publicado dia 22 de agosto de 2025
“É impossível falar de Justiça Climática sem considerar raça, gênero e território”
Reportagem: Da Redação
publicado dia 22 de agosto de 2025
Reportagem: Da Redação
🗒️Resumo: Com participação de Cássia Caneco (Instituto Pólis e Coletivo Periferia Preta), segundo episódio da série multimídia Territórios Educativos para a Justiça Climática focaliza diálogo entre a Justiça Climática e a Cultura produzida nos territórios periféricos.
Como a cultura produzida nos territórios pode potencializar a Justiça Climática? Tocando em temáticas como cultura negra, periferias e Territórios Educativos, o segundo episódio da série multimídia Territórios Educativos para a Justiça Climática entrevista Cássia Caneco, diretora-executiva do Instituto Pólis e integrante do Coletivo Periferia Preta.
Na conversa, a atriz e pedagoga explora conexões entre as agendas culturais e de Justiça Climática a partir da experiência de coletivos periféricos em São Paulo (SP).
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Disponível no YouTube, a série de entrevistas Territórios Educativos para a Justiça Climática ilumina temas fundamentais na convergência entre as agendas dos Territórios Educativos e da Justiça Climática.
Cássia Caneco é atriz, pedagoga e coordenadora de projetos culturais desde 2013, com ampla experiência nas áreas de cidadania cultural, juventude e participação. Atualmente, é diretora-executiva do Instituto Pólis, onde coordena o eixo de Justiça Racial, Gênero e LGBTQIAPN+, além de integrar o Conselho Consultivo do programa Educação e Território da Cidade Escola Aprendiz. Cássia também faz parte do Coletivo Periferia Preta, com atuação na promoção e valorização da memória e produção cultural preta, LGBTQIAPN+ e periférica.
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista e assista na íntegra no YouTube:
“São as pessoas dos territórios periféricos que enfrentam enchentes, deslizamentos e temperaturas altas”
“É impossível falar de Justiça Climática sem considerar raça, gênero e território. O que chamamos de Crise Climática vem para adensar, para inflar, a crise de desigualdades que já vivíamos”, defende Cássia Caneco, explicando que a emergência no clima afeta a população de maneira desigual.
“São as pessoas que estão nos territórios periféricos, historicamente marginalizados, que, embora tenham ajudado a construir a cidade, enfrentam as enchentes, os deslizamentos, as temperaturas altas”, exemplifica.
“O que temos chamado de Crise Climática é uma crise de Direitos Humanos. É uma crise urbana, uma crise racial e crise territorial também”, diz.
Cássia destaca as práticas de denúncia e imaginação política das periferias extravasadas por meio da Cultura nos territórios periféricos.
Citando a experiência do Periferia Preta no bairro de Sapopemba, na Zona Leste de São Paulo, durante a pandemia de Covid-19, a coordenadora de projetos culturais lembra que, diante de situações extremas, são os coletivos que primeiro se organizam em prol da sua comunidade.
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“[Se organizam] nesse movimento de utilizar a Arte e a Cultura como mecanismos de informação, formação e valorização destes corpos e pessoas no território”, afirma.
“Esses coletivos têm a Pedagogia da Vivência. Por conta disso, conseguem pensar em alternativas”
“Esses coletivos têm a Pedagogia da Vivência, nascida da experiência de conviver todos os dias com a Dona Maria, de ver todos os dias o seu Zé e de saber quais são as necessidades vivenciadas pelas pessoas do território”, explica.
Por conta disso, conseguem pensar em alternativas que condizem melhor com a realidade dessas pessoas. O que temos feito é construir futuros possíveis e propor ações de imaginação política”, contextualiza Cássia.
Justiça Climática, Cultura e Memória
Cássia Caneco reforça também a importância do registro e resgate das memórias e dos conhecimentos presentes nas periferias como estratégias de enfrentamento à crise no clima.
“A Cultura aproxima a gente da vida e do que faz a gente viver. E o que faz a gente viver é a conexão com a terra, com o barro, com as águas”
“Essas tecnologias de contato com a terra, com o chão, com o corpo, com a cura, elas não são de agora. Estamos fazendo esse movimento didático, reflexivo, conceitual, para tentar aproximar as coisas. A Cultura aproxima a gente da vida e do que faz a gente viver. E o que faz a gente viver é a conexão com a terra, com o barro, com as águas”, defende.
“Seria muito interessante que o contato que a cidade produz com esses elementos da natureza não fosse a partir de catástrofes. Que o nosso contato com a água não fosse o contato da água da enchente, que o nosso contato com a terra, com o barro, fosse o da construção e não do deslizamento”, reflete.
“Enquanto coletivo de cultura, temos o compromisso de manter essas memórias e tecnologias vivas, de registrá-las, de dizer que importa, de dizer que, diante de todos os fins do mundo que nos foram postos, estamos aqui. Esse resgate da memória é uma das nossas estratégias para driblar o fim do mundo. Temos plantado possibilidade e eu acho que é isso que conecta, de alguma maneira, a Cultura com a luta climática. São as ações que plantam, nos corpos-territórios, possibilidades de continuidade, possibilidade de existência”, diz.
Assista à entrevista na íntegra: