é puxado por um ciclista e os participantes são guiados por um audiotour que indica as principais histórias, curiosidades e conhecimentos populares daquela região.
#8 Uma cidade para crianças é uma cidade para todos
“O que aprendemos na infância diz muito sobre o cidadão que seremos. Se a criança tem direitos, ela irá respeitar os direitos. O futuro é a síntese das experiência que a criança pode ter. Temos que lembrar o tempo inteiro que, conectando a criança com o bairro, familiarizando-a com o espaço público, ela vai querer mudar o mundo do qual faz parte”, afirma Beatriz Cardoso, diretora do Laboratório de Educação.
As crianças de hoje não têm tempo, espaço e permissão para brincar livremente. Seus lugares são controlados, as horas escolares cresceram e a organização das cidades desfez laços comunitários, tornando o espaço público inacessível e perigoso. Tudo isso tem profundos impactos no aprendizado e no desenvolvimento das pessoas. Essa é a opinião do psicólogo evolucionista Peter Gray, autor do livro Free to Learn (Livres para aprender, em tradução livre), que concedeu entrevista ao Portal Aprendiz.
#10 No caminho da escola, crianças redesenham o viaduto do Glicério
No sábado (28/11), no estacionamento da Igreja da Paz, no Glicério, as crianças correm de um lado para o outro chutando bolas e empunhando longas fitas de papel crepom. “Aqui é um espaço que elas têm para brincar, que muitas vezes falta nos lugares onde elas vivem. Então quando elas veem esse espação, saem correndo de um lado para o outro”, explica Nayana Brettas, criadora do “Criança Fala na Comunidade – Escuta Glicério!”, uma iniciativa do CriaCidade.
#11 Escola estimula mobilidade a pé e promove aprendizagem de crianças no território
Organizada em uma parceria entre a escola e o Coletivo Apé – Estudos em Mobilidade, a ação faz parte do projeto “Exploradores da Rua” que, durante duas semanas, levou cerca de 180 crianças entre cinco e seis anos para conhecer a vida do bairro com os próprios olhos.
Portal Aprendiz agora é Educação & Território.
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