publicado dia 28 de outubro de 2014
Placemaking chega ao Brasil e quer planejar cidades voltadas para pessoas
Reportagem: Danilo Mekari
publicado dia 28 de outubro de 2014
Reportagem: Danilo Mekari
“Cidades têm a capacidade de fornecer algo para todos apenas quando esse algo é criado por todos.” A frase da escritora e ativista estadunidense Jane Jacobs serve de inspiração para os criadores de um conceito ainda pouco conhecido no Brasil: o Placemaking (criação de lugares, em tradução livre).
Criado nos anos 1980, nos Estados Unidos, o Placemaking é um processo de planejamento, criação e gestão de espaços públicos, que estimula uma maior interação entre as pessoas e propõe a transformação dos pontos de encontro de uma comunidade (parques, praças, ruas e calçadas) em lugares mais agradáveis e atrativos.
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Para isso, nada melhor do que ouvir os desejos e necessidades daqueles que vivem e usufruem do local a ser transformado. “Queremos incentivar a criação de espaços onde amigos possam se encontrar e pessoas possam se conhecer. Em suma, lugares onde a convivência cidadã floresça”, destaca Jeniffer Heemann, secretária-executiva do Conselho Brasileiro de Lideranças em Placemaking (CBLT) – plataforma lançada no início de outubro, que pretende articular esforços de poder público, iniciativa privada, academia e projetos da sociedade civil que tenham confluência neste tema.
“O Conselho vai debater questões sobre como transformar a cidade de uma forma que melhore a qualidade de vida e a saúde pública, trazendo mais bem-estar aos cidadãos.”
Carros x Pessoas
A Conferência Internacional Future of Places (Futuro dos Lugares), promovida pela ONU Habitat, em setembro de 2014, em Buenos Aires, foi o berço do CBLT. “Um grupo de 20 brasileiros que participavam da Conferência teve a ideia de reunir esforços, pessoas e coletivos que têm interesse em desenvolver projetos ligados às melhorias urbanas”, explica Jeniffer. Hoje, o Conselho conta com cerca de 50 membros e continua aberto para a participação de novos interessados.
O segredo do sucesso de espaços públicos, segundo o PPS:
Acessos e conexões
Um bom espaço público integra-se com o bairro onde se encontra. É aberto à comunidade, acessível e conveniente.
Conforto e imagem
O conforto pode ser avaliado pela beleza do local, mas também pela forma como é cuidado, se transmite uma sensação de segurança, se tem banheiros acessíveis, se é possível sentar-se, entre outros.
Usos e atividades
As atividades desenvolvidas em um local são a razão para as pessoas o frequentarem. Se não houver nada para fazer, é pouco provável que elas retornem.
Sociabilidade
A sociabilidade do espaço é um fator essencial para aflorar o sentimento de pertencimento por parte do cidadão. Quando se está com os amigos, se cumprimenta vizinhos e se sente mais à vontade para interagir com estranhos, as pessoas tendem a desenvolver um maior sentimento de comunidade e a preocupar-se mais com o espaço público.
Outra fonte de inspiração é a iniciativa Project for Public Spaces – PPS (Projetos para Espaços Públicos), uma das organizações mais assíduas na promoção internacional do Placemaking, além de referência no tema. Após diversos estudos em cerca de três mil comunidades de 50 países, o PPS identificou quatro qualidades comuns em espaços públicos bem-sucedidos: acessos e conexões; conforto e imagem; usos e atividades; e sociabilidade (leia mais no box).
O PPS organiza eventos como o Pro Walk Pro Bike, realizado em setembro em Pittsburgo (EUA), que discutiu a necessidade de se criar alternativas aos veículos motorizados. Foi uma frase de outro escritor estadunidense que serviu de mote para os debates: “Esqueçam os malditos carros e construam cidades para os amantes e amigos” (Lewis Mumford).
Em suas discussões no Brasil, o CBLP também prioriza a disparidade entre uma cidade para o automóvel e uma cidade para as pessoas. “Em visita ao nosso país, membros do PPS afirmaram que estamos copiando os mesmos erros do urbanismo ao construir vias largas apenas para carros. Para quem anda a pé, a cidade deixa de ser interessante e convidativa e passa a ser assustadora”, aponta Jeniffer.
Para ela, a largura da calçada, as atividades e serviços proporcionados pelo bairro e até mesmo a sombra podem propiciar uma experiência melhor para os cidadãos que se deslocam a pé ou de bicicleta. “Fora dos carros, as pessoas trazem vida para as ruas. E quanto mais gente na rua, mais segura ela é”, acredita. “Queremos recuperar um outro estilo de cidade que estimule esses pequenos trajetos a pé, o que ajuda tanto na questão de segurança como na de saúde pública, pois desencorajar o uso de carro reduz a poluição e incentiva o exercício físico.”
Agenda política
Para além da articulação entre diferentes setores interessados em uma nova cidade, o CBLP tem a intenção de promover workshops e oficinas sobre as ferramentas do Placemaking que trazem melhorias para os espaços públicos. Elas terão o apoio do PPS, que possui expertise no assunto.
Por fim, o Conselho quer inserir na agenda política brasileira as reais demandas de quem vive e utiliza os espaços das cidades. “Em suma, fazer com que o planejamento urbano voltado ao protagonismo das pessoas entre ainda mais na pauta dos governos”, declara Jeniffer, parabenizando a prefeitura de São Paulo pelo projeto Centro Aberto.
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