publicado dia 30 de novembro de 2015
No caminho da escola, crianças redesenham o viaduto do Glicério
Reportagem: Pedro Nogueira
publicado dia 30 de novembro de 2015
Reportagem: Pedro Nogueira
No sábado (28/11), no estacionamento da Igreja da Paz, no Glicério, as crianças correm de um lado para o outro chutando bolas e empunhando longas fitas de papel crepom. “Aqui é um espaço que elas têm para brincar, que muitas vezes falta nos lugares onde elas vivem. Então quando elas veem esse espação, saem correndo de um lado para o outro”, explica Nayana Brettas, criadora do “Criança Fala na Comunidade – Escuta Glicério!”, uma iniciativa do CriaCidade.
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O projeto, apoiado pela Fundação Bernard Van Leer e pela São Paulo Carinhosa, busca ouvir as crianças que vivem em cortiços no bairro da zona central de São Paulo. A escuta atenta e lúdica tem um objetivo: que as crianças tenham espaços garantidos e que elas protagonizem a transformação deles. E é justamente isso que acontece no estacionamento da igreja.
Cerca de 20 crianças são reunidas em dois grupos e, após uma ciranda, sentam para desenhar, pintar e modelar com massinha projetos de cidade. São acompanhadas por educadores e por arquitetos e urbanistas da SP Urbanismo, empresa pública de São Paulo. Os arquitetos trazem fotos de equipamentos, mobiliários e brinquedos. As crianças trazem imagens de ficcão científica, sonhos e brincadeiras e, juntos, ajudam a montar o mosaico de uma cidade para crianças.
De foguete à dinossauro, de praia à balanço, tudo é sugerido pela imaginação infantil. Para Luana Moreira Pereira, da SP Urbanismo, trazer as crianças para o planejamento amplia a perspectiva e muda a escala. “Os olhos da criança estão muito mais baixos que os nossos. Então quando você faz o exercício de ver a cidade, você ganha uma escala diferente e entende o que é o fluxo de carros, o que é um viaduto, que pode ser colossal”, afirma.
Desconexão de territórios
Nayana explica que a ideia de transformar o viaduto faz parte de uma constatação do Mapa Afetivo do Glicério, feito pelo Criança Fala com as crianças e moradores da região. “A gente percebeu que havia uma desconexão territorial: as crianças estudam de um lado e moram do outro. O caminho é muitas vezes ameaçador, não tem acessibilidade”, afirma ela, que também acredita que o viaduto é um espaço com muito potencial.
“Além de ser no caminho da escola, o viaduto tem um espaço enorme que pode virar muitas coisas, pode ter balanço, pode ser uma praia. A ideia é que ele se conecte com a praça que as crianças desenharam e está sendo executada pela Prefeitura”, afirma.
Kelvin, 10, é um dos principais envolvidos na tarefa de pensar o espaço urbano. Ele dá ideias e ajuda os mais novos a estruturem seus pensamentos. Kelvin conta que nasceu no bairro e quer ficar ali, mas também quer que seja melhor para todos. “Eu fico feliz de participar, acho que as crianças podem ajudar a cuidar do espaço e mostrar o que tem de bom aqui”, afirma, sorridente.
Na mesma toada está Samira, 8, que mostra os desenhos que fez para o Portal Aprendiz. A mãe dela, Cristina Silva, 32, afirma que desde que a filha começou a participar do projeto, tem mostrado maior desenvoltura e extroversão. “A gente vê eles tentando melhorar o espaço, conversando, brincando. E, junto com as crianças, vemos que a região pode ir melhorando também”, afirma.
Presente ao evento, Ana Estela Haddad, coordenadora da São Paulo Carinhosa – a Política Municipal para o Desenvolvimento Integral da Primeira Infância na Cidade de São Paulo -, ressaltou a importância de fazer da capital paulista uma cidade para crianças. Para além de devolver o convívio no espaço público para os mais jovens, de garantir espaços para brincar e melhorar moradias populares, a participação infantil é, acima de tudo, inclusiva.
“Quando as crianças foram pensar a praça e sua transformação, elas pensaram não só no espaço de brincar, mas também no lugar para os idosos, num espaço para os adultos e convidaram as pessoas em situação de rua que ali moram para ser monitores do espaço. Então quando trazemos a criança, recuperamos algo essencial no planejamento urbano, que muitas vezes os adultos perdem. É importante pensar a cidade como um espaço de educação, como uma cidade educadora”, finaliza.
Portal Aprendiz agora é Educação & Território.
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