Perfil no Facebook Perfil no Instagram Perfil no Youtube

publicado dia 10 de novembro de 2025

COP30: escolas se mobilizam para discutir Educação Ambiental e Climática

Reportagem: | Edição: Tory Helena

🗒️Resumo: Como as escolas se mobilizam para discutir Educação Ambiental e Climática diante da COP30? Conheça iniciativas de Belém (PA) e Irecê (BA) que promoveram ações pedagógicas ligadas ao tema.

A escola segue como um espaço essencial para a disseminação de informações e a formação de cidadãos críticos diante da Crise Climática. Às vésperas da COP30 em Belém (PA), o debate sobre o papel da Educação na pauta climática ganha força.

Leia Mais

Na capital paraense, escolas da rede estadual terão as aulas suspensas durante o evento, o que abre espaço para reflexões sobre como aproximar os estudantes das discussões que estarão em pauta na conferência.

Em outras regiões do país, professores e gestores vêm aproveitando o momento para promover ações pedagógicas ligadas ao tema e estimular o engajamento da comunidade escolar.

Sustentabilidade e iniciação científica no Ensino Médio  

Projeto do Artur Pereira Silveira, que leciona Química na Escola de Tempo Integral Ruth dos Santos Almeida, prepara seus alunos para participar de uma mostra e de fóruns da COP30
Em Belém (PA), a Escola de Tempo Integral Ruth dos Santos Almeida aborda o tema da sustentabilidade de forma interdisciplinar.

Em Belém, o professor Artur Pereira Silveira, que leciona Química na Escola de Tempo Integral Ruth dos Santos Almeida, prepara seus alunos para participar de uma mostra e de fóruns da COP no dia 18 de novembro.

“Essa vitrine é importante para inspirar outras instituições a adotarem práticas sustentáveis. Queremos que outras escolas se tornem referências também”, afirma o professor, cuja escola possui o selo Greenschool da Unesco e trabalha o tema de forma interdisciplinar.

Da merenda às aulas de Química, sustentabilidade é parte da Escola de Tempo Integral Ruth dos Santos Almeida, em Belém (PA)

“Cerca de 90% dos nossos projetos partem da perspectiva da sustentabilidade. Trabalhamos com o Ensino Médio e, em cada iniciativa, envolvemos professores de diferentes áreas. Primeiro fundamentamos o conteúdo em sala de aula e, depois, vamos para o campo ter aula na ‘sala viva’, alinhando teoria e prática”, explica.

O projeto conduzido por Artur, “Química verde como prática sustentável de tempo integral”, desenvolve diversas ações: confecção de composteiras com bombonas recicladas, produção e teste de biofertilizantes e criação de biodefensivos naturais à base de tabaco e alho. “A gente provoca a iniciação científica nos alunos. Eles produzem, experimentam e analisam os resultados”, conta o professor.

O grupo também realiza a extração de urucum dentro da escola — o material é usado na merenda e as sementes são replantadas e distribuídas. “A sustentabilidade está em cada detalhe da rotina escolar”, resume Artur.

Educação Climática: trabalho perene e interdisciplinar

Para Paula Mendonça, especialista em Educação, Natureza e Culturas do Instituto Alana, a Educação Climática deve ser uma aliada estratégica no enfrentamento da crise ambiental.

O Instituto Alana apoiou recentemente a realização de mini-COPs, que são encontros preparatórios de escuta com crianças e adolescentes para a Conferência Infantojuvenil pelo Meio Ambiente, em parceria com o Ministério da Educação (MEC). A iniciativa busca garantir que as vozes das novas gerações sejam ouvidas durante a COP30.

“O que mais engaja os alunos é compreender como o seu território está sendo impactado e quais soluções são possíveis”, diz
Paula Mendonça
do Instituto Alana 

Mas Paula reforça que o trabalho com o tema precisa ser constante. “Como apontam as diretrizes nacionais, é importante que o tema das mudanças climáticas seja trabalhado de forma perene e interdisciplinar. O que mais engaja os alunos é compreender como o seu território está sendo impactado e quais soluções são possíveis”, afirma.

Segundo ela, a aprendizagem baseada em problemas reais da comunidade é uma das abordagens mais eficazes. “Dessa forma, trazemos protagonismo para o estudante e também enfrentamos a ansiedade climática, que surge quando ele se sente impotente diante do problema global.”

Apesar dos avanços, ela diz que ainda há desafios. Um relatório da Unesco apresentado na COP28 mostrou que 90% dos professores consideram importante abordar o tema, mas não se sentem preparados para isso.

“O grande gargalo é a formação docente. É preciso incluir a Educação Climática dentro da Educação Ambiental, com um recorte mais profundo, e garantir recursos para que as escolas possam se adaptar às mudanças climáticas — tanto do ponto de vista curricular quanto estrutural. O espaço escolar também é um educador”, defende Paula.

