publicado dia 23 de abril de 2013
Em 2012, uma praça abandonada em São Miguel Paulista, zona leste de São Paulo, foi transformada em um espaço de brincadeiras e convivência. Após a limpeza e reforma do local, providenciados pela subprefeitura, algumas experiências lúdicas desenvolvidas pela comunidade e por educadoras finalmente ganharam espaço de expressão.
“Foi bem gostoso ver pais e vizinhos reunidos em brincadeiras com seus filhos, usando materiais simples, como caixas de papelão e barbantes”, destaca Ricardo Souza, que participou com o filho e a esposa do workshop “Brincar no Território”. Organizado pela rede Marista de Solidariedade, em parceria com o Centro de Estudos e Pesquisas para a Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), a iniciativa visa chamar a atenção para a importância do brincar.
[stextbox id=”custom” caption=”Marco Legal” float=”true” align=”right” width=”275″]O artigo 7 da Declaração Universal dos Direitos da Criança (aprovada na Assembléia Geral das Nações Unidas em 1959) recomenda que “toda criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se, visando os propósitos mesmos da sua educação, cabendo à sociedade e às autoridades públicas garantir a ela o exercício pleno desse direito”. [/stextbox]
Uma das atividades realizadas envolveu agentes comunitários e famílias do bairro na construção de brinquedos para crianças e adultos. “Trouxemos brincadeiras da creche para dentro de casa. O envolvimento do nosso filho com as atividades escolares aumentou”, observa Souza.
Depois de vivenciar uma nova dinâmica na praça, os moradores decidiram, no final de 2012, organizar um abaixo-assinado solicitando à subprefeitura brinquedos para as crianças, além da zeladoria do espaço. “Com o início da nova gestão municipal em 2013, pretendemos retomar a discussão com o poder público”, salienta Célia Hara, diretora da unidade local do Marista.
Em 2010, apenas 0,85% dos equipamentos culturais públicos do município localizavam-se na subprefeitura de São Miguel Paulista, segundo dados do Observatório Cidadão, da Rede Nossa São Paulo. No Butantã, bairro da zona oeste, esse número sobe para 11,86%, revelando as desigualdades da cidade.
Campanha
Para dar continuidade ao projeto, a rede Marista lançou em março uma campanha de mobilização da sociedade civil e do poder público sobre a importância da garantia efetiva do direito ao brincar. Com apoio do UNICEF e da Pastoral da Criança, além de organizações como o Instituto Alana e Brasil Leitor, o projeto pretende difundir iniciativas que promovam o direito e o acesso ao brincar como uma atividade prioritária na rotina da criança. “Queremos chamar a atenção das famílias para a valorização do brincar na relação entre pais e filhos”, explica Vanderlúcia Silva, coordenadora de projetos do Marista.
Com um site na web, a campanha reuniu num e-book, 10 iniciativas voltadas à promoção do direito ao brincar, como a manutenção de um espaço adequado e seguro, a inclusão de crianças com deficiência, além da transmissão de tradições e culturas intergeracionais. Também foram criados vídeos para a divulgação desses princípios.
[stextbox id=”custom” caption=”O brincar e o ECA” float=”true” width=”250″]O direito à brincadeira e ao lazer está previsto no artigo 227 da Constituição. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) expressa como parte do direito à liberdade brincar, praticar esportes e divertir-se. Há, no entanto, um longo caminho a ser percorrido pela sociedade na efetivação desse direito.[/stextbox]
Para Vanderlúcia, um dos principais resultados da iniciativa tem sido a sensibilização dos pais para a importância de se garantir este direito. “As famílias se tornaram mais atentas para o fato de que, enquanto brinca, a criança se expressa, interage, amplia seu potencial, faz descobertas, inventa e aprende, alcançando um desenvolvimento integral”, observa a coordenadora.
Ela ressalta também que, para propiciar esse direito, é fundamental a contribuição dos adultos. “Muitas vezes acontece da criança já ter tantos compromissos em sua agenda, como a escola e cursos extra classe, que sobra pouco tempo para brincar. É importante que os adultos garantam um espaço adequado, participando do brincar com a criança, convidando para esses momentos, criando brinquedos e brincadeiras, brincando junto.”