publicado dia 23 de setembro de 2024
Chega de fumaça: marchas por Justiça Climática pedem ação contra crise no clima
Reportagem: Nataly Simões | Edição: Tory Helena
publicado dia 23 de setembro de 2024
Reportagem: Nataly Simões | Edição: Tory Helena
🗒️Resumo: Atos convocados por movimentos sociais ocorreram nas capitais São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Florianópolis (SC) e também foram pulverizados por outras cidades brasileiras. As Marchas por Justiça Climática acontecem após semanas de grave seca, queimadas e piora na qualidade do ar.
Após semanas de grave seca e piora na qualidade do ar em praticamente todas as regiões do Brasil por conta da fumaça das queimadas, atos pediram Justiça Climática e ações contra a crise no clima em diferentes cidades do Brasil.
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Convocados por movimentos sociais e entidades, as manifestações foram registradas nas capitais São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Florianópolis (SC) e Rio de Janeiro (RJ). De acordo com a Agência Brasil, aconteceram ao menos 15 atos pelo clima em todo o país.
O que é Justiça Climática
Proposto por movimentos socioambientais globais, o conceito de Justiça Climática busca associar a luta contra a crise climática à garantia de direitos das pessoas.
A Organização das Nações Unidas (ONU) e o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) reconhecem o termo.
Além de enfrentar a mais grave seca em 75 anos, que atinge severamente um terço do país, o Brasil vive uma epidemia de incêndios. O fogo já consumiu ao menos 11,3 milhões de hectares, atingindo diretamente 11 milhões de pessoas e com 538 municípios decretando situação de emergência.
Em setembro, a fumaça das queimadas cobriu os céus de Norte a Sul do Brasil, piorando a qualidade do ar do Rio Branco (AC) ao Rio Grande do Sul (RS).
A origem é principalmente da porção sul da região amazônica, incluindo os estados do Amazonas, Pará e Mato Grosso. Monitoramento apontou que a ação humana é responsável por 99% dos incêndios.
Em São Paulo (SP), a marcha aconteceu na Avenida Paulista. Com o mote “Esse calor não é normal” e “Chega de fumaça”, os manifestantes pediram reforma agrária e respeito ao meio ambiente, além de criticar o Marco Temporal e reivindicar punições mais duras para os responsáveis pelas queimadas.
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De acordo com Marco Dalama, assessor de meio ambiente da CUT-SP e membro da Coalizão Pelo Clima e Fórum Popular da Natureza, o ato reuniu 8 mil pessoas e foi marcado pela participação de diferentes segmentos sociais. Entre eles, movimentos sociais, ambientalistas, indígenas, movimentos periféricos e partidos políticos. “Essa diversidade é a nossa fortaleza“, definiu o sindicalista.
O ato teve também forte presença indígena. Segundo o Brasil de Fato SP, os indígenas criticaram a insegurança jurídica criada pelo Marco Temporal, bem como denunciaram o assassinato de lideranças e ativistas.
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Ao final do ato, a ativista ambiental indígena Txai Suruí, que participava da marcha, sofreu repressão da Guarda Civil Municipal (GCM), que atingiu os presentes com spray de pimenta.
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“Tem políticos que não falam da pauta climática, da pauta ambiental, da pauta dos direitos humanos. Estamos aqui para dizer que o povo está de olhos abertos, para dizer que a gente não aceita que os nossos direitos sejam negociados, que o nosso futuro seja vendido”, afirmou Txai.
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No Rio de Janeiro (RJ), a marcha por Justiça Climática reuniu centenas de ativistas na Cinelândia no dia 20/09. O ato também pressionou autoridades sobre o aumento dos eventos climáticos extremos e criticou o agronegócio.
Criticado pela insuficiência da reação diante da emergência climática causada pelas queimadas e pela seca, o governo federal anunciou, no dia 12/09, a criação da Autoridade Climática e de um Comitê Técnico-Científico para apoiar e articular as ações de enfrentamento à crise climática no país.
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O presidente Lula também assinou decreto que regulamenta a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo. A medida define as responsabilidades do Comitê Nacional de Manejo Integrado do Fogo e do Centro Integrado Multiagência de Coordenação Operacional Federal (Ciman). O comitê será formado por ministérios, pelo Ibama, ICMBio, organizações da sociedade civil, representantes de povos indígenas e comunidades tradicionais, entre outros.
Além disso, o Decreto 12.189, assinado no dia 20/09, criou novas multas e endureceu as penalidades já existentes para aqueles responsáveis por fazer queimadas. O objetivo é desincentivar e coibir incêndios criminosos.
Apesar das iniciativas, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, afirmou que as ações planejadas pelo governo federal foram “insuficientes” diante da dimensão da crise.
“O que nós estamos descobrindo agora é que (o planejado) não foi suficiente. E ter essa clareza e essa responsabilidade de não querer mascarar a realidade ou minimizar a realidade faz parte de uma postura republicana diante da sociedade”, disse Marina Silva em entrevista ao podcast Café da Manhã da Folha de S.Paulo.
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Para a gestora do programa Educação e Território, Lia Salomão, as ações do governo sinalizam para a urgência da pauta ambiental, que é sentida por uma diversidade cada vez maior de agentes, mas alerta que a emergência climática exige concretude.
“Acena para uma gestão intersetorial e transversal, porém, não garante ações efetivas. É preciso ir além dos discursos nesse momento e alicerçar as ações em políticas públicas de curtíssimo prazo. É o que pede do governo as ruas”, defende Lia, que é geógrafa e especialista em sustentabilidade.
*Com informações da Agência Brasil