publicado dia 2 de dezembro de 2016
O Tríptico da Infância e a construção de uma Cidade Educadora em Rosário
Reportagem: Pedro Nogueira
publicado dia 2 de dezembro de 2016
Reportagem: Pedro Nogueira
Com uma ampla oferta de equipamentos e políticas públicas que assumem a tarefa permanente de formar seus cidadãos, Rosário (Argentina) é reconhecida há 20 anos como uma Cidade Educadora.
Entre as iniciativas que desenvolve, o Tríptico da Infância materializa uma nova forma de pensar a cidade, através de três espaços públicos voltados para o brincar, a convivência e o encontro.
Maria Ángel “Chiqui” Gonzalez, ministra de Inovação e Cultura de Santa Fé e co-idealizadora do Tríptico da Infância, revela o que está por trás dessa experiência de aprendizado.
Em 2015, o Portal Aprendiz entrevistou Carolina Balparda, na época diretora geral de programas educativos da Secretaria de Cultura e Educação em Rosário. Confira a entrevista:
Portal Aprendiz: Como e quando surge a ideia de transformar Rosário em uma Cidade Educadora?
Carolina Balparda: Fazemos parte da AICE praticamente desde o início do seu funcionamento, justamente porque coincidimos em perspectivas e olhares a respeito da capacidade e possibilidade educadora de uma cidade. A forma como Rosário pensava suas políticas é coerente com a Carta de Princípios da AICE, que orienta o sentido das políticas e projetos que uma Cidade Educadora deve levar adiante.
É um erro pensar que se cria uma Cidade Educadora com uma receita, uma fórmula e um modelo. É uma soma de políticas, projetos e práticas que uma cidade leva adiante e encara como uma filosofia, um conceito, uma ideologia e uma metodologia.
A cidade é a grande estratégia para voltarmos a produzir sentido coletivamente
Também é certo que cada cidade interpreta a sua própria forma de lidar com um projeto educativo. É importante fazer essa ressalva, pois a forma pode variar de acordo com o contexto cultural, social e histórico local. Rosário se pensa como cidade que educa e pensa sua política educativa de uma maneira que é muito própria dela, com suas particularidades.
Por exemplo, não somos uma cidade autônoma. O sistema formal e educativo de ensino é de competência do nível estadual (da província de Santa Fé), com quem articulamos e temos uma relação fluída, mas não temos uma participação e intervenção direta sobre a gestão diretiva e curricular das escolas. Nesse sentido, somos mais um ator que trabalha no cenário educativo com a rede de ensino. Essa é uma característica de Rosário que São Paulo, por exemplo, não tem, pois o governo da cidade tem responsabilidade direta pela gestão do sistema escolar.
Falamos de pedagogia urbana, territórios de aprendizagem, bairro-escola, escola móvel: são todas compreensões de que o sistema educativo é mais amplo e atravessa todas as instâncias da vida, e mais ainda na cidade, que é a grande estratégia para voltarmos a produzir sentido coletivamente. Tudo isso sem deixar de reconhecer a importância da escola.
A escola é uma instituição que ensina muitas coisas para além dos conteúdos curriculares fundamentais. Ela segue sendo uma instituição central e vital, e o que nos cabe é diluir a divisão intra muros e extra muros, casa e escola, mente e corpo, jogo e aprendizagem. Nesse sentido, acredito que elas também estão mudando – se comparadas há décadas atrás, o sistema formal também está pensando de outra maneira.