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Escolas Climáticas: projeto transforma estudantes em protagonistas da sustentabilidade

Publicado dia 13 de outubro de 2025

🗒️Resumo: Desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), projeto Escolas Climáticas visa ampliar conhecimento sobre crise climática por meio de metodologias participativas.

Ainda que os alertas não sejam recentes, os últimos anos mostraram que os efeitos das mudanças climáticas deixaram de ser previsões distantes e se tornaram realidade.

Para se ter uma ideia, o ano de 2024 foi o mais quente já registrado desde que se iniciaram as medições globais. O ano anterior, 2023, ficou marcado pela pior seca da história da Amazônia e pelo aumento dos incêndios florestais.

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Já em 2024, o Rio Grande do Sul enfrentou enchentes recordes, enquanto o Pantanal teve uma área equivalente a quase quatro vezes a cidade de São Paulo consumida pelo fogo.

Escolas Climáticas: comunidade escolar e soluções coletivas 

Diante da urgência de discutir e conscientizar sobre a crise climática ainda na Educação Básica, nasceu o projeto Escolas Climáticas, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ).

Projeto Escolas Climáticas coloca estudantes no centro
e busca ir além de
ações pontuais 

A iniciativa busca ampliar o conhecimento sobre as causas e consequências das mudanças climáticas por meio de metodologias participativas que envolvam toda a comunidade escolar na busca por soluções coletivas. 

“Quando os eventos climáticos extremos começaram a ganhar mais atenção, pensei: precisamos de uma metodologia que faça os estudantes se tornarem autores, implementadores e gestores das medidas de sustentabilidade”, conta a coordenadora do projeto, Andrea Pupo Bartazini.

Ela explica que a proposta surgiu de sua experiência como professora da rede pública e da percepção de que muitas iniciativas ambientais nas escolas não deixavam um legado duradouro.

“Ao longo de minha carreira em Educação Ambiental, presenciei ações e experiências muito interessantes, mas que eram pontuais e não chegavam a impactar, de fato, a escola ou o território como um todo. Foi então que surgiu a ideia de criar o projeto”, relata.

Como é a metodologia do Escolas Climáticas

Escolas Climáticas: projeto engaja comunidades escolares
Escolas Climáticas: projeto acontece em escolas de Paulínia, Nazaré Paulista, Osasco e Santana do Parnaíba, todas no interior do estado de São Paulo.

O Escolas Climáticas é inspirado no programa Escolas Sustentáveis do Ministério da Educação (MEC). Atualmente, acontece em cinco escolas de Nazaré Paulista (SP) e em uma escola em Paulínia (SP), com parceria do Instituto Alair Martins e patrocínio do programa Petrobras Socioambiental. Outras três escolas em Osasco (SP), Santana de Parnaíba (SP) e Paulínia recebem a iniciativa em colaboração com a AWS Amazon.

A metodologia do projeto abrange uma série de eixos. Entre eles estão: coleta seletiva, compostagem, horta agroecológica, consumo consciente e alimentação escolar. Há também o estudo da paisagem — que considera aspectos como água, esgoto e atividades econômicas do território — e da biodiversidade, voltado a reconhecer a fauna e a flora locais.

“Outro ponto central é o resgate dos saberes das comunidades do entorno e sua relação com a biodiversidade, assim como a valorização da cultura e da Educomunicação”, conta Andrea

No que diz respeito ao eixo do clima, a atuação envolve desde a instalação de termômetros para verificar se a escola está dentro da média de temperatura do município ou em uma ilha de calor até entrevistas com a comunidade sobre sua percepção das mudanças climáticas, identificação de eventos extremos e análises sobre o risco climático da região.

“Além disso, buscamos compreender a situação do bairro a longo prazo: será preciso adaptar-se ou transformar práticas do território diante da crise climática? Nesse sentido, já procuramos agir localmente para criar essa resiliência”, explica Andrea.

Educação Ambiental e Climática

A expectativa é que a recente atualização da legislação brasileira impulsione ainda mais o tema. Em 2024, a Lei nº 14.926 incluiu conteúdos sobre mudanças climáticas e riscos ambientais na Educação Básica, o que deve fortalecer projetos como o do IPÊ.

Nas escolas, o trabalho começa com a sensibilização dos gestores e professores por meio da oficina “Mural do Clima”, criada na França em 2018 e replicada em mais de 50 países.

