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publicado dia 20 de dezembro de 2016

Estudo traça panorama da mobilidade urbana de mulheres em São Paulo

Reportagem:

Um estudo lançado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) traçou um panorama acerca da mobilidade urbana das mulheres em São Paulo. Realizado a partir de uma pesquisa de 2012 da Companhia do Metropolitano de São Paulo, a análise mostra que as mulheres utilizam o transporte público coletivo com mais intensidade do que os homens (40,5% a 34,7%) e também se deslocam mais a pé (34,1% a 27,8%).

“Ultimamente as mulheres participam de um monte de atividades, estão em todas as áreas e, portanto, circulam mais. Imagina-se, então, que o resultado pudesse ser igualitário, mas a pesquisa mostra que o carro continua sendo predominantemente masculino, enquanto o andar a pé é feminino”, explica a psicóloga, pesquisadora e militante feminista Raquel Moreno.

A pesquisa mostra que, na capital paulista, as mulheres utilizam o transporte público coletivo com mais intensidade e andam mais a pé do que os homens.
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Para ambos os sexos, trabalho e educação são os principais motivos de deslocamento diário. As mulheres, no entanto, apresentam maior variedade na finalidade de suas viagens (como saúde, assuntos pessoais, lazer e compras). De acordo com a pesquisa, essa diversificação “pode ser explicada pelas funções que recorrentemente recaem sobre as mulheres de levar e buscar os filhos na escola, acompanhar familiares em consultas médicas, realizar compras”, entre outras.

“Esses dados refletem a dupla jornada das mulheres”, aponta Raquel. “Elas gastam muito mais tempo na jornada doméstica do que os homens, que é encarada como um trabalho feito por amor.” Raquel observa que, mesmo sendo maioria nos usuários de transporte público, o assédio direcionado à mulheres neste espaço ainda é enorme. “Nós, mulheres, exigimos respeito e segurança. Há avanços quanto à prestação de queixas, mas ainda são muito burocráticos e insuficientes.”

A pesquisa mostra que, na capital paulista, as mulheres utilizam o transporte público coletivo com mais intensidade e andam mais a pé do que os homens.
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De acordo com a SMDU, “as características socioeconômicas da população contribuem para que o acesso físico à cidade não seja homogêneo, influenciando além do acesso ao trabalho e à educação, o acesso à cultura, aos cuidados com a saúde”.

A diferença entre gêneros também acontece na direção de um automóvel. Enquanto somente 13,7% das viagens femininas são realizadas por elas mesmas dirigindo, quase o dobro deste número são realizadas por homens (26,4%). Se for dividido por renda familiar, os números mostram um enorme abismo entre mulheres de diferentes classes sociais. Mulheres que têm ganhos de até R$ 2.488 fazem 3% de suas viagens na direção de veículos. Já mulheres com renda mais alta (em valores que superam R$ 9.330) realizam 45% de suas locomoções dessa maneira.

Diferença entre classes sociais

O estudo aponta ainda que as mulheres com salários mais baixos são as que mais utilizam os transporte público coletivo e a caminhada. Em uma família com ganhos mensais menores que R$ 1.244, 50% das viagens são feitas caminhando e 28% de ônibus. “Elas acabam tendo um deslocamento mais penoso. O transporte coletivo de uma cidade como São Paulo é insuficiente, ainda mais com recursos escassos para pagá-lo.” Já a pesquisa argumenta que, “no limite, pode-se concluir que as mulheres das faixas mais pobres enfrentam uma tendência à imobilidade urbana”.

A pesquisa mostra que, na capital paulista, as mulheres utilizam o transporte público coletivo com mais intensidade e andam mais a pé do que os homens.

Com a intenção de qualificar o debate sobre políticas urbanas inclusivas e políticas públicas setoriais relacionadas ao tema, o estudo defende que “o modo como essas mulheres se deslocam pela cidade faz com que sejam atores centrais no planejamento urbano, uma vez que, por usarem mais transporte coletivo e se deslocarem mais a pé, vivenciam de maneira mais próxima e orgânica essa dimensão do espaço público e seus equipamentos”.

Políticas públicas

A Conferência sobre Moradia e Desenvolvimento Urbano Sustentável – Habitat III, promovida pela Organização das Nações Unidas em Quito, Equador, em outubro, estabeleceu a Nova Agenda Urbana incluindo recomendações específicas em atenção ao direito e necessidade das mulheres dentro dos compromissos de mobilidade igualitária e acessível e segurança viária.

Sugere-se, então, medidas como redução da velocidade máxima de vias, inclusão de motoristas mulheres, possibilidade de desembarque noturno de ônibus em locais seguros, instalação e melhoramentos em calçadas, iluminação, simplificação de tarifas de transporte com integração e elevação da oferta de modais, valor de tarifa por tempo e não somente por trecho de deslocamento.

“A mobilidade é crucial na realização da cidadania nas grandes cidades. É através dela que os indivíduos podem atender suas necessidades e desenvolver aptidões. Quando benéfica ao conjunto de indivíduos, em suas particularidades, contribui para a efetivação do direito à cidade”, aponta o documento. “Se temos direito à cidade, deveríamos ter direito de se deslocar pela cidade de maneira adequada”, finaliza Raquel.

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