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publicado dia 28 de agosto de 2013

Projeto fortalece papel educador da família na primeira infância

Sônia Costa cuida dos netos de 3 e 4 anos em uma casa na zona oeste do Rio de Janeiro, enquanto a mãe trabalha em um supermercado longe de casa. “Eu criei três filhos que já são tudo grandão. Mas a vó estraga, né? Faz muito a vontade. A Bel [orientadora familiar] me ajuda bastante a saber o que fazer, como interagir, como educar. A família tem ficado mais junto”, afirma a senhora sobre o trabalho de Isabel Cristina Dumas, uma das profissionais do projeto Orientador Familiar, realizado pelo Centro Integrado de Estudos e Programas de Desenvolvimento Sustentável (CIEDS) com a Fundação Itaú Social, em parceria com a prefeitura do Rio de Janeiro (RJ).

A avó recebe quinzenalmente em casa a visita da orientadora, que indica atividades que ajudam a promover o desenvolvimento da criança, reforçando o papel educador da família e a importância do cuidado e da atenção desde a primeira idade. “Deram um tapete com cores e sensações que ajuda no envolvimento com as crianças. A brincadeira ajuda a desenvolver meus netos”, explica a avó sobre uma das atividades proposta por Isabel Cristina.

No Brasil, a educação até os 4 anos de idade não é obrigatória, mas o Estado tem o dever de ofertar vagas de acordo com a demanda. Uma estimativa do Banco Mundial aponta que em 2011 havia uma demanda por 1,8 milhão de vagas em creches em todo o território nacional. Atender esse elevado número de crianças nesta etapa do ensino demanda um alto investimento em infraestrutura adequada, alimentação e contratação de educadores. Segundo o ministro da educação, Aloizio Mercadante, o governo deve construir 8.685 creches e pré-escolas até 2014.

“O foco é no desenvolvimento da família para que ela possa estimular o filho para seus aspectos cognitivos e não cognitivos. Contar uma história, rotina de alimentação, noções de higiene, cantar uma música. Queremos criar competências na criança e que a família seja uma promotora disso”, explica Maria Carolina Nogueira, da Fundação Itaú.

De dentro para dentro

As 10 orientadoras do programa, que atendem atualmente 200 famílias em áreas de vulnerabilidade da zona oeste carioca, são oriundas da mesma região em que atuam e receberam uma formação especializada e contínua para lidar com as mães e familiares. “Muitas são mães ativas, que têm filhos nas mesmas creches em que trabalham”, afirma Rosângela Alves, do CIEDS.

Realizado em conjunto com as secretarias municipais de educação, saúde, assistência social e defesa civil do Rio de Janeiro, o programa pretende atuar como uma porta de entrada das famílias em creches, ao promover direitos de educação e da infância e ampliar a parceria entre instituições de ensino e creches.

A iniciativa também trabalha em conjunto com o programa Primeira Infância Completa (PIC), da Secretaria de Educação do Rio de Janeiro, responsável por atender as crianças de 6 meses a 4 anos que estejam fora de creches. O atendimento, que acontece aos sábados, das 8h às 16h, é utilizado pelos educadores para realizar uma escola de pais, onde o orientador familiar avança na formação sobre temas da infância, saúde e fornece trabalhos didáticos que podem ser realizados em casa.

Desafios

No princípio, revela a orientadora Juliane Moura, o desafio era conseguir a confiança das famílias que recebiam as orientadoras em suas casas. Ao longo do tempo, as dificuldades foram minadas “com trabalho e carinho”, alcançando inclusive outras famílias. “Eles gostam. Antes quem entrava nas casas era o pessoal da saúde. Agora eles sabem sobre o que acontece dentro das salas da creche, você leva informação, tira dúvidas”, acrescenta Isabel Cristina.

Maria Carolina Nogueira, da Fundação Itaú Social, acredita que, em um contexto de falta de políticas que invistam na família como promotora de desenvolvimento, o programa realça a importância de investimentos nessa área. Segundo ela, “o investimento em educação infantil tem um dos melhores custo-benefícios em termos de políticas educativas. É muito mais efetivo investir em políticas de primeira infância, no desenvolvimento motor e cognitivo, do que reverter uma situação de vulnerabilidade de um jovem”, analisa.

Por outro lado, o programa enfrenta o desafio diário de demonstrar para as famílias que a educação não cabe só ao professor. “Nada mais importante que uma mãe interessada em estar no local onde seu filho aprende”, confirma Rosângela.

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