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publicado dia 5 de fevereiro de 2025

Mulheres, negros e indígenas enfrentam exclusão no acesso à cultura no Brasil

Reportagem: | Edição: Tory Helena

Resumo: Divulgada em 03/02, pesquisa “Cultura nas Capitais” revela como marcadores sociais como raça e gênero influenciam o acesso a atividades culturais no Brasil. O estudo, que entrevistou 19.500 pessoas em todas as regiões, mostra as barreiras enfrentadas pelos diferentes grupos para frequentar de bibliotecas a concertos musicais. 

Ir ao teatro, visitar um museu ou participar de uma festa popular no Brasil são atividades culturais influenciadas por marcadores sociais como raça e gênero. É o que aponta a pesquisa “Cultura nas Capitais”,  que entrevistou 19.500 pessoas a partir de 16 anos de idade nas 26 capitais e no Distrito Federal.

Lançada em São Paulo (SP) na segunda-feira (03/02), a pesquisa aponta que menos da metade dos moradores das capitais frequenta cinemas, enquanto o acesso a jogos eletrônicos é duas vezes maior do que a bibliotecas. 

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Além disso, mais de um terço dos entrevistados nunca visitou um museu, e dois em cada cinco jamais assistiram a uma peça teatral. O estudo evidencia desigualdades, aponta potencial para crescimento no acesso e reforça a importância de iniciativas para democratizar o acesso à cultura no país. 

Realizada pela  JLeiva Cultura & Esporte, a pesquisa teve patrocínio do Itaú e do Instituto Cultural Vale e contou com a parceria da Fundação Itaú.

Cuidados domésticos e com a família afastam mulheres de atividades culturais

Embora homens e mulheres frequentem atividades culturais em proporções semelhantes, existem algumas exceções. As mulheres superam os homens no acesso a livros (65% contra 59%) e a espetáculos de dança (26% contra 22%), enquanto os homens têm maior presença em jogos eletrônicos (54% contra 49%) e visitas a locais históricos (47% contra 44%).

Os obstáculos das mulheres aumentam devido às responsabilidades como afazeres domésticos e o cuidado de outros membros da família, como crianças e idosos.

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Segundo a pesquisa, homens e mulheres com filhos pequenos (até 12 anos) geralmente fazem menos atividades culturais do que quem não tem filhos, mas a queda é maior para as mulheres. Entre os entrevistados sem filhos, elas vão mais a museus do que eles: 37% e 33%, respectivamente. Entre os que têm filhos de até 12 anos, os números caem, mas as posições se invertem: homens (25%) vão mais do que mulheres (23%). 

Ter um filho pequeno reduz em 10 pontos percentuais o acesso das mulheres a shows de música: 52% entre as que não têm filhos, 42% entre as que têm. Para os homens, o recuo é menos intenso, de 49% para 45%.

Além disso, as donas de casa figuram, na maior parte das vezes, como o grupo com menor acesso a atividades culturais. Entre os entrevistados, apenas 34 homens, de todos os 19.500 entrevistados, se declararam “donos de casa”.

Pesquisa revela que mulheres, negros e indígenas enfrentam exclusão no acesso à cultura no Brasil
Pesquisa aponta que responsabilidade por trabalho doméstico e cuidado com a família dificulta acesso de mulheres brasileiras à cultura. Foto: Agência Brasil

Por outro lado, as mulheres demonstram mais interesse em participar de atividades culturais do que os homens. No caso de atrações como peças teatrais e shows de música, 56% delas têm alto interesse. Já no caso de festas populares, o interesse das mulheres cai para 46%.

Na avaliação da pesquisadora Gisele Jordão, doutora em comunicação e práticas de consumo pela Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo (ESPM-SP), a experiência das mulheres na área cultural também é impactada pelo medo da violência, em suas diferentes dimensões, como o assédio sexual.

“As mulheres têm mais interesse que os homens, porém elas vão menos a alguns lugares específicos, especialmente onde existe uma aglomeração. Nós sabemos o quanto esses lugares podem ser hostis conosco. Muitas vezes, não temos condição social de participar de festas populares, por exemplo.  Precisamos debater quais condições as mulheres têm para uma coisa e para outra”, afirmou, durante debate no lançamento da pesquisa “Cultura nas Capitais”.

Pardos e indígenas enfrentam exclusão no acesso à cultura

O acesso das pessoas brancas a atrações culturais é  superior ao de outros grupos raciais em sete das 14 atividades pesquisadas. São os brancos, por exemplo, quem têm mais acesso a bibliotecas (28%, museus (32%), teatro adulto, infantil, stand up ou musical (29%), feiras literárias (24%), concertos (11%), locais históricos (49%) e livros (67%).

Já pessoas pretas estão à frente em espetáculos de dança (27%), shows de música (44%), saraus (15%) e festas populares (39%). Pessoas amarelas lideram em acesso a cinemas (59%) e jogos eletrônicos (59%). 

Pardos, por outro lado, estão entre os menores índices de acesso em quatro das 14 categorias analisadas — só lideram em circo (15%). Entre os indígenas, as taxas de participação são as menores em nove atividades — duas delas com números similares aos pardos: museus (21%) e feiras de livros (18%). As pessoas amarelas também estão numericamente abaixo das demais em outras sete áreas (por vezes com índices iguais aos de pardos ou indígenas).

Os mais excluídos são os indígenas. Em todas as 14 atividades da pesquisa, grupo lidera o percentual de pessoas que nunca foram, por exemplo, a um concerto (78%), a um teatro (53%) ou a um museu (49%). Nos 12 meses anteriores à pesquisa, metade desse grupo foi no máximo a duas das atividades culturais, como mostra a tabela abaixo.

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“Embora pretos e pardos no Brasil geralmente tenham menor renda e escolaridade, isso parece se refletir apenas parcialmente no acesso à cultura nas capitais. Os brancos, de fato,  vão mais a diversas atividades culturais. Os pardos aparecem um pouco pior, mas as pessoas pretas estão entre as que mais vão a shows, festas populares, apresentações de dança e saraus”, considera João Leiva, idealizador do estudo.

A pesquisa “Cultura nas Capitais” está disponível na internet. Para conferir o estudo completo, acesse aqui.

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