publicado dia 1 de setembro de 2025
Carolina Terra: “Jovens brasileiros têm percepções comuns sobre as mudanças climáticas”
Reportagem: Da Redação
publicado dia 1 de setembro de 2025
Reportagem: Da Redação
🗒️Resumo: Carolina Terra, do Centro de Estudos e Pesquisas sobre a Infância (Ciespi/PUC-Rio), é a entrevistada do terceiro episódio da série Territórios Educativos para a Justiça Climática. Na conversa, a pesquisadora destaca as percepções e sentimentos de adolescentes e jovens sobre as mudanças climáticas, além da presença do tema nos currículos escolares.
Em 2024, o Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância (Ciespi), associado à PUC-Rio, escutou as reflexões de 200 adolescentes e jovens brasileiros sobre os efeitos das mudanças climáticas no seu cotidiano.
A importância da escuta e participação ativa de crianças e adolescentes nas ações climáticas é o tema do terceiro episódio da série multimídia Territórios Educativos para a Justiça Climática, cuja entrevistada é a pesquisadora do Ciespi/PUC-Rio Carolina Terra.
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Disponível no YouTube, as entrevistas Territórios Educativos para a Justiça Climática iluminam temas fundamentais na convergência entre as agendas dos Territórios Educativos e da Justiça Climática. A iniciativa é uma produção do programa Educação e Território da Cidade Escola Aprendiz.
Outros resultados sobre a pesquisa estão disponíveis no Especial Adolescentes, Jovens e Mudanças Climáticas no Brasil.
Carolina Terra é doutoranda, mestre e graduada em serviço social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, a PUC Rio. Ela é pós-graduada em Direito Internacional e Direitos Humanos pela PUC-MG. e atua nas áreas de pesquisa, advocacy e comunicação institucional no Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância (Ciespi/PUC-Rio).
Confira, a seguir, os principais trechos da entrevista e assista na íntegra no YouTube:
De acordo com Carolina Terra, as percepções e opiniões de crianças, adolescentes e jovens sobre as mudanças climáticas dificilmente são captadas por pesquisas, revelando um viés adultocêntrico sobre o tema.
“A pesquisa mostra que esses adolescentes e jovens têm percepções comuns sobre os efeitos e como eles sentem essas mudanças climáticas”, analisa Carolina, destacando as diferentes visões por território, que devem ser consideradas na formulação de políticas públicas.
“A pesquisa mostra que adolescentes e jovens têm percepções comuns sobre os efeitos e como eles sentem essas mudanças climáticas”, afirma Carolina Terra
“Por um lado, o calor extremo se destacou muito como o impacto mais citado em todas as regiões. Por outro lado, no Norte, com Manaus (AM) e Belém (PA), calor [foi citado], mas também as chuvas, a questão da fumaça e dos incêndios, que foi muito importante no ano passado [2024]”, destaca a pesquisadora.
“No Sul, Porto Alegre (RS) e Curitiba (PR), houve menção às chuvas e aos alagamentos. Sabemos que no Rio Grande do Sul tivemos a questão das enchentes de maneira exacerbada. Chamou nossa atenção também que, no Centro-Oeste e no Sul, alguns citaram que não percebem impacto nenhum das mudanças climáticas”, conta.
Os impactos das fortes chuvas, do calor, de enchentes e das secas também foram mencionados por entrevistados de cidades como Salvador (BA) e Fortaleza (CE), bem como apareceram nas respostas de adolescentes e jovens que vivem na região Sudeste.
A pesquisa também sondou o que adolescentes e jovens aprendem sobre as mudanças climáticas nas escolas. Segundo o levantamento, 71% dos jovens responderam que aprenderam sobre mudanças climáticas nas aulas. No entanto, um número significativo sinalizou que não está aprendendo nada atualmente:11%. Outros 15,5% declararam que nunca aprenderam sobre a temática na escola.
Para Carolina, a escola segue como a principal fonte de informação dos jovens sobre as mudanças climáticas. A maneira como essa aprendizagem ocorre, porém, é insuficiente diante da emergência no clima.
“Muitas das vezes, esse tema é tratado de forma superficial ou desconectada do território. Ou seja, como algo que acontece nas geleiras ou que vai acontecer daqui a muito tempo e não algo que está nos impactando atualmente”, explica.
“Muitas das vezes, esse tema [crise climática] é tratado de forma superficial ou desconectada do território”, diz Carolina Terra.
Além disso, a pesquisadora destaca que a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevê que esse assunto deve ser tratado de maneira transversal.
“Mas, ao mesmo tempo, sabe-se que quando isso é previsto de maneira transversal ninguém é muito responsável pelo assunto. Então, se isso não é feito de uma maneira coordenada entre os professores, muitas das vezes esse assunto pode acabar não sendo tratado da maneira como ele deve ser”, comenta.
Carolina cita também a aprovação da Lei 14.926, que alterou uma legislação anterior, de 1999, para assegurar uma atenção às mudanças do clima, proteção da biodiversidade e aos riscos e vulnerabilidades a desastres socioambientais. Com a mudança, espera-se alavancar novas discussões e informações para professores e um aprimoramento da discussão sobre as mudanças climáticas nos conteúdos escolares.
“Também é importante dizer que há uma pressão por conteúdos avaliativos nas escolas. Aqueles conteúdos mais duros, da Matemática, por exemplo. Isso pode acabar impedindo que o debate [climático] entre de maneira mais contundente. Mas, como a BNCC prevê, esse assunto pode ser visto em todas as disciplinas”, defende Carolina, explicando que o esforço, para ser bem sucedido, precisa ser melhor coordenado dentro das escolas, além da necessidade de reforçar a formação dos professores.
A pesquisa do Ciespi também sondou o que sentem os adolescentes e jovens quando o assunto é mudanças climáticas. O medo foi a manifestação emocional que mais prevalece entre os jovens.
“O medo, de fato, foi o mais citado. E é esse medo tanto ligado ao futuro, ou seja, o que pode acontecer quando eu for mais velho, mas também já se vê um medo ligado ao presente. Ou seja, ligado aos impactos como as queimadas e as enchentes que falamos anteriormente”, analisa Carolina.
“A raiva ficou muito ligada à falta de ação dos governantes.
Ao mesmo tempo, [apareceu] um sentimento de impotência”, diz Carolina Terra.
“Também surgiram outros sentimentos: insegurança, ansiedade, preocupação, tristeza e até raiva, que inicialmente não era um sentimento que estava no nosso radar. A raiva ficou muito ligada à falta de ação dos governantes. E, ao mesmo tempo, [apareceu] um sentimento de impotência”, diz.
O levantamento também revelou que 17% dos entrevistados responderam que não sentem nada em relação às mudanças no clima. No entanto, a pesquisadora alerta que é preciso qualificar esse dado.
“Nesse número, por um lado, vimos um distanciamento, no sentido de, ‘isso vai demorar muito para acontecer’, ‘isso vai demorar muito para me impactar’, então, eu não me preocupo. Por outro lado, há esse sentimento de impotência”, comenta.
Diante dos resultados, Carolina Terra defende a necessidade da sociedade criar espaços de escuta e de engajamento coletivo para as juventudes.
“Outras pesquisas também mostram que quanto mais se participa, mais se trabalha esses sentimentos. O que afasta essa paralisia”, afirma.
Assista à entrevista na íntegra:
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