publicado dia 5 de abril de 2023
Prêmios do Ministério dos Direitos Humanos e da Cultura celebram Luiz Gama e Carolina Maria de Jesus
Reportagem: Ana Júlia Paiva
publicado dia 5 de abril de 2023
Reportagem: Ana Júlia Paiva
Duas importantes figuras negras da luta antirracista no Brasil – o abolicionista e advogado Luiz Gama (1830-1882) e a escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977) – foram reconhecidas nesta semana no campo dos Direitos Humanos e da Literatura no Brasil.
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) criou, nesta segunda-feira, 3 de abril, o Prêmio Luiz Gama de Direitos Humanos, que será concedido, a cada dois anos, para figuras de destaque na defesa e promoção dos Direitos Humanos no Brasil. O prêmio foi instituído no lugar da Ordem do Mérito Princesa Isabel, criada em dezembro de 2022 pelo antigo governo.
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Já o Ministério da Cultura (MinC) lançou o Prêmio Carolina Maria de Jesus de Literatura Produzida por Mulheres 2023 – o maior edital literário voltado a mulheres lançado no país. A iniciativa irá fornecer R$ 2 milhões a 40 obras inéditas escritas por mulheres, sendo R$ 50 mil para cada escritora.
As duas ações são de suma importância educativa, de um lado por reaver o protagonismo da luta antirracista a uma figura negra de importância nacional, como Luiz Gama, e de outro por incentivar a produção literária feminina e homenagear um dos grandes nomes da literatura brasileira, Carolina Maria de Jesus.
“Não se trata de afirmar que uma pessoa branca não possa integrar a luta antirracista, mas de reafirmar o símbolo vital que envolve essa substituição: o reconhecimento de um homem negro abolicionista enquanto defensor dos direitos humanos”, explicou a secretária-executiva do Ministério dos Direitos Humanos, Rita Oliveira, em nota no site oficial do ministério, em alusão à exclusão de Princesa Isabel do nome do prêmio.
Quem foi Luiz Gama? Luiz Gama foi jornalista, escritor, poeta e líder abolicionista brasileiro. Apesar de ter nascido livre, foi vendido pelo pai português como escravo para pagar uma dívida de jogo. Aos 18 anos fugiu e em 1850 passou a ser aluno ouvinte do curso de direito da atual Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. A partir de então, Gama passou a atuar na defesa jurídica de pessoas negras escravizadas.
Uma pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, coletivo de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), aponta disparidade racial e de gênero no campo literário: 70% dos livros publicados por grandes editoras brasileiras entre os anos de 1965 e 2014 foram escritos por homens, sendo 90% deles brancos e ao menos 50% originários do eixo Rio de Janeiro – São Paulo.
O edital literário do Prêmio Carolina Maria de Jesus de Literatura Produzida por Mulheres pressupõe, portanto, que, ao menos:
O novo edital literário tem como função promover a diversidade de gênero e étnico-racial, numa perspectiva de políticas afirmativas que atendem os princípios e diretrizes do Plano Nacional do Livro e Leitura e da Política Nacional de Leitura e Escrita.
Quem foi Carolina Maria de Jesus? Autora do famoso livro “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”, traduzido em 13 línguas e vendido em mais de 40 países, Carolina Maria de Jesus é uma das mais importantes escritoras brasileiras do século 20. Mulher negra, periférica, mãe solo e catadora de material reciclável, Carolina de Jesus nasceu em 1914 e publicou seu primeiro livro em 1960. Ela também foi cantora e compositora, onde demonstrou, pelo samba, sua luta política e cultural.
O edital do Prêmio Carolina Maria de Jesus também é o primeiro construído a partir de uma lógica acessível e inclusiva: com linguagem simples, direito visual e design editorial. O documento é resultado de uma parceria do MinC com o ÍRIS, Laboratório de Inovação e Dados do Governo do Ceará.
Saiba Mais
Prêmio Maria Carolina de Jesus de Literatura Produzida por Mulheres 2023
Inscrições: 12 de abril a 10 de junho de 2023
Link do edital