publicado dia 20 de junho de 2016
Patrimônio cultural revela potencial educativo do território urbano
Reportagem: Pedro Nogueira
publicado dia 20 de junho de 2016
Reportagem: Pedro Nogueira
Poesia, força, solidariedade, diversidade, comunidade, igualdade, utopia, aprender, militância, criança, dúvida, palavra, roda, janela, esperança e tantas outras palavras surgiram quando Edson Ignácio de Oliveira, o educador Eddy do Museu da Língua Portuguesa, pediu aos participantes do curso Potenciais Educativos do Território Urbano:rumo à Cidade Educadora que se identificassem a partir de uma palavra. Da dinâmica criativa e criadora de vínculos, emergiu um pouco das histórias que embasam as ambições dessa formação.
Curso “Potenciais educativos do território urbano: rumo à Cidade Educadora”
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Em sua quinta etapa, o curso organizado por representantes de coletivos, museus e organizações da sociedade civil, em parceria com a Diretoria Regional de Educação Ipiranga (DRE-Ipiranga), e voltado aos professores da rede pública municipal de São Paulo, se debruçou sobre o Patrimônio Cultural, em um dia de atividades organizadas pela Pinacoteca do Estado de São Paulo e pelo Museu da Língua Portuguesa.
E foi justamente o educador do Museu da Língua Portuguesa, que recentemente perdeu sua sede para um incêndio, que aproveitou o ensejo para falar de Patrimônio Imaterial. “As pessoas ficam consternadas quando percebem que, mesmo sem sede física, o Museu continua. Ele, assim como a língua, é muito mais do que sua expressão física”, analisou Eddy, emocionado.
Para exemplificar seu ponto, trouxe para os educadores e educadoras ali presentes uma série de dinâmicas, usos e modos de ser da língua para uma animada atividade cheia de memes, piadas, usos coloquiais, informais, gírias e jargões. “Língua é contexto. É importante saber com quem se está falando para saber o que se pode falar”, definiu Edson, explicitando a qualidade viva da língua e relatando como a gramática normativa pode servir para reforçar estruturas sociais desiguais. “A palavra é sempre falha”, alertou.
Primeira infância
Após a palestra do Museu da Língua Portuguesa, o curso recebeu a visita da coordenadora do São Paulo Carinhosa, o programa da Prefeitura de São Paulo para a Primeira Infância, Ana Estela Haddad, que saudou a iniciativa que traz a cidade e infância para o centro da formação docente. Para salientar a importância da formação, Ana Estela apresentou a experiência que a São Paulo Carinhosa desenvolve no bairro do Glicério, empoderando a comunidade para sua transformação, fortalecendo a rede intersetorial e promovendo a escuta ativa das crianças.
“Diversos estudos comprovam que o que acontece nos primeiros anos de vida de um indivíduo irá deixar marcas indeléveis em sua formação. Então, o centro de nossas ações deve ser garantir essa equidade nas primeiras etapas da vida. Para assegurar isso, para além das políticas públicas, precisamos de comunidades engajadas, que cobrem e garantam direitos”, afirmou.
Presente à formação, o professor Paulo Magalhães da EMEF Duque de Caxias, localizada no Glicério, afirmou que, após o local ter assumido sua vocação educadora, transformando suas ruas e sendo preenchido por cortejos, caminhadas de crianças e grafite, houve uma mudança significativa na conformação do bairro. “Trabalho dez horas por dia com as crianças e o que sentimos é diferente. Parece que antes a gente nem existia. Agora somos um bairro. Esse movimento aproxima o aluno do professor e isso, que acontece na comunidade, tem impacto na sala de aula. É outra dinâmica”, se entusiasmou.
Caminhada
Após as discussões da manhã, os professores da rede pública tiveram uma visita guiada à Pinacoteca, que conta com um importante acervo de arte brasileira. Para convidar os professores à reflexão crítica, a educadora da Pinacoteca Telma Mosken, propôs reflexões sobre o passado e o presente do Brasil, ao opor o “Caipira picando fumo”, do pintor regionalista do séc. 19 Almeida Júnior com a famosa foto de Tuca Vieira, que contrasta a comunidade de Paraisópolis com um condomínio de luxo do Morumbi. Apesar de distantes mais de um século, ambas guardam fragmentos e diálogos de um país desigual, como notaram os educadores.
Em seguida, saíram para caminhar pela região da Luz, guiados por Eddy e Telma, que ressaltavam os detalhes da construção das estações, as diferenças entre as classes sociais que habitavam e habitam esse espaço e os diversos significados e aprendizados escondidos debaixo de cada camada daquele local. Para terminar o dia, uma visita guiada pela Pinacoteca com Denyse Emerich, coordenadora de Programa Educativo da Pinacoteca de São Paulo, convidou a entender a relação entre os diferentes patrimônios e a riqueza de sentidos e significados guardados nas ruas e museus das cidades. Instigados, os professores prometerem voltar – só reclamaram que tudo ficaria mais fácil se houvesse mais transporte garantido para as crianças entre as escolas e os equipamentos culturais.
O curso voltará para sua sexta e última etapa no dia 2/7. Nela, os professores serão convidados a avaliar o curso, enquanto elaboram projetos para suas escolas.
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