publicado dia 8 de abril de 2025
Memória negra: levantamento indica 100 lugares que guardam a história africana no Brasil
Reportagem: Redação
publicado dia 8 de abril de 2025
Reportagem: Redação
Resumo: A publicação Lugares de Memória Negra e Africana no Brasil, lançada pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), traz 100 lugares que ajudam a recontar a história de resistência e luta dos negros sequestrados e escravizados no país. Entre os locais mapeados estão pontos turísticos famosos, que tiveram sua verdadeira história invisibilizada.
O tráfico transatlântico de africanos escravizados é reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como um dos maiores crimes contra a humanidade. Com cerca de 40% das pessoas forçadas a atravessar o oceano atlântico, o Brasil foi o país das Américas que mais recebeu africanos escravizados. Além disso, o país foi o último dos continentes americanos a abolir o regime escravocrata, em 1888.
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Em um esforço para garantir o direito à memória desse passado brasileiro, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) lançou a publicação Lugares de Memória Negra e Africana no Brasil, um mapeamento de espaços históricos fundamentais para a preservação da cultura negra, da resistência e da ancestralidade africana no Brasil.
A publicação faz parte da nova seção “Memória e Verdade” do Observatório Nacional dos Direitos Humanos (ObservaDH), plataforma virtual que reúne indicadores e evidências sobre direitos humanos no Brasil. Os dados são baseados no “Inventário dos Lugares de Memória do Tráfico Atlântico de Escravos e da História dos Africanos Escravizados no Brasil”, publicado em 2013 pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).
Resgate da história
Ao todo, o mapeamento identificou 100 pontos distribuídos por todas as regiões do país, entre comunidades quilombolas, locais de trabalho, de vida cotidiana e de práticas culturais negras, como terreiros e igrejas fundadas por irmandades de grupos africanos e locais de revoltas.
A maior concentração dos espaços mapeados está no Nordeste, com 44 locais, seguido do Sudeste (39), Sul (11), Centro-Oeste (3) e Norte (1). Entre os estados, a Bahia lidera com 23 lugares de memória, seguida do Rio de Janeiro (20) e Pernambuco (10).
Entre os locais mapeados estão o lugar onde ocorreu a Revolta de Carrancas, no município de Carrancas (MG), e o Campo da Pólvora, onde foram executados os escravizados envolvidos na Revolta dos Malês, e que hoje é uma praça e uma estação de metrô, na capital baiana, sem nenhuma referência pública aos acontecimentos históricos.
Há ainda espaços turísticos muito visitados, mas que a maioria das pessoas não sabe que guardam parte da memória negra. São os casos da praia de Porto de Galinhas, no litoral sul de Pernambuco, e o Mercado Modelo, em Salvador.
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De acordo com o MDHC, estes foram locais de desembarque legal e ilegal – conforme a legislação da época – por onde pessoas escravizadas e traficadas do continente africano chegavam ao Brasil.
Na lista também estão o Largo do Pelourinho, em Salvador, onde africanos escravizados eram castigados, e o Cais do Valongo, no Rio de Janeiro, que já foi o principal porto de entrada de africanos escravizados no Brasil e nas Américas. Reconhecido como Patrimônio Mundial pela Unesco, desde 2012, o cais foi revitalizado e aberto à visitação pública.
Outra área em destaque é o Quilombo dos Palmares, em Alagoas. Símbolo da resistência negra no país, o sítio arqueológico da Serra da Barriga, onde ficava o maior quilombo registrado do país, hoje abriga o Parque Memorial Quilombo dos Palmares.