publicado dia 13 de fevereiro de 2014
“Evolução Hip Hop” reforça ligação entre rádio, rap e educação
Reportagem: Pedro Nogueira
publicado dia 13 de fevereiro de 2014
Reportagem: Pedro Nogueira
A Unesco comemora, em 13/2, o Dia Mundial do Rádio. Para celebrar esta importante e antiga ferramenta de comunicação, o Portal Aprendiz e o Centro de Referências em Educação Integral prepararam conteúdos inéditos. Confira.
Um dia, em algum lugar dos anos noventa, Hamilton de Oliveira estava almoçando e ouviu uma música nova. De cadência simples e letra contundente, a canção narrava o dia a dia de um presidiário dentro de um cárcere paulistano e culminava no massacre de 111 presos. A voz pesada foi ouvida por muita gente e tornou “Diário de um Detento”, dos Racionais MCs, um dos momentos mais marcantes do cancioneiro brasileiro contemporâneo. De Salvador, Hamilton descobriu o que era o Rap, o que era a vida nas periferias e o poder do MC de dar conta de tudo isso. E nunca mais esqueceu.
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Hoje com 32 anos, ele atende por DJ Branco e comanda o programa Evolução Hip Hop, desde 2007 na Rádio Educadora FM, uma emissora pública sediada na Bahia. Antes ele já havia passado com seu programa por rádios comunitárias que foram fechadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
“No começo muita gente achava que o rap não caberia numa rádio educativa. Em três meses estávamos em primeiro lugar na audiência, em horário nobre. Trabalhamos para quebrar o preconceito que existe com a cultura Hip hop, para dialogar com a Bahia, com Salvador. Rap não é tribo, não é restrito. Queremos contribuir com campanhas de movimentos sociais, discutir pautas”, afirma o DJ.
Para além de destacar a produção nordestina de rap, Branco também tenta consolidar um caráter comunitário em seu trabalho. Arteducador, oficineiro de educação e rádio, ele abre espaço em seu programa, entre uma música e outra, para discussão de implementação de políticas públicas, como o Juventude Viva, programa do governo federal para combater a violência contra jovens negros.
“Funcionamos como um programa que faz, informalmente, monitoramento de políticas públicas, de direitos humanos, cidadania, direito à cidade, o que é consumo, violência e Estado”, diz. E tudo isso com uma audiência de mais de 13 mil pessoas por minuto. Nas escolas públicas baianas, ele realiza uma oficina que tem como resultado um programa de rádio de dez minutos “sobre a realidade deles, local, nada de reproduzir o que a mídia convencional já fala”.
[stextbox id=”custom” caption=”DJ Branco dá 5 dicas para conhecer a cena do rap nordestino” float=”true” width=”350″]
Rapadura (CE) – Mistura de rap, repente e maracatu
Zé Brown (PE) – Rap com repente
Opanijé (BA) – Hip hop com identidade africana
Fúria Consciente (BA) – O rap encontra o panafricanismo
Afrojhow (BA) – Artista baiano mistura Hip hop e afrobeat.[/stextbox]
Rádio na praça
E, para além dos estúdios e das escolas, o programa também vai para as praças, ruas e comunidades, com o “Evolução Hip Hop nos Bairros”, quando o programa é transmitido direto de um espaço público em Salvador ou em uma cidade vizinha. Acontecem bate-papos, debates e um palco é montado com artistas locais. O lugar do rap, lembra DJ Branco, é na rua.
“Só no estúdio não rola. O Hip hop tem uma papel 100% educativo e é isso que a gente tem que usar. São poucos espaços na rádio assim, produzidos por pessoas com compromisso social. A comunicação muitas vezes viola os direitos humanos. As pessoas precisam aprender a dialogar e respeitar a diversidade”, analisa.
Branco lembra que os artistas de rap do nordeste, que embalam quase exclusivamente as ondas sonoras do programa, também participam do resgate da cultura local, dialogando com o movimento negro, religiões afro e samba. “Essa linha de valorização da identidadade local é essencial. As letras falam de problemas mais fundamentais, mas não só disso. Para além do problema, temos também a solução”, conclui o DJ.
Quem quiser ouvir o programa, pode acessá-lo online clicando aqui.
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