Após 10 anos da primeira Marcha Nacional das Mulheres Negras, 300 mil mulheres se reuniram em uma tarde histórica do dia 25 de novembro de 2025 para marchar por reparação e bem viver.

Mais do que um evento pontual, a Marcha das Mulheres Negras é como um grande estuário. É um espaço fértil, no qual diferentes histórias se encontram e dão origem a novas potências coletivas, tanto dentro dos espaços já construídos quanto nos novos que surgem no pós-evento.

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Nós, da Rede Tumulto, marcamos presença com nossas quatro coordenadoras negras: Fernanda Paixão, Flora Rodrigues, Gil Santanna e Yane Mendes. Nós reconhecemos este espaço como um verdadeiro laboratório de construção de pertencimento, de fortalecimento político e afetivo, capaz de embasar os desdobramentos para as meninas e mulheres dos nossos territórios.

A Marcha traz consigo o sentimento de confluência das muitas marchas que as mulheres negras realizam todos os dias. É o gesto de colocar no centro, reconhecendo-se como sujeito político e histórico que move e transforma o mundo.

 

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Falar em insurgências de mulheres negras é reconhecer os inúmeros modos pelos quais nós, no Brasil e na diáspora africana, resistimos, contestamos e reinventamos as estruturas, enfrentando o racismo, o sexismo, o colonialismo e as desigualdades que atravessam nossas vidas. É celebrar a força que insiste, cria, cuida e fundam novos caminhos.

Marcha das Mulheres Negras: uma experiência coletiva

Se visualizar na marcha é materializar que as vivências contextualizadas nos diversos territórios nacionais é também uma experiência coletiva. É olhar para a outra e sentir unidade. Trata-se de um espaço criadouro e potente, de força e ação, não só para as mulheres que estão presentes, mas também para a continuidade de construção no retorno para os seus espaços de atuação, ampliando e aprofundando as lutas no cotidiano e entorno de vivência dessas mulheres. Como relata Ana Benedita, de Recife (PE):

“Estou me sentindo muito honrada de estar aqui, vivenciando. Estou emocionada por estar aqui com as minhas iguais e tenho o propósito de na próxima Marcha estar aqui com minha mãe e minha filha”, contou Ana Benedita durante o evento.

Na fala de Ana, vemos que o propósito da marcha é o legado. O pensar além do hoje, olhando para o que vem depois, reverenciado sempre as que vieram antes de nós, destacando a importância desse diálogo intergeracional.

 

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É por isso que este momento se torna tão revigorante: ele reafirma que a luta de hoje constrói bases mais sólidas para as próximas gerações de mulheres negras.

Ao marchar, reforçamos que somos muitas e não estamos sós. Criamos uma ponte entre passado, presente e futuro. Como afirma Maria Lúcia, de São Paulo (SP):

“Essa Marcha mostra a potência das mulheres negras e o que elas são capazes de fazer. O que temos aqui, unidas em Brasília neste 25 de novembro, é uma representação das forças das mulheres negras de fazer mudar esse cenário”, contou.

Mulheres negras: sujeitos políticos e históricos

Ser mulher negra na Marcha é reconhecer-se como sujeito político e histórico. É afirmar uma identidade que, apesar de tantas tentativas de silenciamento, resiste e se reinscreve no centro do debate político.

Ser, aqui, não é apenas existir: é ocupar espaço, reivindicar direitos e reafirmar a força das que vieram antes de nós, mas que sustenta cada passo. É compreender que cada corpo presente traz consigo uma história, uma luta e uma potência coletiva que transforma territórios, narrativas e futuros possíveis.

Sentir a Marcha das Mulheres Negras é permitir que o encontro com outras mulheres negras desperte emoções profundas: reconhecimento, acolhimento, força e coletividade.

É perceber que experiências aparentemente individuais, marcadas pelas desigualdades e pela resistência cotidiana, ganham sentido coletivo quando se cruzam.

 

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No sentir, nasce a certeza de que não caminhamos só; que nossa dor encontra eco, e nossa potência, espelho. A emoção que atravessa a Marcha revela a dimensão afetiva da luta, onde corpo, memória e ancestralidade se entrelaçam.

Marcha das Mulheres Negras é integrar-se a uma trama contínua que conecta passado, presente e futuro. É perceber que fazemos parte de uma comunidade que não apenas reivindica, mas também cria caminhos, redes e possibilidades para as próximas gerações.

É carregar no corpo a memória das que vieram antes e, ao mesmo tempo, abrir espaço para as que virão. Na Marcha, o pertencimento é um ato político: declarar que somos muitas, diversas e vivas.

* Texto por Fernanda Paixão e Gilmara Santana, da Rede Tumulto, de Brasília (DF)