publicado dia 18 de novembro de 2025
Cúpula dos Povos marca participação crucial da sociedade civil durante a COP30 em Belém (PA)
Reportagem: Jessica Mota | Edição: Tory Helena
publicado dia 18 de novembro de 2025
Reportagem: Jessica Mota | Edição: Tory Helena
🗒️Resumo: A Cúpula dos Povos, realizada paralelamente à COP30 em Belém (PA), reuniu 70 mil pessoas ao longo de cinco dias de mobilização na Universidade Federal do Pará (UFPA). Para as 1,3 mil organizações e movimentos sociais participantes, as soluções apresentadas pelos tomadores de decisão na COP30 são insuficientes.
Um banquete na Praça da República encerrou a Cúpula dos Povos em Belém (PA), no último domingo, 16 de novembro. Servido por movimentos sociais, o Banquetaço – recheado de pratos de base agroecológica e da agricultura familiar – foi a culminância de uma semana de debates e mobilizações, realizados paralelamente à COP30.
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Um mosaico de 70 mil pessoas de 62 países reuniu-se em espaços da Universidade Federal do Pará (UFPA) ao longo de cinco dias. A diversidade foi um dos marcos da Cúpula dos Povos, com representantes indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais articulados com pescadores artesanais, extrativistas, trabalhadores e organizações da sociedade civil.

A mobilização esteve no roteiro da Cidade Escola Aprendiz, que está na capital paraense por conta da COP30. A gestora do programa Educação e Território, Lia Salomão, acompanhou as discussões de um dos eixos temáticos da Cúpula dos Povos (Cidades Justas e Periferias Urbanas Vivas).
Para a gestora, a participação se conecta com a necessidade da organização aprofundar o trabalho relacionado à Educação Climática e o combate ao Racismo Ambiental enfrentado diretamente pelos municípios e comunidades periféricas.
“Estamos entendendo que a questão climática atravessa diversos territórios onde atuamos no Brasil. Principalmente, os territórios mais vulnerabilizados, sejam eles as periferias urbanas, territórios periféricos ribeirinhos e quilombolas, e as não-centralidades do Brasil, os pequenos municípios”, afirma.
Carregada de simbolismos, a Cúpula dos Povos teve início no dia 12 de novembro. Na abertura, mais de 200 embarcações transportando cerca de 5 mil pessoas se reuniram na Baía do Guajará, em frente à capital paraense.
A origem da Cúpula dos Povos
A Cúpula dos Povos é um evento originalmente brasileiro. Surgiu como um espaço autônomo e de resistência de movimentos sociais para discutir a crise climática de forma paralela às negociações oficiais da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP).
A Barqueata da Cúpula reuniu caravanas que partiram de outros municípios, estados e países para denunciar falsas soluções climáticas e anunciar que a resposta para um mundo sustentável é o povo das águas, das florestas e das periferias.

A ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, marcou presença no encerramento da Cúpula dos Povos, no dia 16 de novembro, quando leu uma manifestação do presidente Luís Inácio Lula da Silva para os presentes, destacando a importância da participação social.
“A COP30 não seria viável sem a participação de vocês. Essa extraordinária concentração de pessoas que acreditam que outro mundo é possível e necessário. Como tenho dito em todos os fóruns internacionais de que participo, debaixo de cada árvore da Amazônia há uma mulher, um homem, uma criança”, escreveu o presidente na mensagem.

“O que foi feito ainda não é suficiente, porque o clima já mudou. O que vivemos atualmente não é mais urgência, é uma emergência climática”, reforçou Marina Silva.
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O encerramento da Cúpula também foi marcado pela entrega da Carta dos Povos a André Corrêa do Lago, presidente da COP30, que se comprometeu a ler o documento nos espaços de negociação do evento diplomático.
A carta reúne sete pontos de crítica ao sistema capitalista e a soluções ineficazes, além do reconhecimento de que as periferias são os territórios mais atingidos pela crise climática. Também apresenta 15 propostas de ações políticas e climáticas que consideram as realidades das comunidades reunidas na Cúpula dos Povos.
Entre elas, o combate aos efeitos do Racismo Ambiental, a construção de cidades mais justas e a manutenção de periferias vivas, por meio da implementação de políticas e soluções ambientais contextualizadas aos desafios dos territórios. O fortalecimento da consulta direta e da participação e gestão popular das políticas climáticas nos municípios também fazem parte das propostas.

Na avaliação do conjunto de 1,3 mil organizações e movimentos que participaram da Cúpula dos Povos, as soluções apresentadas por tomadores de decisão na COP30 têm sido insuficientes, colocando em risco a meta de limitar em 1,5°C o aquecimento global, estipulada pelo Acordo de Paris.
A falta de participação social nas Conferências das Partes (COPs) da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Clima é um problema recorrente.
As barreiras são criticadas por organizações e movimentos da sociedade civil, que enfrentam restrições de acesso e desafios logísticos, já que para acessar os espaços de negociação é necessário ter credenciamento específico que passa por um rito burocrático da ONU.
Isso afeta diretamente a eficácia das decisões climáticas globais e aprofunda desigualdades nas decisões que afetam os territórios impactados pela crise climática ao redor do mundo.
Além disso, as três últimas edições da COP evidenciaram que a ausência de participação social – em suas múltiplas formas de ação e pressão – reduz a a qualidade do debate sobre o clima.
As edições anteriores aconteceram em países com regimes autoritários, marcados por políticas de cerceamento à liberdade civil. Foi o caso das COP27 (Egito), COP28 (Emirados Árabes) e COP29 (Azerbaijão).