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publicado dia 30 de janeiro de 2014

Quadrinhos convidam crianças para aprendizado sobre direitos

De Yuri Kiddo, do Promenino

Na década de 1940 até os meados dos anos 60, as histórias em quadrinhos (HQ) sofriam muito preconceito no Brasil, tidas como uma leitura de baixa qualidade. Com o tempo, as HQs foram conquistando espaço e respeito, inclusive em outras mídias e áreas, sendo reproduzidas em cinemas e em conteúdos educativos. Hoje, no Dia Nacional das Histórias em Quadrinhos, uma comemoração: atualmente, elas são a leitura preferida de 45% dos estudantes do Ensino Fundamental e Médio da rede estadual de São Paulo, composta por mais de quatro milhões de crianças e adolescentes.

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A partir desse interesse, os quadrinhos podem ser usados para trabalhar diversos temas em sala de aula, além de ajudar a disseminar direitos e debater temas delicados como abuso sexual. “Teve bastante avanço nos últimos anos, agora as pessoas enxergam mais a HQ como ferramenta para ser trabalhada nas escolas. Mas apesar de surtir resultados, ainda é pouco usada no meio acadêmico”, afirma o quadrinista Alexandre de Maio, que faz jornalismo em quadrinhos e atualmente está fazendo uma reportagem sobre a exploração sexual de crianças e adolescentes na Copa do Mundo no Brasil. Além disso, o artista já ministrou oficinas de HQ em bairros da periferia de São Paulo. “Antes as histórias em quadrinhos tinham uma imagem de serem infantil e somente para crianças, hoje percebo mudança, com abordagens mais profundas. Quadrinho é uma técnica a mais, como jornalismo ou fotografia, uma das vantagens é que ele é muito bom para contar histórias”.

Este foi o gênero encontrado pelo desenhista Maurício de Sousa para contar histórias com os personagens da Turma da Mônica. O autor aproveita a linguagem e a estética para promover o conhecimento em direitos e deveres para crianças e adolescentes. “Trabalhar com a Turma da Mônica e com os direitos universais da criança é um desafio diário, pois são coisas que estão no imaginário coletivo. A grande alegria de fazer esse trabalho é o respeito e o cuidado que o Maurício e toda equipe têm com o principal motivo de tudo: a criança”, conta o quadrinista e atual roteirista na Maurício de Sousa Produções, Lancast Mota.

Em outubro, o autor da Turma da Mônica recebeu a medalha comemorativa dos 70 anos da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em homenagem à revista em quadrinhos “Trabalho Infantil – Nem de Brincadeira”. No gibi, a Mônica, o Cebolinha, a Magali o Cascão e o resto da turma passam por situações de trabalho e explicam o que é trabalho infantil. “Ver mais de três milhões de crianças em atividade econômica é alarmante. Qualquer pessoa com bom senso deveria estar envolvida na causa, seja pintando, escrevendo, fazendo poesia, desenhando”, atenta Maurício de Sousa.

145 anos atrás

Não é de hoje que a narrativa em tirinhas exerce uma função social. Temas como a Independência, Tiradentes, escravidão e outros momentos da história do Brasil já eram retratados com críticas em quadrinhos no final do século XIX. A própria data de hoje homenageia o pioneiro dos quadrinhos em território nacional, Ângelo Agostini. O artista publicou em 30 de janeiro de 1869 “Nhô-Quim, ou Impressões de uma Viagem à Corte”, considerada a primeira história em quadrinhos brasileira e uma das mais antigas do mundo.

“Agostini fez muita coisa sobre o papel dos escravos, denunciando questões de falta de dignidade e direitos”, explica o desenhista e pesquisador do tema, Gilberto Maringoni. “Seu personagem, Nhô Quim, era um caipira na cidade grande e surtiu certo efeito na época. Antigamente havia muito mais analfabetos, então o Agostini teve esse papel pedagógico, o quadrinho acaba sendo mais convidativo e atraente.”

Alexandre de Maio também concorda em relação à linguagem das HQs. “Os editores e jornalistas estão vendo que é possível abordar diversos temas densos e de muito conteúdo com quadrinho. Isso atrai outro público para o seu veículo, talvez pessoas que não leriam vão se interessar por estar em outro formato.”

Maringoni tem dois livros publicados de quadrinhos e estuda o tema desde os anos 1980. Para ele, as HQs precisam ter uma linguagem e uma qualidade que torne o conteúdo diferenciado e interessante para ser aplicado em sala de aula. Além de recomendar a Turma da Mônica, o pesquisador cita a adaptação do último romance de Lima Barreto, “Clara dos Anjos”, ilustrada por Marcelo Lelis, entre outros autores. “É a mesma coisa que produzir um filme a partir do livro, pode ficar horrível. O conteúdo precisa ter qualidade”.

Outro clássico brasileiro transformado em quadrinhos é o “Casa-grande & Senzala”, do Gilberto Freyre, livro que conta a história de construção da sociedade brasileira. Nas palavras do autor, quando do lançamento da HQ, a obra é “um regalo para os olhos e para a inteligência da criança brasileira. Da criança brasileira, do adolescente e do adulto”. A iniciativa teve como objetivo popularizar a obra e a edição original, de 1981, foi feita em preto e branco visando baratear o produto tornando-o mais acessível.

Ambos entrevistados afirmam que as histórias em quadrinhos estão perdendo mercado. Antigamente, eram grandes tiragens e encontradas a preços acessíveis em bancas de jornal. Hoje o público está restrito e a profissão desvalorizada. “Quanto mais abertura e incentivo tivermos, mais obras serão produzidas com qualidade”, afirma de Maio. “Temos algumas gerações que estão à frente de políticas públicas e processos educacionais que já enxergam os quadrinhos com outro olhar.”



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