Da COP30 à caatinga

COP30 escolas se mobilizam para discutir Educação Ambiental e Climática
Escola Parque Municipal Ineny Nunes Dourado, em Irecê (BA), utilizou o material Estação Central da COP30 (do Observatório do Clima) para discutir mudanças climáticas com os estudantes.

Na Bahia, a professora Fernanda Meirele Neiva de Souza, da Escola Parque Municipal Ineny Nunes Dourado, em Irecê (BA), também vem mobilizando sua comunidade escolar. Ela utilizou o material Estação Central da COP30, uma iniciativa do Observatório do Clima, para discutir mudanças climáticas com os alunos.

“Adaptei o material para a linguagem das crianças dos 4º, 5º e 6º anos e começamos a discutir as mudanças climáticas em nível global, trazendo o debate para o nosso território. Nesse olhar, trabalhamos o bioma caatinga e seu papel na questão climática”, explica Fernanda.

Em Irecê (BA), Escola Parque Municipal
Ineny Nunes Dourado aproximou a Crise Climática do bioma caatinga

A escola possui uma trajetória que articula Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente. Com o projeto, Fernanda debateu o quanto o bioma vem sofrendo com o desmatamento, as queimadas e a expansão agropecuária. “Também discutimos o papel da caatinga no sequestro de CO₂ e a importância de valorizá-la, já que é um bioma 100% brasileiro e ainda pouco conhecido, até entre os próprios brasileiros”, conta.

Para a professora, o fato da COP acontecer no Brasil é uma oportunidade para chamar a atenção para os biomas locais e as ações de preservação que podem ser realizadas no dia a dia.

“Aqui, por exemplo, transformamos a área da escola, que antes não tinha vegetação, em um espaço verde com plantas nativas – resultado de um projeto coletivo com pais, alunos e comunidade”, completa.

Literatura e saberes da floresta

Para Beto Silva, coordenador de metodologia da organização Vaga Lume — que há 25 anos atua com Educação nos nove estados da Amazônia Legal —, o tema das mudanças climáticas também pode ser trabalhado por meio da literatura e da valorização dos saberes tradicionais.

“A forma que encontramos para subsidiar essa reflexão é por meio da leitura. Organizamos bibliotecas a serviço da comunidade e promovemos formação continuada para voluntários atuarem como mediadores”, explica.

No que diz respeito às mudanças climáticas, as leituras e rodas de conversa promovem trocas intergeracionais, quando anciãos e jovens compartilham histórias sobre como o ambiente local vem mudando com o tempo. “ Quando os mais velhos falam sobre a natureza, os bichos e as plantas de antes, e os mais jovens refletem sobre o que mudou, nasce uma consciência ambiental compartilhada”, afirma Beto.

Ainda nessa perspectiva, a Vaga Lume realiza intercâmbios por meio de cartas e outras iniciativas entre crianças e jovens da Amazônia Legal e estudantes de escolas públicas de outras regiões do país, como São Paulo. “É uma troca de perspectivas: enquanto crianças da Amazônia falam sobre a floresta e o cuidado com os rios, as de grandes centros refletem sobre o lixo e o consumo. Esse diálogo amplia o olhar sobre o planeta e sobre a diversidade de formas de viver e cuidar do ambiente”, explica.

De Belém (PA), a diretora Elizabete Evanovith, da Escola Estadual Oneide de Souza Tavares, conta que desde 2022 a instituição vem trabalhando a questão ambiental com os estudantes, com base nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O trabalho, no entanto, ganhou força em 2024 com a implementação obrigatória do componente curricular Meio Ambiente e Sustentabilidade em todas as etapas do ensino da rede estadual do Pará. 

“Tivemos formação oferecida pela secretaria de estado da Educação. Hoje, contamos com três professores atuando nessa área — um no Ensino Fundamental e dois no Ensino Médio”, conta a diretora.

Segundo ela, os temas abordados despertam grande interesse nos alunos. “Trabalhamos, por exemplo, os rios voadores da Amazônia e realizamos um júri simulado sobre as hidrelétricas, no qual há grupos que representam os impactados e os que defendem a construção, avaliando se o projeto é viável. O próximo tema será bem delicado: a extração de petróleo na Amazônia”, conta.

Sobre a mobilização das escolas em torno da COP30, ela conclui: “Estamos escrevendo a história. Minha expectativa é ver esse legado de conhecimento se concretizar e sair do papel.”

As plataformas da Cidade Escola Aprendiz utilizam cookies e tecnologias semelhantes, como explicado em nossa Política de Privacidade, para recomendar conteúdo e publicidade.
Ao navegar por nosso conteúdo, o usuário aceita tais condições.