A dinâmica utiliza 42 cartas com dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), transformando informações científicas em um jogo que estimula a compreensão dos impactos e das possíveis soluções para a crise.

Trabalho nas escolas envolve sensibilização para a temática e constituição de coletivos socioambientais

Depois, cada escola participante constitui um coletivo socioambiental. Nele, estudantes, familiares, educadores e funcionários propõem e implementam ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas, com apoio técnico e financeiro do IPÊ. As iniciativas incluem hortas agroflorestais, cisternas para captar água da chuva, composteiras e a gestão eficiente de resíduos.

“Nem sempre é necessário criar um novo coletivo, especialmente quando a escola já conta com um grêmio estudantil atuante. O objetivo não é duplicar instâncias, mas garantir espaços de participação. Nesse sentido, o coletivo socioambiental foi pensado para que os estudantes sejam autores das ideias, implementadores das ações e gestores das medidas de sustentabilidade da escola”, diz Andrea.

Esta gestão democrática é considerada o pilar que sustenta as Escolas Climáticas. Isso porque a experiência ambiental, ressalta Andrea, não pode ser apenas teórica: precisa ser vivida.

“Se os estudantes não se sentem autores da iniciativa, o projeto permanece externo e a proposta é que seja, de fato, deles. Por isso, as oficinas realizadas com os coletivos incluem a escolha de nomes, a criação de identidades visuais próprias, entre outros pontos. Esse sentimento de pertencimento é fundamental para a formação cidadã”, diz.

Educação Socioambiental na prática

Na Escola Estadual Henrique Miguel Hacl, uma das instituições envolvidas em Nazaré Paulista (SP), os estudantes batizaram o coletivo socioambiental de ‘Os Capivaras’, em referência aos animais que habitam a região. Localizada na zona rural, a escola já implementou, desde que iniciou o projeto há cerca de dois anos, práticas como a separação do lixo, o plantio de árvores nativas e a construção de um espaço de leitura ao ar livre.

Também construíram uma horta para o cultivo de ervas, que os próprios estudantes cuidam no dia a dia. “Essa prática contribui diretamente para a realidade em que estão inseridos, já que trazem para a escola saberes e experiências que vivenciam em casa, na paisagem rural, aprendendo a realizá-las de forma mais correta e coerente”, conta o diretor Rodrigo Farias Moraes.

Projeto Escolas Climáticas
Escolas Climáticas: estudantes são fio condutor das atividades desenvolvidas.

No início, eram realizadas reuniões semanais entre o coletivo e a equipe do projeto para fornecer apoio e alinhar as atividades. Hoje, no entanto, não há mais esse acompanhamento externo: a iniciativa caminha com as próprias pernas.

“São os próprios alunos que conduzem as atividades. O impacto que vejo é grande, pois eles passam a compreender melhor a relação entre o meio ambiente e suas vidas cotidianas”, acrescenta o diretor.

Projeto impacta e muda rotina de escolas 

“O impacto
é grande, pois os estudantes passam a compreender melhor a relação entre o meio ambiente e suas vidas”, diz Rodrigo Moraes 

O projeto também mudou a rotina da Escola Estadual Fabio Hacl Pinola, em Nazaré Paulista (SP). O diretor Jorge Silva conta que a iniciativa começou há quatro anos, quando a horta da escola foi transformada em um sistema agroflorestal com Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANCs). 

O coletivo, batizado de “Vida Verde”, reúne alunos, pais e professores. “Fizemos um trabalho pensando no lixo e em como reduzir a produção de resíduos. Aqui no município não há coleta seletiva de lixo, por isso, a escola criou um ponto de separação e parcerias com catadores locais de material reciclável”, conta. 

Segundo o diretor, o trabalho com o tema das mudanças climáticas acontece de forma integrada ao currículo.

“Estamos, por exemplo, estruturando uma COP na escola para discutir os desafios climáticos e a COP30 [Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima] que irá acontecer em novembro no Brasil”, conta o diretor. Ele acrescenta que, além de ações ambientais e dos projetos especiais, o projeto se conecta ao currículo, discutindo temas como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

Para Andrea, o projeto ganha ainda mais força quando se conecta ao território, aproximando, por exemplo, os alunos de catadores de recicláveis, agricultores locais e da própria comunidade. “Queremos isso: que as escolas sejam polos irradiadores de boas práticas ambientais”, finaliza.

*Reportagem: Thais Paiva 

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